O ecoar do desespero

O céu da tonalidade azul foi ficando alaranjado, um dos pilares do Jardim foi morto e como Hiver suspeitou ele teria que matar um a um. De uns tempos ele foi sendo dominado por Id, tendo seu ego quase totalmente extinto. O ar do lugar começou a ficar denso, e o homem se perguntava se tinha realmente pessoas morando ali. Risadas podiam ser ouvidas por toda a extensão do Jardim, apesar que ninguém sabia de onde estava vindo.

No interior da caverna, Elyse ria freneticamente enquanto observava El confusa. Ela estava com as mãos na cabeça e os dedos entrelaçados nos cabeços, com força ela fechava a mão e puxava os cabelos. Seus olhos estavam arregalados, lágrimas escorriam e ela estava ofegante tentando puxar o ar que não vinha. Estava desesperada, aquela outra boneca psicopata estava torturando ela. Mas como? Elyse não mexia um dedo se quer. Tortura psicológica, era isso que a outra estava fazendo, plantando enigmas na cabeça de El, fazendo ela duvidar de tudo que acreditava ser verdade. Ela era real?

- Por que não vai embora? ? indagou Elyse com a voz sombria ? Ninguém te quer aqui.

- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH !!!? El gritou tampando os ouvidos. Por que ela não a deixava sair dali? ? Você é louca me deixe sair daqui!

- Eu? Louca? Quem surtou foi você, não eu.

?Quem surtou foi você, não eu.? Tais palavras ecoaram na mente de El como um badalar de um sino. Ela tinha razão, a outra não fez nada, aparentava não fazer nada. Aquela estranha caverna que estava deixando ela assim, o fato de não conseguir ir embora, o sangue escorrendo. A estranha umidade, o barulho de água pingando tudo estava enlouquecendo a boneca. Esta, caiu no chão. Ela estava no fundo da armadilha de contradição de Id. Mordia o lábio inferior com tanta força de abriu uma ferida. O sangue escorria pelo seu queixo.

- Até quando vai alimentar sua libido e fugir do mundo real? Hã? Ufufufu

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Do outro lado do Jardim, mais mariposas foram aparecendo. Uma a uma iam se agrupando e transformando-se em uma massa de carne, até dar forma a um corpo. Ele olhava com atenção a sua volta procurando alguma coisa, ou alguém. Sabia que a criatura que vivia ali não tinha uma forma definida, estava incompleto. O homem então rodou criando uma massa de ar que levantava as folhas e junto delas, a criatura sem forma. Hiver sabia que era possível terminar de fazê-la. A pseudo ilusão foi criando forma, não era algo parecido com um humano e sim uma besta negra. Ela choramingava de cabeça baixa, seria alegria ou tristeza?

Sentiu no ar o cheiro de morte, o cheiro de queimado. Mostrando suas novas presas, a besta arrancou na direção do homem. Pulou com a intenção de morder a cabeça de Hiver, só que este era mais esperto. Colocou o braço na frente da cabeça e a criatura mordeu, a dor era enorme, mas o homem não demonstrou fraqueza. Balançou o braço jogando a besta longe. Gotas de sangue caiam no chão, criando uma pequena poça. Novamente a criatura investiu contra ele que, por sua vez desviou.

- Não irei perder meu tempo com uma criatura primitiva. ? desdenhou ? Morra...

Uma bola de fogo desceu dos céus caindo em cima da besta. Esta soltou grunhidos de desespero e sofrimento, estava queimando. O ambiente em volta estava empestado com um cheiro ruim, cheiro de putrefação. Uma gosma preta se formava onde queimava, as labaredas eram altas e formavam um desenho surreal.

Sobrou apenas uma mancha preta no gramado queimado.

Hiver caminhou até a mancha, abaixando-se para tocar o chão e quando os dedos chegaram perto ele transformou-se em milhares de mariposas.

O céu ficou mais escuro e uma pequena rachadura apareceu no céu. Era tão pequena que tinha que olhar com muita atenção para nota-la lá.

Uma mulher muito bonita descansava debaixo de uma árvore. Seus cabelos loiros e olhos azuis chamavam a atenção de qualquer um. Trajava um vestido branco sem mangas, em seus braços várias ataduras escondiam as marcas da maldição. Ela respirava com dificuldade, estava morrendo como tudo ali. Gemia de dor, crava as unhas na terra e tentava fechar as mãos. Arqueava o corpo e levava a cabeça para trás.

Uma sombra apareceu ao lado dela, o homem vestindo uma capa e usando uma máscara de cabra causou desespero na mulher. Ela não conseguia se mover, seu corpo não respondia aos seus comandos. Hiver apenas olhou para ela e as ataduras sumiram, assim mostrando as marcas negras. Eram arredondadas e criavam uma espécie de borboleta macabra e derretida. A marca foi ficando vermelha, corroendo a pele da mulher. Sangue jorrava de sua boca, uma coisa saia da sua boca lentamente. Uma borboleta de asas vermelhas saiu da boca da mulher que gemina de dor. Seus braços estavam corroídos e sua barriga murchava, como se não tivesse mais nada ali dentro. Com os olhos arregalados a mulher morreu e a borboleta majestosamente levantou voou.

Voando rápido, como se tentasse fugir de algo ela caiu no chão. Suas asas estavam quebradas, seus grandes olhos agora estavam sem vida e ela fundiu-se com a terra.