O caso K.I.R.A.

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 2

    A letra "I" e a canção do assassino

    Violência

    Como era de se esperar, o local já estava devidamente isolado, afastando um pouco os curiosos da cena do crime. Ali jazia um corpo inerte, caído de lado e, próximo dele, uma poça de sangue. O corpo em questão era de uma mulher de meia-idade, cabelos escuros que estavam ajeitados em um coque agora desalinhado, olhos castanhos agora arregalados e se vestia de forma impecável, de terninho verde e camisete branca. Na testa, uma perfuração que dava origem ao sangue empoçado no local. Evidentemente, a mulher fora morta instantaneamente com um tiro na cabeça.

    Karina deu sua ?carteirada?, mostrando o distintivo da Polícia para poder passar por entre os curiosos. Passou por baixo das fitas de isolamento e aproximou-se do cadáver, o qual reconheceu: Isabel Del Prado, vereadora afastada do cargo por comprovadamente participar de um ?mensalão municipal?. Viu que os peritos haviam deixado tudo como estava até que ela chegasse e achou ali ao lado do corpo mais um envelope.

    O envelope era igual ao primeiro, nos mesmos moldes. A diferença, por enquanto, era a letra ?I? colada nele. Deixou para abrir o envelope em sua sala na delegacia, assim que William terminasse de periciá-lo.

    E, claro, depois disso, teria que encarar a imprensa, visto que era a detetive responsável por desvendar o caso. Era a parte mais aborrecedora de um caso: lidar com a imprensa. Mas já que era pra mostrar à população que estava realmente trabalhando, era um ?mal necessário? que tinha que suportar.

    Depois de longos minutos fazendo entrevista coletiva ao lado do chefe de Polícia e do secretário de Segurança Pública, Karina por fim pôde respirar em paz por uns instantes. Enquanto isso, as suas teorias começavam a querer se confirmar na sua cabeça.

    Será que estava certa em seguir a linha de investigação para encontrar um provável serial killer? A julgar pelos envelopes, sim. Os assassinatos eram diferentes, mas tinham um mesmo padrão. As duas vítimas foram mortas de maneiras diferentes. Uma, por envenenamento proveniente de um projétil pontiagudo que possivelmente fora atirado de uma zarabatana ? por mais que a teoria soasse bizarra. A outra foi executada com um tiro na cabeça. Nenhum vestígio além dos envelopes foi encontrado no local de início. Nenhuma impressão digital, nenhuma evidência a mais.

    Restava apenas analisar os envelopes com bilhetes, os projéteis que mataram as duas vítimas e examinar minuciosamente cada foto tirada de cada pedacinho dos locais onde ocorreram os crimes, bem como procurar conseguir registros de câmeras próximas.

    Karina esperava ansiosamente que William aparecesse com o relatório mais recente da primeira vítima ? Klaus Ritter ? e com o relatório inicial do que foi desvendado até agora com relação ao assassinato de Isabel Del Prado. Enquanto esperava, usava seu smartphone para ver como os sites de notícias estavam abordando os desdobramentos daquele estranho caso. O interessante era ver as entrevistas de especialistas descartando ou não a ligação entre os crimes.

    Não se deixava guiar por deduções de outros, até porque os envelopes e as circunstâncias apontavam fortemente para uma ligação entre os dois crimes. Essa ligação só precisava ficar mais clara. Do contrário, não passaria de uma infeliz coincidência.

    William apareceu e logo passou o bilhete misterioso às mãos de Karina, que leu e releu atentamente seu conteúdo recortado e colado, da mesma forma que o anterior:

    ?Estou destinado a limpar a imundícia,

    Para no Brasil e no mundo ser a justiça.

    Minha querida detetive, a Polícia

    Não tem pra pegar os bandidos aquela malícia.

    Julgarei a todos, de forma inclemente,

    Com mais eficiência que essa Justiça demente.

    Preste atenção, minha cara Karina Foster,

    Pois uma bobagem você pode cometer.

