- Tem certeza de que quer mesmo me enfrentar, Toshi?
- Pode parar de disfarçar, dorosei idiota! ? Hijikata soou agressivo. ? Não precisa mais fazer seu ?teatrinho?, se passando pelo Kondo-san!
- Não há como fazer isso. As lembranças dele são minhas, assim como sua vida. Não há como desvincular a personalidade do verdadeiro Kondo de mim.
- Quer dizer que agora existem dois ?Kondos??
- Por enquanto. Porque, quando tivermos cópias suficientes, daremos um fim à ?matriz?.
- Antes que você dê fim à ?matriz?, eu darei um fim em você!
Hijikata logo partiu pra cima do dorosei com sua katana perigosamente empunhada e pronta para perfurar o adversário. No entanto, este se esquivou e, para se defender, usou também uma katana para bloquear o golpe do Vice-Comandante. Ele não se abateu e partiu novamente ao ataque, levantando a espada acima de sua cabeça e descendo a lâmina com toda a velocidade de que dispunha nos braços, mas acabou bloqueado novamente.
Aquele dorosei achava que era capaz de enganar todo mundo, mas não a Hijikata Toushirou! Não a quem conhecia o verdadeiro Kondo desde a adolescência.
O moreno novamente se pôs em posição de ataque, porém seu adversário também se posicionou da mesma forma. Os dois se lançaram ao ataque, um visando o outro, as defesas abertas, as katanas prontas para cortar o que estivesse à frente. O mais rápido conseguiria obter vantagem e, quem sabe, cortar seu adversário ao meio.
Os dois avançaram em um único impulso, um de encontro ao outro. Hijikata não se intimidava ante o porte físico de seu oponente, simplesmente ignorava tal fato. E conhecia bem os pontos fortes e fracos de seu adversário. E, pelo combate travado, supunha que seu adversário também sabia os seus pontos fortes e fracos.
Seria um combate difícil, mas ao mesmo tempo interessante e desafiador. Do jeito que o Vice-Comandante gostava, pois poderia explorar seu estilo agressivo de luta à vontade e sem medo.
*
Uma movimentação estranha chamou a atenção de Shinpachi e Kagura. O que estava acontecendo para que o Shinsengumi todo estivesse junto com Okita? Seria uma rebelião para acabar com Hijikata? Uma emboscada pra liquidar com o Vice-Comandante? Uma armadilha pra acabar com a raça do Mayora?
Os dois integrantes da Yorozuya decidiram seguir o pelotão de longe. Perceberam que eles não estavam indo ao QG, mas saindo de lá. Mas onde estavam Kondo e Hijikata? Eles teriam ficado no QG?
Algo ali estava muito estranho. Realmente muito, muito estranho.
Continuaram a seguir os homens do Shinsengumi. Algo lhes dizia que isso poderia dar-lhes uma pista do que estava acontecendo ali.
- Tudo indica que Kondo-san está ali. ? ouviu-se a voz inexpressiva de Okita, que apontava para uma estranha construção à frente.
A tal construção era completamente diferente das que existiam ali naquela região. Era moderna demais para ficar em um lugar tão à periferia de Edo como aquele, onde os prédios em estilo oriental tradicional eram bastante desgastados devido à ação do tempo. Aquele distrito parecia mais acabado do que Kabuki.
- Kondo-san, pode me ouvir? ? Sougo perguntava pelo rádio comunicador, mas sem resposta. ? Ei, gorila da bunda peluda, pode me ouvir?
*
- Ei, gorila da bunda peluda, pode me ouvir?
- Sougo...? ? Kondo reconheceu a voz inexpressiva pelo rádio. ? Onde está o Toshi? Ele está bem?
- Hijikata-san está lutando contra o tal dorosei que está no seu lugar e estamos te procurando.
- Você o deixou lutando sozinho?! Ficou maluco, Sougo??
- Na ausência do Comandante, devo obedecer às ordens do Vice-Comandante.
