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? Vamos. ? As duas avançaram até a cantina. Entrando na cozinha, foram o mais rápidas que conseguiram sem fazer barulho. Quando Francesca foi alcançar o isqueiro no bolso do casaco, sentiu suas mãos suando e o deixou escorregar para baixo do balcão.
? Merda! ? balbuciou braba. ? Você consegue alcançar Esme?
? Acho que sim. ? Esme abaixou-se e enfiou o braço para de baixo do balcão, sem sorte, pois seu braço era muito curto. ? Não estou conseguindo alcançar, Franky! ? Esme estava quase entrando em desespero.
? Esme, calma. Eu vou pegar. ? Francesca olhou em volta, tinha uma faca com o cabo cumprido. Francesca a alcançou e abaixou-se. Sentiu o isqueiro tocar a ponta da faca. Puxou o isqueiro e o pegou em mãos. Quando foi soltar a faca um rato passou de baixo do balcão da pia e ela assustou-se. Engoliu o ar e apertou a mão na faca. Sangue manchou o chão branco. Ela mordeu o lábio inferior.
? Ah meu Deus Franky! Você está bem?
? Sim. Vamos de uma vez. ? Francesca continuou segurando a faca involuntariamente. Ela ascendeu o isqueiro e colocou fogo em guardanapos de pano e papel. Juntou tudo o que tinha de papel e largou em cima de uma das mesas de madeira da cantina. O alarme de incêndio soou e elas correram para fora. Dobraram no corredor que dava para os banheiros. Não havia ninguém lá. A visão de Franky estava nublada, mas ela continuou correndo. As duas ouviram passos rápidos e entraram no banheiro. Franky deixava um rastro de sangue por onde passava. Esme abriu a porta do banheiro e entrou logo atrás Franky, que fechou a porta e largou a faca no chão. Sua mão esquerda, que havia sido cortada estava tremendo e agora que ela começou a sentir realmente a dor.
? Franky, eu acho que...
? Acho que ninguém nos viu entrar aqui. ? Francesca estava ofegante. Mais ofegante pela dor que sentia do que por ter corrido.
? Franky... ? Francesca abriu os olhos que haviam permanecido no corte por um bom tempo e depois haviam se fechado. Quando ela os abriu, viu aquela figura de uniforme parada e encostada na parede, com os braços cruzados e o cabelo lambido para trás.
? Mas eu sabia Mcfitz! Sabia que você estava armando alguma coisa. ? os olhos de Francesca abriram-se como se fosse duas bolitas. Esme recuou até bater de costas na porta.
? Por favor, nós só estamos fugindo do fogo. ? disse Esme.
? Não! Eu sairei daqui de qualquer forma! ? Gritou Francesca pegando o sarrafo das mãos de Esme e prendendo-o na porta para que ninguém de fora conseguisse entrar.
? Ah, então você arrastou essa pobre aluna para a decadência, Francesca? Bela cena de filme, não? A típica adolescente revoltada que leva os outros para o caminho errado.
? Cale a sua boca. Deixe-me passar!
? Por onde? Por essa janela? ? ela olhou para trás e riu. ? Só por cima do meu cadáver.
? Você está sozinha e nós somos duas.
? Acho que sua amiga está tão apavorada que não é capaz de levantar um dedo sem fazer xixi nas calças, Francesca. ? Franky olhou para a amiga que estava imóvel segurando a mochila nos braços. Francesca sentia-se tonta, mas deu alguns passos para frente. ? Está sentindo dor? ? a inspetora segurou o cassetete em uma das mãos e a arma de choque em outra. Francesca não conseguia pensar no que fazer. Uma idéia súbita lhe veio à mente, até que ela pegou a mochila de Esme e tocou na cara da inspetora.
? Anetta! ? ela gritou e se jogou para cima de Anetta que jogou a mochila longe e apertou a arma de choque contra a barriga de Francesca.
Francesca caiu no chão com espasmos. A cara era de dor, mas ela tentou se levantar quando a inspetora a virou no chão, de costas para cima e prensou sua cabeça contra o chão frio.
? Bom, muito bom, mas acho que não foi desta vez, querida. ? Francesca cuspiu sangue e fechou os olhos. ? Não. Você ainda não vai desmaiar. ? Anetta a segurou pelos cabelos castanhos e a virou de barriga para cima. Segurou a mão cortada e apertou o corte com o dedão. Francesca gritou de dor, enquanto a inspetora ria alto.
? Me solte!
? Você acha que isso dói? ? ela apertou mais fundo o corte que jorrava sangue. ? Acho que você não sabe o verdadeiro sentido da dor. Acha que só porque é a revoltadinha daqui conseguirá passar por mim? Nunca! Nunca ninguém conseguiu. Porque uma criancinha conseguiria?
? SUA BRUXA! ? gritou Esme. Tanto Francesca quanto Anetta esqueceram-se de que a menina estava ali. Anetta e Franky olharam para Esme ao mesmo tempo. A cabeça de Francesca parecia estar oca. Os barulhos de sirenes dos bombeiros pairaram em seus ouvidos como um som quase mudo e ela não conseguia ouvir o que estava acontecendo em volta. Sua visão estava turva, mas ela viu quando Esme jogou-se contra Anetta cortando-lhe a face com a faca que reluziu. Francesca piscou forte e sua visão enfim, ficou mais nítida. Anetta pulou para longe de Franky que se jogou para o lado. A faca que antes esteve na mão de Esme, estava em seus pés. Anetta foi em direção a Esme. Com sangue manchando as vestes verde-musgo e a pele da bochecha que pendia do rosto. Ela segurou o pescoço da menina que indefesa se debatia. Esme, ao tentar desvencilhar-se das mãos de Anetta, enfiou as unhas no corte da bochecha e rasgou ainda mais, mas pareceu que a mulher só ficou ainda mais voraz. Francesca levantou-se cambaleando e juntou a faca. Estava muito tonta, mas ainda tinha noção de espaço. Quando ela percebeu que Anetta não havia a visto levantar, abraçou Anetta com um braço, que comprimiu o abdômen ao sentir a faca afundar-se na carne rígida de sua barriga. Anetta fez uma cara de dor e soltou Esme que começou a tossir. Ela virou-se para Francesca que deixou a faca enterrada na barriga da mulher e correu em sua direção. Quando ela estava próxima o bastante, Francesca esticou o braço e acertou a faca, fazendo com que entrasse mais fundo na carne de Anetta que olhou para Francesca com um olhar de "você pode ter ganhado esta batalha, mas não ganhou a guerra!". A mulher abriu um sorriso sangrento e tossiu expelindo sangue na face de Francesca que permaneceu imóvel olhando até que Anetta caiu desmaiada no chão. Francesca libertou-se daquela visão e correu até esme, que desnorteada, olhava para o corpo caído da inspetora.
? Você está bem?