O caso K.I.R.A.

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    Capítulo 4

    A letra "A" e a crônica de uma morte anunciada

    Violência

    Correu para dentro do carro e ligou o GPS, passando para o aparelho o endereço que William lhe dera momentos antes. Era impressionante como as notícias ruins chegavam logo. Aumento de salário que era bom, nada.

    Enquanto dirigia até o local do crime em uma velocidade ligeiramente acima da permitida, sua mente estava imersa novamente no caso que tinha em mãos. No começo achava que eram assassinatos comuns, mas não eram. Os envelopes e os bilhetes com poeminhas e tudo mais diziam que era o contrário. Exatamente o contrário.

    Havia um serial killer justiceiro à solta em São Paulo. Já até previa que a mídia iria explorar ainda mais esse caso. Estava com um caso que ganharia não só mais repercussão nacional, como também ganharia repercussão internacional.

    Isso não seria bom. Aumentaria ainda mais a pressão para resultados e descobertas e toda a Polícia paulista ficaria mais uma vez exposta e até mesmo fazendo sua credibilidade ficar em xeque, como sempre ficava. Outra coisa é que era a primeira vez que caía em suas mãos um caso assim.

    Mas também só caiu porque o ?especialista em casos mirabolantes? estava de licença. Uma estranha licença, diga-se de passagem. Na véspera do incidente envolvendo Klaus Ritter, Danilo Moura fora afastado de suas atividades de forma misteriosa por dois meses.

    Esse caso não era nem pra ficar em suas mãos. Ela, Karina Foster, sempre era encarregada dos casos considerados ?pequenos e sem importância?. O arrogante Danilo ficava sempre se achando após encerrar os casos mais difíceis. Parecia um pop star do momento.

    Não o invejava. Nem tinha motivos para isso, o homem era um chato de galocha. Muito profissional, mas era um daqueles colegas chatos de serviço.

    Ele iria adorar pegar esse caso se não estivesse afastado de suas atividades. Com certeza iria adorar estar diante dos holofotes.

    Por que estava pensando no Danilo? Pra ser sincera, nem sabia ao certo a razão.

    ?Ah, era ele que tava investigando sobre o ?Roninho?!?, lembrou.

    Seguiu atentamente os comandos do GPS, até chegar ao local. Ficou literalmente de boca aberta ao ver o local onde estacionara.

    - Esse filho da mãe tinha uma mansão no Morumbi? ? perguntou incrédula.

    *

    Não havia dúvidas. Aquele cadáver, antes de pele bronzeada, realmente pertencia a Roney Santana, o ?Roninho?. Não era necessário ter dúvidas quanto a isso, pois era fácil de reconhecer sua peculiar tatuagem na mão esquerda, cujo dorso era recoberto por um desenho representando apenas os ossos da mão. Um trabalho bastante artístico, que facilitava o reconhecimento do traficante morto, cujo porte físico era semelhante ao de um lutador de MMA.

    O cadáver ainda estava dentro da banheira, parcialmente imerso em uma água tingida de vermelho e com alguma espuma. Flashes das câmeras dos peritos pipocavam sem parar, enquanto os policiais passavam a fita amarela na porta do suntuoso banheiro do megatraficante.

    Quem diria que Roninho seria pego...? E no mínimo Danilo ficaria revoltado, pois ele queria pegar o sujeito. Toda vez que mencionava Roninho, o detetive deixava escapar um tom de voz que a fazia desconfiar que parecia que era algo pessoal.

    A menos que ele tivesse matado o traficante. Espera aí, o que tava pensando? Aquele idiota não chegaria a isso... Será que chegaria?

    Será que ele chegaria a ser um assassino em série para fazer a justiça com as próprias mãos? Provavelmente sim, afinal ele teria acesso às fichas dos criminosos.

    Olhou atentamente para o cadáver que ainda estava com os olhos arregalados e parecia exprimir completo pânico no momento em que fora atacado. Mas quem o atacara? E como?

