Mesmo depois de uma semana, ?Kira? e ?Killer? continuavam a ecoar na sua cabeça. Continuava pensativa na questão das duas palavras terem pronúncia semelhante. Será que uma se originava da outra e tinha significado semelhante?
Era uma pergunta ainda recorrente na sua cabeça e o caso não andava como ela queria. Não se achava nenhuma evidência além das que apontavam para uma morte por envenenamento gerada por um projétil com veneno à base de digitalina dentro, no caso de Klaus Ritter, e para a morte por uma bala de calibre 38 de Isabel Del Prado. Fora isso, nem sinal da zarabatana ou do revólver empregados no crime. Nem mesmo qualquer outra evidência da presença do assassino na cena do crime.
Pra piorar, constatara que os vídeos das câmeras das proximidades dos locais dos dois crimes não filmaram as ocorrências. Os dois assassinatos foram feitos fora do alcance das câmeras. Ou seja, a investigação praticamente não andou. Teria sido apenas sorte, coincidência, ou teria sido proposital a execução dos crimes em pontos cegos das câmeras de segurança?
Por mais que examinasse exaustivamente as fotos dos locais dos crimes, não conseguia encontrar evidências. Talvez estivesse exigindo muito de si mesma.
Assim, decidiu aproveitar seu dia de folga para passear por aí. Quem sabe, com a mente mais arejada, poderia retomar a investigação daquele quebra-cabeça e descobrir algo que não percebia antes...
*
- Nem parece que estamos em São Paulo... ? Karina murmurou enquanto olhava por onde estava andando. ? Dá a impressão de que estou na China ou no Japão.
?Dã... Claro, estou no bairro da Liberdade!?, pensou. ?Uma boa oportunidade de conhecer onde a Catarina trabalha.?
A detetive sabia o nome da loja e foi procurando até encontrá-la. Quando adentrou o estabelecimento, parecia ter definitivamente entrado num daqueles cenários de TV retratando lojas de revistas em quadrinhos. A diferença é que ouvia música japonesa e via não gibis, mas muitos e muitos mangás e artigos da cultura pop nipônica.
- Bom dia! Em que posso ajudar? ? Catarina saudou a prima em tom de brincadeira.
- Aproveitando a folguinha pra passear. Aí resolvi conhecer estes lados. ? Karina respondeu.
- Caso estressante esse que você pegou, hein? ? Catarina cochichou.
- Nem fala. ? Karina respondeu no mesmo tom. ? Até agora não consegui tirar duas palavras da minha cabeça. Não saem nem com reza brava.
- Que palavras?
- ?Killer? e ?Kira?.
- Tá com uma grana a mais na bolsa?
- Hã? Por quê?
- Porque tenho a impressão de que se você conhecer um mangá chamado ?Death Note? vai entender essa palavra ?Kira?. Além disso, a coleção tá uma pechincha!
- Será que uma coleção de mangás vai mesmo me ajudar?
- A julgar pelos tais bilhetes e pela menção a ?Kira?, acredito que sim. Já li esses mangás, mas já faz muito tempo. Tenho a impressão de que pelo menos uma pista a gente consegue.
- Catarina, não vou gastar essa grana à toa, vou? Ou é papo de vendedora pra ganhar comissão?
- Caso não encontre uma pista, pelo menos tem um bom entretenimento.
- Quem cochicha o rabo espicha. ? uma voz masculina se fez ouvir atrás das duas. ? Catarina, vamos largar de fofocas.
As duas se endireitaram de repente e olharam para trás. Deram de cara com o dono do estabelecimento, Takehiro Iwata. Obviamente, estava com expressão de reprovação no rosto.
- Eu estava convencendo a minha prima a levar a coleção de mangás ?Death Note?. ? a jovem justificou com expressão de poucos amigos.
- Não enrole com uma única cliente, Catarina. Não esqueça que há outros que você deve atender.
Catarina olhou para trás, procurando por todos os lados alguém além de Karina e do patrão dentro da loja. Não havia uma viva alma olhando os mangás, as revistas, ou experimentando artigos de cosplay. Encarou Takehiro com expressão cética, enquanto o vento soprava dentro do salão.
- Não há outros clientes. ? respondeu.
Karina viu o clima entre patrão e funcionária ficar pesado. Mais um pouco poderia ver saindo faíscas dos olhos de ambos. Takehiro sempre implicava com Catarina, mesmo ela sendo esforçada. Catarina não se dava ao trabalho de esconder que não morria de amores pelo patrão.
Para evitar qualquer catástrofe, a detetive disse:
- Vou levar. Quanto é a coleção ?Death Note??
*
Realmente aquela coleção de 13 volumes do mangá Death Note fora uma pechincha. Havia saído mais barato do que pensava. Abriu a sacola em casa e, movida pela curiosidade, já pegou o primeiro volume para ler.
?É uma história bem intrigante.?, pensou. ?Mas no que isso vai me ajudar??
Um adolescente de 17 anos buscando um mundo ideal... Um caderno que pode tirar a vida das pessoas quando o nome é escrito... E os criminosos eram mortos pelo protagonista.
Engraçado como se assemelhava ao seu suspeito... Um justiceiro como aquele Light Yagami dos quadrinhos.
Ao chegar a uma determinada página, uma frase lhe chamou a atenção:
?Kira... Provavelmente advindo de ?killer?, ?matador? em inglês.?
Karina se deteve nessa frase proferida por Light no mangá e logo conseguiu concluir que ?Kira? era o mesmo que ?Killer?. Valeu a pena gastar uma graninha com a coleção. Não que iria se guiar por isso, mas era algo que lhe fornecera uma importante pista.
Agora as peças começavam a se encaixar e em sua mente já havia o esboço do suspeito daqueles dois assassinatos. Desde então, decidiu nomeá-lo como ?Kira?. Ele seguia o padrão de assassinar criminosos de grande repercussão na mídia e era um engraçadinho metido a poeta. E agora poderia deduzir que o assassino era fã de Death Note.
Fã até demais a seu ver. Como é que alguém seria louco o bastante para imitar na realidade uma mera ficção de entretenimento?
?No mínimo esse sujeito é perturbado?, pensou.
Nisso, seu telefone tocou. Era William.
- Alô, William. Pode falar.
- Karina, desculpa interromper sua folga, mas o que tenho a dizer pode te interessar. Houve mais um assassinato agora pouco.
- De começo, o que acharam com a vítima?
- Posso te adiantar que há mais um envelope com mais um bilhete junto ao cadáver. Desta vez, com a letra ?R?.
- Qual o nome da vítima?
- Roney Santana. O ?Roninho?, traficante mais procurado do estado.
- Espera aí... Conseguiram pegar esse cara antes da gente?
- Isso mesmo. O tal justiceiro conseguiu ser mais esperto que a gente.
- Pode me passar o endereço do local da cena do crime?
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