Takanori suspirou ao se deparar com mais um sinal vermelho, já estava ficando irritado com a sorte que havia começado o dia. Já era o quinto em dez minutos. Sentado de modo desleixado no seu carro de bancos pretos, começava a entender o motivo de as pessoas preferiam andar de trem. Enquanto o sinal não se decidia por abrir, se olhou no espelho. Passou a mão pelos cabelos loiros claros e encarou seus olhos falsamente azuis. Desviou os olhos para o céu do começo da manhã, azul e sem nuvens.
Viu o sinal mudar para verde e seguiu. Acelerou o máximo que podia com o trânsito em que estava. Pela sua cabeça, apenas passava a ideia de que não chegaria no horário marcado para a sessão de fotos. Suzuki, seu chefe, ficaria chateado consigo, por sempre dormir além do que podia e elevaria outra bronca. Quando começara a ser fotógrafo daquela agência famosa, não pensava que seria tão exaustivo.
Olhou para o relógio, notando ainda ter tempo. Lembrou-se de uma rota mais curta e entrou nela. Logo seus olhos viram o grande prédio da agência. Deixou seu carro na garagem subterrânea e entrou em um elevador já no andar. Apertou o botão do sétimo andar, com um pouco de força demasiada, como se pudesse acelerar a velocidade da caixa metálica subia. Ouviu a música irritante tocando ali e entortou a boca, esperando ninguém o ver naquele mau humor. Foi quando as portas se abriram no quinto andar e o loiro já ia xingar alguma coisa quando viu seus colegas de trabalho.
- Bom dia, Ruki-kun. ? Um moreno de lábios fartos o chamou pelo apelido sorrindo, quase ao mesmo tempo em que outro moreno, de covinhas, o cumprimentava também.
- Bom dia... Aoi... Kai. ? Sorriu tentando transparecer simpatia, porém tinha conhecimento de obter êxito.
- Acabou de chegar? Dormiu demais como sempre? ? Aoi, o moreno mais alto, possuidor de lábios carnudos adornados por um acessório metálico, brincou com o loiro.
- Quando eu ouvi o despertador tocando, eu o joguei na parede. ? Disse sério.
Enfim, chegaram ao sétimo andar. Podia-se ver uma sala enorme, com vários modelos posando e propagandas feitas pela empresa. Havia mesas brancas com divisórias da mesma cor, separando as pessoas que trabalhavam ali.
- Não acredito Ruki! O despertador sobreviveu? ? Perguntou Aoi rindo, enquanto andavam por entre os corredores ladeados por mesas.
- Devia estar preocupado comigo! Quase chego atrasado. ? Fechou a cara. ? Mas se quer mesmo saber, ele quebrou.
- Nossa, Ruki, não tem outro jeito de você acordar sem ser com o despertador? ? Quem se pronunciava era Kai, perguntando em tom sério.
- Não. Só se alguém me acordar, mas agora estou morando sozinho.
- Então, arranje um jeito de parar com esse seu mau humor matutino... Se não, não vai ter despertador que aguente. ? Aoi disse e depois parou em frente a uma mesa pegando alguns papéis. ? Tem alguma sessão marcada para hoje?
- Sim. De algum modelo famoso. ? Bufou. ? E ainda por cima aqui dentro.
- Nós vamos fotografar lá fora. ? Kai disse encarando Takanori. ? Mas vai ser algum tipo de paisagem para um anúncio.
- Tentem fazer o trabalho invés de ficarem se pegando, está bem? ? Sorriu. Sentou em uma cadeira. Viu Kai corar e desviar o rosto, fingindo estar olhando algum papel em suas mãos.
- Pelo menos eu tenho alguém para agarrar, nee Ruki-kun? ? Aoi sorriu irônico, Ruki emburrou de novo. ? Você tem que esperar as ordens do Reita e só.
- Não enche o saco Aoi! - Olhou para um cartaz afixado na parede, fingindo estar concentrado.
- Estamos indo. Até amanhã! ? Falou Kai acenando.
- Até Kai-kun. ? Sorriu doce.
- E para mim? ? Perguntou o moreno mais alto.
- Me deixa em paz! ? Falou em tom de birra. Ouviu os dois morenos rindo, mas no final das contas eles sabiam que tudo era uma brincadeira.