    Viu algo como um cabo de plástico para fora da água tingida de sangue. Era uma faca, que estava cravada no peito. Não havia impressões digitais nem nada que servisse de pista para ao menos tentar identificar o assassino.

    Esse era o padrão do assassino em série. Nenhuma pista que levasse a ele. Nem mesmo seus poemas espirituosos lhe forneciam uma pista clara.

    Por que esse infeliz não cometera nenhum erro pra facilitar sua vida num caso tão intrincado?

    Seu ?Kira? era esperto demais para seu gosto.

    *

    ?Encontramo-nos de novo, não é, minha cara?

    Sua cabeça ainda é tomada pela confusão.

    Ao que parece, está longe de uma solução,

    Pois nem uma pista você encontrara.

    Este ciclo estou prestes a fechar,

    Só me falta encontrar a letra ?A?.

    Karina, preste muita atenção,

    Pois agora pesarei a minha mão.

    Seu maior erro foi o de tentar me investigar,

    Pois você deveria é me ignorar ou me apoiar.

    Se a polícia inútil não colaborar,

    Eu precisarei um a um de vocês eliminar.?

    - Droga...! ? Karina grunhiu. ? Esse filho da mãe já começou a me dar nos nervos!

    - Calma aí, Karina! ? William disse. ? Não vai amassar a prova!

    Karina murmurou um pedido de desculpas e passou a William o poema deixado perto da banheira onde estava o cadáver de Roninho. E o desgramado do ?Kira? estava desafiando abertamente a polícia e ameaçando a todos da instituição em caso de não-colaboração.

    Era hora de ficar de olho em tudo. Até mais do que de costume.

    Mais uma vez, Karina estava imersa em seus próprios pensamentos. ?Ciclo?... Letra ?A?... ?Fechar o ciclo?...

    - Ele está avisando o próximo assassinato, William. ? ela disse de repente.

    - O quê?

    - Exatamente. Ele disse que está terminando o ciclo e se afirma ?Kira?, certo?

    - Entendi, Karina. Mas o que seria esse ciclo?

    - Repare nas iniciais das vítimas até agora. ?K?, de Klaus Ritter, ?I?, de Isabel Del Prado, ?R?, de Roninho... E a próxima vítima terá o nome começado com ?A?.

    - Forma a palavra ?KIRA?. Isso poderia ser uma espécie de ?cartão de visitas? do nosso assassino?

    - ?Poderia ser?, não. É um cartão de visitas. E o ?novo ciclo? eu não sei se vai ser igual a este, ou se vai ter outro padrão. Mas temos que deter esse assassino, seja quem ele for, porque não vai demorar muito para o pessoal dos Direitos Humanos exigir da gente uma solução.

    - Isso é verdade. Como disse o Secretário de Segurança Pública, é uma questão de honra para a Polícia. ? William concluiu.

    - Certamente é uma questão de honra. Principalmente pra mim, que estou à frente do caso.

    *

    Dia seguinte. Karina entrou na sua sala na delegacia e estranhou que William não tivesse aparecido. Em dois anos como colegas de profissão, não era normal ele se atrasar tanto. E quando se atrasava, justificava.

    Pegou o telefone celular e ligou para William. Aguardou alguma resposta por longos momentos, mas não conseguiu o que esperava. Fez mais algumas tentativas, mas sem sucesso.

    Teria acontecido algo com William?

    Experimentou ligar para a esposa de William. Ele era casado com Tânia e tinha uma filhinha de um ano com ela. Karina tinha amizade com a família antes mesmo de saber que o perito seria seu colega. A amizade com Tânia vinha desde que eram colegas no Ensino Médio.

    Aguardou alguns instantes, até que conseguiu ser atendida:

    - Alô? ? uma voz trêmula atendeu.

    - Tânia? O William está por aí?

    - Karina... O William... ? a voz de Tânia foi entrecortada por um soluço.

    A detetive mordeu o lábio inferior, pressentindo que havia acontecido algo com seu colega. Engoliu seco, respirou fundo e perguntou:

    - O que aconteceu com ele?

    - O William... Ele amanheceu morto...!

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