Hospital
Capítulo único
A cor clara do cômodo irritava o homem ali presente, que preferia cores escuras; o branco do local, na verdade, irritava qualquer um que entrasse.
O cheiro de remédio causava ânsia de vômito, um cheiro tão intrigante, irritante. Embora aquele lugar salvasse pessoas, elas tendiam a se afastar, ignorar o local; encarar aquelas macas que um dia alguém gritou de dor causava aflição nas pessoas, afinal, quantos fugiam dali? Você já deve ter fugido dali!
Deve ter dito que estava bem e que não era necessário te levar ao hospital. Porque ele é um lugar bom, mas também é um lugar ruim. É lá que você pensa em estar quando não se sente disposto, quando sente dor.
Naquele momento Kaname sofria pela cor do local, pelo cheiro que emanava e mais ainda pelo motivo de estar ali. Ver sua amada deitada naquela maca, saber que agulhas perfuraram-lhe o corpo; o rosto pálido, a respiração lenta, tudo causava-lhe aflição.
Os aparelhos apitando lentamente pediam que as grandes mãos do homem lhe quebrassem com uma fúria não contida, mas tudo que ele podia fazer era segurar carinhosamente a mão pequena e pálida de sua querida Yuuki e suspirar. Se sentia incompetente por não conseguir fazer nada para tirá-la dali.
? Meu amor, melhore logo ? sussurrou deitando a cabeça na maca; estava exausto, fazia mais de um mês que não conseguia dormir, a preocupação com Yuuki era maior.
Beijou as costas da mão de sua noiva e sorriu triste, a aliança banhada em ouro branco estava intacta, brilhante e chamativa como era quando a comprou.
?Ka-Kaname? ? um sussurro baixo pôde ser ouvido, o rapaz levantou o rosto rapidamente para fitar aqueles olhos doces lhe fitando calmamente.
? Yuuki! ? seus lábios se curvaram em um sorriso, era pequeno, mas era um sorriso.
Estava emocionado, uma fina lágrima escorreu de seus olhos, tamanha era a alegria em ver aqueles olhos que tanto amava abertos.
? Não chore, meu amor ? a voz dela era baixa e fraca, ergueu a mão lentamente e pousou sobre o rosto pálido do noivo, ele fechou os olhos aproveitando a carícia.
Sentindo que a mão dela perdia as forças, colocou a sua mão sobre a pequena de Yuuki, mantendo-a no mesmo lugar.
? Por que está com tantas olheiras, querido? ? Perguntou ela, seu dedo indicador deslizando sobre a roxidão localizada em baixo das esferas castanhas meio avermelhadas do homem. ? Não anda dormindo bem?
? Se não ando dormindo bem? ? perguntou calmamente, ela era tão ingênua. ? Desde que você sofreu o acidente, não consigo pregar os olhos! ? assumiu tomando a pequena mão que jazia em seu rosto para si, beijando demoradamente todos os cinco dedos e ainda deu uma pequena mordida na palma da mão.
Yuuki deu um risinho fraco que deixou o homem satisfeito, fazia tanto tempo que não ouvia aquela risada tão melodiosa, que soava como música aos seus ouvidos.
? Venha ? ela lentamente se arrumou um pouco para o lado e bateu a mão no espaço que sobrou, sabia que era errado, mas queria senti-la novamente em seus braços.
Deitou de lado e puxou a mulher que tanto amava lhe abraçando, se esticou e puxou uma coberta que se encontrava na poltrona branca, cobrindo os corpos lentamente, para logo depois envolver sua amada em seu abraço e senti-la apoiar a cabeça em seus braços.
? Não sabe o quanto sofri enquanto via você nessa cama ? sussurrou apertando o corpo da mulher contra o seu, sem, é claro, machucá-la ?, me remoeu a culpa sabendo que era para ser eu naquele carro.
Lembrava que se tivesse ido ele mesmo comprar os ingredientes para o sopa teria sido ele a ficar preso nas ferragens do carro, depois que um caminhão perdeu o controle e bateu de frente com o luxuoso automóvel negro.
Beijou lentamente a testa de sua amada. Céus! Como temeu que ela morresse durante aquele mês que ficara ao lado dela na UTI!
? Não seja bobo! ? ela deslizou suas mãos pelo peitoral de seu noivo, incomodada, abriu o paletó lentamente. ? Tire essas roupas, amor ? pediu delicadamente.
? O que você quiser amada? ? ele se afastou retirando a parte de cima da roupa, ficando com o peitoral definido exposto. Sorriu e voltou a abraçar a moça.
? Se você tivesse ido comprar os ingredientes no meu lugar, eu teria sofrido tudo que você sofreu vendo-me de cama. ? os dedos da mão pequena deslizaram alegremente pelo abdômen do homem que sorriu fechando os olhos. ? Você não imagina o quanto eu te desejo ? ela pronunciou abaixo, mas ele foi capaz de ouvir.