Ruki direcionou seu olhar aos dois que saíam. Deixou as costas deslizarem pela cadeira, ficando quase deitado na mesma. Fechou os olhos e apoiou sua cabeça no encosto. A perspectiva de precisar aguentar um modelo arrogante fazia o seu mau-humor matutino se intensificar. Suspirou tentando esquecer uma irritação crescente.
Abriu os olhos observando o teto branco, com lâmpadas em fileiras, todas apagadas. Levantou-se dali e resolveu andar, se ficasse somente deitado era bem capaz de dormir de novo. Seguiu pelo caminho por onde havia acesso ao set que seria usado.
Quando estava passando por outra sala grande, percebeu a figura do chefe que por motivos desconhecidos a todos, andava com uma faixa no nariz, andando acompanhado de um loiro. Takanori sorriu e andou até os dois a passos lentos. Eles seguiam em sua direção também, até o loiro, virar os olhos para Ruki e sorrir.
- Ruki-san, esse daqui é o modelo que vai fazer a propaganda para o catálogo de fotos da loja. ? O chefe se pronunciou com um tom profissional.
Talvez não fosse um sacrifício tão grande fotografar o modelo à sua frente. Ele era o mais alto dos três. A face de traços delicados era adornada pelos fios loiros mel, em um corte desfiado e irregular. Os olhos eram de um tom castanho-chocolate, os olhos puxados sem nenhuma maquiagem. Trajava roupas informais, somente um casaco acinzentado com uma camiseta branca por baixo, jeans claros. Um sorriso malicioso bailava nos lábios em formato de coração, atitude esta que fez Ruki sorrir atrevido para o outro em resposta.
- Takashima Kouyou. ? O modelo disse abaixando a cabeça levemente. ? Prazer em conhecê-lo. ? Olhou para o menor. ? Espero que possamos fazer um ótimo trabalho.
- Matsumoto Takanori. ? Abaixou a cabeça de leve também. ? Mas como o Sukuzi-san já disse, pode me chamar de Ruki.
- Então, acompanhe o Takashima-san até a maquiagem e o cabeleireiro. ? Ditou o chefe. ? Quem vai arrumá-lo é o Miyavi.
- Ah, está bem. ? Ruki respondeu. ? Eu acompanho o Takashima-san. ? Sorriu.
- Bom trabalho aos dois. ? Sorriu, fazendo uma mesura e saindo.
- Por aqui Takashima-san. ? Apontou o corredor oposto começando a andar.
- Não precisa ser tão formal como o Akira. ? Disse seguindo o caminho indicado. ? Já que vou te chamar de Ruki... Você me chama de Uruha.
- Uruha? ? O nome lhe fez lembrar algo.
- É como me conhecem na mídia. ? Deu de ombros.
- Hm, Talvez eu já tenha visto algum trabalho seu. ? Murmurou pensativo. ? Ah! ? Olhou para uma porta. ? É aqui. ? Apontou. ? O Suzuki-san lhe mostrou o set?
- Sim. ? Acenou com a cabeça positivamente.
- Consegue chegar até lá sozinho?
- Acho que não. Aqui é cheio de corredores parecendo labirintos...
- Então eu te espero. ? Entrou olhando uma pequena sala com balcões cheios de maquiagem e produtos de beleza. Em um dos cantos, havia um pequeno sofá branco, sentado nele um tatuado com cabelo coloridos, ria com um telefone rosa na mão. ? Miyavi! ? Quase gritou, vendo o mencionado olhar de si para o loiro alto. ? O Uruha-san está aqui. Você tem a relação das roupas que serão usadas?
- Eu estou ocupado agora, te ligo depois Maya. ? Murmurou para o telefone, desligando-o. ? Sim, eu tenho a relação Ruki. ? O tatuado levantou-se sorrindo. - Uruha-san, é? ? Olhou para o modelo e sorriu.
- Prazer em conhecê-lo. ? O loiro mel sorriu malicioso. Ruki balançou a cabeça pensando que o modelo sorria daquela maneira para todos.
- Com licença. Eu vou estar lá fora... Esperando. ? O fotógrafo loiro disse, dando as costas aos outros e saindo.
