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Eu precisava sair dali, de perto deles. Sempre controlada, sempre manipulada. Eu não queria mais aquilo. Tudo me sufocava
Enquanto corria eu percebi que a dor não conseguia me tomar, então continuei correndo. Eles não podiam me encontrar, eu não podia voltar, não agora.
Percebi que os sapatos pequenos que tinha escolhido de manhã não me deixavam correr direito, eles pareciam apertar meu corpo inteiro, então parei para retirá-los. Quando o fiz, me arrependi. Edward estava parado ao meu lado.
- Eu ouvi a última parte Nessie. ? Edward disse.
Eu chacoalhei a cabeça como se pudesse espantá-lo.
- Por favor, vá embora. Eu não posso mais...
- Viver entre nós? ? Ele completou.
Eu tentei encara-lo, mas a falta de luz e minhas lágrimas não ajudaram.
- Você sempre soube. ? eu soltei, com desprezo.
- Eu adivinhei. ? ele disse, a voz sussurrada.
Ele então se aproximou rapidamente de mim e me deu um beijo na cabeça antes que eu pudesse impedi-lo, depois se afastou novamente.
- Apenas volte, Nessie. Nós estaremos esperando.
Eu continuei a correr, sem ouvir nada exceto que ele me deixaria ir. Estava agora sem os sapatos. Sabia que Edward era o mais rápido, mas os outros não estavam muito atrás. Continuei correndo, a dor agora retornando apesar disso.
Os galhos passavam à minha volta, saltava os troncos caídos e tentava olhar o chão para não tropeçar. Então ouvi o som do rio que tinha abaixo da propriedade. Em um minuto cheguei até ele.
O rio era volumoso e escuro. Tudo estava escuro. Percebi que se só o atravessasse eles me encontrariam rapidamente. Então, como na caçada, sabia o que fazer. Eu arfei, tinha que ser rápida. Atravessei o rio com um salto que quase me derrubou. Fique momentaneamente feliz, nunca tinha conseguido dar um salto desses. Mas a urgência da dor me tomou, assim como a adrenalina. Eu sentia como se estivesse em uma caçada, só que eu era a presa indefesa.
Eu corri o máximo que pude, muito rapidamente. Talvez eu tivesse cerca de cinco minutos até eles me alcançarem. Então cheguei a uma rodovia, alguns carros passavam com velocidade. Torci para a escuridão me ajudar e taquei um sapato, depois o outro para o outro lado, depois das duas pistas. Ouvi o baque surdo e consegui enxergar os sapatos entre o vão dos carros em movimento.
Depois disso eu me virei e segui exatamente pelo caminho que tinha corrido até ali para voltar ao rio. Eles deviam estar muito perto agora. Então eu inalei e pulei no rio.
Deixei a correnteza me levar enquanto boiava, se eu nadasse talvez fizesse muito barulho. Fique assim por pelo menos dez minutos e então comecei a nadar com toda a força que podia.
Enquanto eu estava nadando me senti bem, de repente. Como se tivesse sido feita para aquilo. A dor física amenizou sensivelmente e a outra dor eu enfiei em algum lugar remoto de meu cérebro. Era muita coisa. Eu nadava.
Estava escuro, o céu era realmente lindo acima de mim, eu continuei nadando.
Conseguia ouvir os animais à minha volta e mais nada, um silêncio maravilhoso, continuei a nadar.
A mata passava rapidamente por mim, eu até que nadava rápido. Eu não me lembrava de alguém ter me ensinado a nadar algum dia, eu simplesmente sabia o que fazer, como ir mais rápido, eu só sabia e continuava a nadar.
Estranhamente eu não estava me sentindo cansada, acho que nunca me senti mais viva do que ali, eu não tinha sono ou que descansar, só nadar.
Quando vislumbrei a luz do sol começando a nascer é que me perguntei se haviam se passado horas, não parecia que tinha sido todo este tempo que estava na água. Eu ainda não estava cansada.Era extremamente relaxante, me perguntei por que.
Era uma sensação de infinitude, não sei, como se o mundo me pertencesse. Eu era a dona do meu destino. Então continuei nadando.
Certo momento eu achei que o sol estava a pino, me perguntei, novamente quanto tempo tinha passado. Eu não sentia, continuei nadando.
Então, quando várias luzes e sombras já haviam se passado sobre mim sem o meu controle, senti que começava a escurecer novamente, uma grande pontada no baixo ventre retesou meu corpo como se não pudesse esperar mais, na mesma parte do meu corpo onde antes eu havia sentido a dor a uma vida atrás de mim.
Sabia que não tinha mais como evitar que acontecesse, então saí da água. Nadei para a borda ligeiramente encurvada até alcançá-la, então saltei para o seco. Aquilo parecia muito simples agora. Me arrastei até embaixo de uma árvore e esperei. Não demorou muito.
Ela começou como um golpe e então senti como se espalhasse para minhas pernas, amolecendo-as. Me encurvei, será que eu estava morrendo? Eu não ligaria, contanto que a dor passasse, mas ela só continuava vindo, em ondas. Eu gemi alto, não tinha por que ter medo ou vergonha, eu conseguia ouvir cada ser que estava à minha volta.
Eu me ajoelhei, segurando o baixo ventre com ambas as mãos. Aquilo durou certo tempo, as ondas vinham e depois iam ficando mais fracas. Eu segurava um tronco de árvore quando a dor piorava, até que ele quebrou sobre meus dedos. Comecei a me arrastar para outra árvore, mas senti que estava se amenizando. Eu me deitei no chão de terra e fiquei ali, respirando rapidamente até que, sem perceber, adormeci.