? Não sabe o quanto foi difícil para mim vê-la vestindo essa roupa branca, fina e transparente. ? Yuuki corou quando sentiu suas coxas sendo acariciadas por debaixo da coberta, a mão subiu e apertou levemente sua cintura, um suspiro extasiado escapou de seus lábios. ? Senti falta do seu corpo, me limitei nesse mês a tocar apenas seu rosto e sua mão ? ele fechou os olhos enquanto ela arranhava seu peitoral fazendo círculos invisíveis.
? O médico já deve ter lhe contado ? suspirou encostando a cabeça no peito de seu noivo, queria ter tido o prazer de contar, mas as circunstâncias a impediram.
? Na primeira semana não me continha de felicidade, mas depois fui me acalmando e me dedicando à você que precisava mais de mim no momento ? ele colou os corpos inalando o cheiro de sabonete de leite que o cabelo dela exalava, o hospital não permitia que os pacientes usassem outros produtos para se lavarem.
? O bebê? sobreviveu? ? estava hesitante, não queria ter perdido seu primeiro filho com o homem que tanto amava.
? Não sofreu nenhum arranhão! ? Kaname sentiu ela lhe abraçar mais aliviada, também estava aliviado por saber que o bebê sobreviveu, mas estava ainda menos preocupado por saber que ela havia sobrevivido.
? O que acha que as pessoas vão falar quando souberem que irei casar grávida? ? o medo de ser rejeitada pelo mundo lhe consumia a mente, causando dúvidas que apenas a voz calma de Kaname poderiam responder.
? É menino ou menina? ? por segundos ela não entendeu, quando a ficha caiu a mulher soltou uma pequena gargalhada e socou de leve o peitoral de seu amado.
? Você entendeu Kaname! ? comentou falando um pouco séria, mas sem deixar de rir. Só mesmo seu amado Kuran para fazê-la sorrir com tanta facilidade.
? Sim, e respondi ? comentou sorrindo, um bocejo escapou de seus lábios, estava realmente cansado.
? Vamos dormir um pouco, você precisa ? Yuuki se arrumou melhor nos braços dele enquanto Kaname a abraçava mais forte. Minutos depois eles já haviam embarcado no mundo dos sonhos, abraçados.
O médico abriu a porta do quarto número 205 e se surpreendeu. O que estava acontecendo ali?
? O que houve Doutor Fugisaki? ? perguntou Kurosu Kaien, pai da paciente que jazia naquele quarto. Estava um pouco mais atrás do homem de cabelos vermelhos, médico.
? Veja com seus próprios olhos ? o Doutor abriu a passagem, o Kurosu entrou no quarto e viu, deitada na maca sua filha e o noivo dela.
? O que tem demais? ? perguntou para o médico que acabara de entrar e fechar a porta.
? Acha que eles estavam fazendo aquilo? ? foi direto no assunto, não gostava de rodeios. Kaien virou e observou o casal deitado, ela com aquele vestido branco e fino do hospital e ele sem camisa.
? Não fizeram. ? exclamou convicto de que não havia rolado nada do que o médico estava insinuando.
? Como pode ter tanta certeza? ? se aproximou para observar melhor o casal deitado na maca.
? Veja ? apontou para os rostos próximos ?, os lábios não estam inchados, as respirações não estam descompassadas. ? o médico observou atento o casal. ? O rosto dela indica preocupação e o dele alívio ? completou dando de ombros.
? Não se preocupe Doutor ? Kaname abriu os olhos lentamente ?, jamais desrespeitaria minha noiva, muito menos um lugar como um hospital particular ? o médico suspirou aliviado.
? Bem.. ? sorriu sem graça enquanto lia algo numa prancheta. ? Daqui três dias ela recebe alta, ainda precisará se ausentar do trabalho, mas já pode ir para casa. ? Kaname sorriu diante da descoberta. ? Gostaria de perguntar se vocês não gostariam que ela fizesse o pré-natal comigo ? o ruivo comentou sem graça; Kaname e Kaien se entreolharam por segundos.
? É melhor esperar ela acordar. ? disse Kaien, Kaname concordou positivamente com a cabeça, desviando sua atenção dos homens que conversavam banalidades e fitando sua noiva.
Finalmente ela sairia dali, daquele hospital extremamente branco e com cheiro de remédio.
Yuuki Kurosu, sua Yuuki; que logo não seria mais Kurosu e sim Kuran.
Que logo compartilharia com ele a felicidade de se casar com alguém que amava e mais tarde, alguns meses depois, compartilharia com ele a alegria de ter o primeiro filho? ou filha.
E o destino que os aguardasse...