Bateu a porta não querendo pensar no que estava acontecendo lá dentro. Olhou para todos os lados do extenso corredor procurando algo para se sentar. Sentou-se em uma poltrona perto dali, suspirando ao imaginar a demora para o modelo ficar pronto.
E suas suspeitas estavam corretas, estava com a cabeça apoiada no braço da poltrona e os olhos começavam a se fechar quando ouviu a porta ser aberta de repente. Assustou-se com o barulho e depois se deparou com o modelo totalmente diferente. Vestia um traje totalmente branco com alguns colares em negro. A maquiagem era bem em forte, em tons de preto e roxo. As pontas do cabelo estavam cacheadas e ele ria com o tatuado.
- Eu tenho que voltar a ligar para o Maya. Quando você vier trocar a roupa terminamos essa conversa Uru-chan. ? Sorriu o tatuado.
- Vamos. ? O menor ficou de pé prontamente, fingindo não ouvir o pequeno diálogo.
Percorreram os mesmos corredores até chegarem a uma sala ampla, cheia de refletores. Podiam se ver vários cenários, alguns simples com espaços brancos cheio de cores fortes em contraposição. Em outro tinha sofás em formatos diferentes, e em outro canto uma cozinha refinada.
- Vamos fotografar primeiro no cenário todo preto para aproveitar o contraste entre a sua roupa. ? Ruki apontou um lugar preto e pegou uma câmera em uma pequena mesa.
- Nee, Ruki-san... Quantos anos você tem? ? Perguntou o modelo, se posicionando no meio do cenário negro.
- Tenho vinte e quatro. ? Disse achando a pergunta meio repentina. ? Porque pergunta? ? A câmera em suas mãos emitiu um flash. ? Levanta mais o rosto.
- Assim? ? Seu rosto se levantou, mostrando uma face serena ? Só por curiosidade. Você é muito novo... O Akira te elogiou tanto, dizendo que você é um dos melhores fotógrafos da agência.
- Ah, obrigado. ? Sorriu. Viu o outro mudar de posição. ? Mas você não é muito mais velho do que eu...
- Eu sou um ano mais velho apenas. ? Sorriu de forma descontraída e Ruki conseguiu guardar aquele sorriso. Olhou para foto admirando como tinha ficado. Na foto um Uruha sorria, mostrando dentes pequenos semelhantes aos de uma criança, em uma pose relaxada.
O motivo de Takanori gostar de fotografia era poder guardar momentos. Poder pegar toda uma paisagem ou uma pessoa e preservá-la em um momento único. Como sempre gostara de observar as coisas ao seu redor, quando viu que uma simples máquina poderia guardar tudo, sabia que aquela seria uma paixão.
- Posso ver? ? O loiro-mel chegou perto olhando para o rosto de Ruki.
- Claro. ? Mostrou a máquina.
- Você tirou uma foto de mim sorrindo. ? Disse se referindo a que o loiro mais baixo gostara mais.
- Não gostou? ? Perguntou olhando os orbes castanhos.
- Não é isso... É só diferente. Duvido que vá para o catálogo. ? Suspirou.
- A foto está muito boa. Porque duvida? ? Questionou estranhando a negativa do outro.
- Eles não querem isso. ? Sorriu triste. ? Não querem isso. ? Apontou para a foto.
- Você tem que trocar de roupa. Quer que eu o leve? ? Mudou de assunto.
- Acho que consigo ir sozinho. ? Sorriu andando para fora dali.
Observou Uruha sair do cenário. Logo em seguida conectou sua câmera ao seu notebook, passando as fotos para o sistema. Deixou seus olhos admirarem as fotos que havia tirado há poucos minutos e surpreendeu-se com a qualidade de tais. O modelo era extremamente fotogênico, e poderia transmitir qualquer emoção requerida. Parou na foto do loiro sorrindo e imitou o ato.
Começou a ouvir passos ecoando no set, onde apenas se encontrava ele próprio além do modelo chegando. Voltou os olhos ao maior e ficou admirado com a produção. Usava uma jaqueta ? com várias tachas - aberta deixando assim, uma regata fina aparecer. Uma calça também de couro cinza, justa, consequentemente evidenciando coxas fartas. Ruki sorriu.
O fotógrafo recomeçou a fazer seu trabalho. Direcionando o modelo, fazendo flashes explodirem por todos os lados, captando as imagens perfeitas. O cenário mudava à medida que Uruha trocava de roupas, o que fez diversas vezes, como estava no contrato.