- O Toshi mandou você deixá-lo sozinho?
- Sim. Ele pretende ganhar tempo com o dorosei.
- Aquele dorosei não está sozinho, Sougo! ? Kondo advertiu em tom sombrio. ? Há mais um dorosei à solta. Ele está no lugar do Yorozuya!
- Entendido.
Kondo agora se desesperava pra valer. Pelo o que sabia dos planos dos dorosei, eles planejavam algo grande. Precisava sair dali, porém não encontrava o Yorozuya em parte alguma para tirá-lo também dali.
Onde diabos ele se metera?
*
Depois que conseguira sair dali, Gintoki, mesmo quase se arrastando, conseguira retornar ao Distrito de Kabuki, seu louco lar, com cidadãos dos mais variados tipos e talvez os mais estranhos de Edo. Aquele lugar tinha suas mazelas, mas era ali seu lar, era ali onde se encaixava, com o modo de vida peculiar daquele local.
Kabuki era o lugar onde ele, um homem sem quaisquer raízes, se fixara definitivamente. Fora ali que ele recomeçara sua vida pós-guerra, sua vida como um pacato ?faz-tudo?. Ali estava sua vida refeita e reconstruída de forma louca e sem-noção. Ali estava a sua vida, que tentavam lhe roubar.
Tinha que fazer algo para recuperar tudo o que conseguira ali. Ali era sua vida, o local e as pessoas que o rodeavam. Não ligava para o fato de ser apenas um Yorozuya pobretão, que sempre enrolava o máximo possível pra pagar um aluguel. Não ligava de ganhar dinheiro de vez em quando, em algumas vezes que o serviço era bem-sucedido.
Nenhum dinheiro no mundo pagava o que vivenciava até então. Após tempos depressivos de sua infância errante e do pós-guerra, descobrira que ali era seu lugar, aquelas pessoas eram de seu convívio, e seus amigos verdadeiros estavam ali, mesmo em meio a muitas brigas, confusões e bobagens. Ali estava praticamente toda a sua vida. E queriam roubá-la do albino.
Pouco a pouco, meio às escondidas, Gintoki aproximou-se do bar de Otose. Recostou-se à parede do beco onde ficava uma das janelas; estava ofegante devido ao cansaço.
Pela primeira vez, perguntava a si mesmo se alguém sentira sua falta. Espiou pela janela o movimento do bar da velha, que estava bastante calmo.
- Você pode ter até ficado mais educado, mas ainda te acho um idiota. ? Catherine dizia, enquanto servia uma dose de saquê.
O saquê foi pego por uma mão, que percorreu o caminho até a boca, que tomou um ligeiro gole e depois sorriu:
- Mudanças sempre acontecem nas nossas vidas, Catherine-san. Temos que mudar para nos adaptar e para sermos aceitos.
- Essa sua mudança da água para o vinho ainda não me convence, Sakata-san!
?VOCÊ É MESMO IMBECIL, SUA MULHER-GATO-DE-MEIA-IDADE RIDÍCULA!!?, o verdadeiro Gintoki esbravejou em pensamento, mas rangendo fortemente os dentes. ?EU NÃO SOU ASSIM!?
Teve que se conter pra não atravessar a janela e botar as mãos no pescoço daquele farsante. Não tinha condições físicas pra isso e, se conhecia a si mesmo tão bem, sabia que tinha força física suficiente pra acertar-lhe uns belos sopapos e acertar uma senhora pancada no nariz com a espada de madeira.
Conclusão: era melhor não se arriscar a ter uma briga consigo mesmo.
Mas doía lá dentro ver aquele impostor roubando tudo o que era seu. Recostou-se à parede daquele beco escuro e deixou-se deslizar para o chão frio e úmido, cedendo ao cansaço e ao esgotamento.
Com isso, mais uma vez mergulhava na inconsciência da exaustão, sem ver que alguém se aproximava dele.