    Encare os fatos, Karina Foster,

    Pois esse jogo você vai perder.

    Pois a minha foice de Kira ceifará

    O que a fraca justiça brasileira libertar!?

    - Tá mais do que na cara que esse tal ?Kira? é um metido a justiceiro. ? Karina disse. ? E se acha um grande poeta.

    - Deu pra notar. ? William concordou, sem desprender os olhos verdes do referido poema. ? Esse sujeito está querendo brincar com você.

    - Não tenho dúvidas, agora que li esse poema... Ou esse arremedo de poema.

    *

    Aquele poema, como o anterior, a incomodava. Mas desta vez era bem mais, pois era dirigido justamente a ela. Pelo jeito, esse ?Kira? estava começando a ficar incomodado e queria aparecer, coisa que Karina não queria que acontecesse.

    Os crimes já tinham repercussão demais, mesmo sem ligação um com o outro. Não queria deixar que a mídia soubesse e deixasse a população em pânico. Mesmo que esse serial killer tendesse a matar apenas criminosos, o medo seria generalizado. A população paulistana não precisava de mais um motivo pra ter medo, já tinha o bastante com os assassinatos frequentes nas madrugadas da metrópole.

    ?Minha querida detetive, a Polícia

    Não tem pra pegar os bandidos aquela malícia.?

    ?Ok, agora é pessoal.?, a detetive disse em pensamento. Quem esse metido a poeta achava que era? Se o governo era mão-de-vaca pra dar recursos e segurança para os policiais trabalharem, como esperar que não morressem policiais, detetives e outros envolvidos com a segurança pública? Isso sem contar com os corruptos no meio, que atrapalhavam tudo.

    Além de metido a poeta, aquele sujeitinho era muito metido a besta e a sabe-tudo.

    ?Julgarei a todos, de forma inclemente,

    Com mais eficiência que essa Justiça demente.?

    Era arrogância demais em um poema só. Agora o sujeito se dizia o juiz, o gostosão que decidiria o destino de suas vítimas. Como um ?juiz do tráfico?. Seria esse tal de ?Kira? um traficante executando traidores?

    Enquanto dirigia seu Gol azul em meio à típica chuva de São Paulo, pensava em cada verso, em cada dedução.

    Mas nenhum crime cometido pelas vítimas parecia ter ligação com narcotráfico. Assim como os versos não pareciam ?teatrinho? pra enganar quem estivesse investigando. Por mais que tentasse pensar no contrário, estava quase certa de que tinha em suas mãos um caso envolvendo realmente um ?justiceiro?.

    ?Preste atenção, minha cara Karina Foster,

    Pois uma bobagem você pode cometer.?

    Impressão sua ou isso soava como ameaça? A princípio, sim. Como os versos finais insinuavam a mesma coisa. Era provocação e ameaça ao mesmo tempo.

    Reduziu a velocidade do carro, até parar em um congestionamento. Para não entediar ali, ligou o player do seu carro, que começou a tocar ?The killer?s song?. Quando ouviu a primeira parte da música...

    I Love

    The killer song, the song

    Of underground

    I Love

    The killer song, the song

    Of underground

    I Love

    The killer song, the song

    Of underground

    I Love

    The killer song, the song

    Of underground

    ... Sua mente ficou com a palavra ?Killer? gravada. Primeiro, ?Kira?, depois, ?Killer?. Experimentou pronunciar as duas palavras. Primeiro, pronunciou ?Kira?, em seguida arriscou um inglês bem carregado e pronunciou ?Killer?. Repetiu as duas palavras da mesma maneira em meio ao congestionamento que não andava de jeito nenhum.

    Abriu o porta-luvas do carro e o revirou até encontrar a cópia daquele primeiro poema do ?justiceiro?.

    ??Killer?, assassino, matador,

    Não importa o que digam que sou.

    Sou ?Kira?, o ceifador,

    E entrando em ação agora eu estou.?

    Teve a sensação de que as duas palavras estavam realmente ligadas, mas algo lhe dizia que não era só pela pronúncia...

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