- Nee... Essa é... ? olhou para o maior ? a última roupa. ? Ruki olhou boquiaberto para o modelo trajando a roupa mais exótica da sessão. Trajava um short curto roxo ligado a uma cinta liga.
- Você gostou Ruki-san? ? Apontou para as cintas ligas.
- Eu não tenho que aprovar as roupas. ? Disse encarando as coxas roliças à mostra.
- Mas você está secando as minhas coxas. ? Sorriu malicioso.
- Não estou não! ? Sentiu um calor anormal em suas bochechas.
- Eu acredito em você Ruki-san. ? Posicionou-se no cenário de vidro. ? Gosta assim? ? Cruzou as pernas.
- É... Está bom. ? Fotografou. ? Mude. ? Ditou em relação à pose.
- Eu gostei dessa roupa... Talvez eu a compre... ? Disse, já em outra posição que também deixava as coxas em destaque.
- Com uma cinta liga? Para quê...? ? Arrependeu-se de ter dito aquilo, sentiu as bochechas corarem.
- Com certeza... Para alguém tirá-las por mim... Bem lentamente. ? Sorriu malicioso.
- Ah! ? Ficou sem saber o que dizer e continuou a fotografar em silêncio, tentando esconder o seu rubor, contudo ele entendia que o dia não estava propício para suas vontades. Depois de algum tempo murmurou ? Finalizamos. Obrigado pelo seu trabalho. ? Encaminhou-se para o notebook, conectando o aparelho novamente e observando as fotos.
- Eu gosto dessa. ? Sentiu um arrepio percorrer sua nuca ao ouvir a voz rouca de Uruha tão próxima de seu ouvido. Encarou-o, mais o maior olhava para a tela, apontando. ? E dessa também com a cinta liga aparecendo. ? Takanori sentiu o calor voltar. ? Nee, Ruki-san... Você está corando?
- Definitivamente não! ? Exclamou. Viu o outro pegar algo e logo um flash muito próximo lhe cegou por alguns segundos. - O que você pensa que está fazendo com a minha câmera? - Perguntou atônito.
- Ruki-san fica tão fofo com as bochechas coradas. - Ele sorria infantilmente com a máquina disparando flash a cada minuto.
- Me devolve isso! - Disse tentando recuperar a máquina com as fotos que considerava, no mínimo, constrangedoras.
- Que fofo! - Tirou mais uma foto. - Até parece um chibi!
- Chibi é o...! - Reprimiu o palavrão. - Me dá isso! - Tentou alcançar as mãos do maior, o qual deixava a câmera bem ao alto. Ruki tinha conhecimento da sua desvantagem em relação à altura.
- Eu te devolvo... - colocou ao alcance do menor - com uma condição. - Tirou do alcance do menor de novo. Uruha sorriu e Ruki fez uma cara emburrada.
- Que coisa infantil! O que você quer? - Perguntou cruzando os braços sobre o peito.
- Eu vim para Tóquio só por uma semana. Estou voltando amanhã para Kanagawa...
- Kanagawa? Você é de lá? ? Perguntou curioso.
- Sim. Por quê? ? Retrucou.
- Eu sou de lá também. ? Sorriu pequeno. ? Qual a condição? ? Lembrou-se das palavras do outro e balançou a cabeça rapidamente.
- Janta comigo hoje à noite. ? Disse sério.
- Jantar... Com.. Você? - Fez força para não gaguejar as palavras.
- Sim... O restaurante do hotel onde estou hospedado serve uma comida ótima. ? Balançou a câmera.
- Você vai me devolver?
- Claro. ? Sorriu atrevido.
- Então... Sim.
Pegou a máquina das mãos do modelo, o qual deu seu número e o endereço do hotel. Ruki negou veemente o pedido de Uruha de ser buscado em casa. O jantar ficou para a noite daquele mesmo dia. O fotógrafo ainda ficou minutos observando Kouyou sair do local, tentando entender o que havia acontecido e pensando em como seu dia normalmente irritante tinha se transformado naquela situação. Só muito tempo depois percebeu que a máquina estava sem o cartão de memória.
- Droga, ele ficou com as fotos!