Da sacada do prédio eu observo.
As luzes que brilham abaixo, me mostram que a cidade não dorme. Uma metrópole que prolifera o caos. Por estas mesmas luzes, como que por um chamariz, me sinto atraído e tentado a pular. Não como um suicida desesperado, mas como as mariposas, que atraídas pela luz, se jogam para a morte. Assim me sinto, quando vejo as luzes da cidade nas noites mais sombrias e frias, que me evolvem como um estranho, tentando me acolher. Mais ainda, quando, ao fitar a lua resplandecente, que de seu intenso brilho, parece por instantes, me tirar deste mundo, levando-me a outra realidade, que não essa da qual tento evadir.
Uma leve brisa toca meu rosto, trazendo-me ao mesmo tempo corforto e uma tristeza saudosista, a sensação de que não sou daqui, ou que não sou apenas esse conjunto de carne e ossos, cujo o propósito é indefinido. Seria, tudo isso que vejo, realmente uma totalidade? De qualquer forma, nada que eu faça parece ter algum sentido, e tudo que sinto e que me faz continuar a questionar a vida é nada além de pensamentos incertos e imprecisos, dos quais não posso provar nem pra mim mesmo, se são reais ou produtos de minha suspensa imaginação.
O vento bate forte agora, de modo que se torna difícil evitar o balançar de meu corpo magro, exposto como um estandarte, em pé na beira da sacada do prédio. Recuo, deixando o equilíbrio voltar, entro novamente e ao fechar a janela, olho de soslaio uma última vez para a lua enorme acima de meu ombro. Vou me deitar e esquecer de toda aquela loucura. Não há nada na morte além do vazio, e como poderia eu me deixar levar por um impulso tão errôneo, cujo significado é envolto em mistério e enigmas?
Em outras palavras, não sou um suicida desesperado, e não há nada na morte pra me confortar.