PRIMAVERA
Era um dia normal de Primavera. As flores desabrochando, exalando seus perfumes. O clima fresco, nem úmido, nem quente. Um dia perfeito e bonito.
Para as colegiais, era um ótimo dia para se comprar uma revistinha de horóscopo e descobrir se seu amor era correspondido, ou se ele iria puxar conversa, e até mesmo se encontraria um amor.
No meio daquelas várias garotas, todas sentadas num grupo de meninas, estava Marienne LuckinHéll. O uniforme do colégio ? a saia de pregas e a blusa com gravata, típico de escolas chiques, estava impecavelmente limpo ? lhe caia bem. Azul combinava com seus olhos cinzentos e cabelo louro-dourado liso.
Era a típica princesinha: tratada bem por todos, com um belo físico, inteligente e filha de pais ricos ? sim, seus pais eram dois advogados muito requeridos pelo mundo inteiro.
Era feliz, sim. Não havia do que reclamar: pais que lhe davam dinheiro, muitas amigas, roupas caras e muitos risos.
? Ei Marienne ? chamou uma voz calma e baixa no fundo da sala. A loura, entusiasmada, levantou explicando às amigas ricas que iria ali e já voltava. Depois caminhou calma e elegantemente, em seu sapato azul com um salto baixo, até a estranha garota.
? Está me chamando Amber? ? perguntou, sentando na cadeira vazia na frente da de Amber.
Amber Riusson era uma garota, no mínimo? estranha. Seu cabelo preto era enrolado e os olhos violeta ? um tom de azul-escuro ? contrastavam com a pele extremamente branca. Mas tal beleza era ofuscada pelas roupas negras e a mania de usar sempre capuz. Sim, Amber era estranha.
? Preciso que venha comigo ao banheiro, por favor! ? pediu a morena, um pedido estranho, pensou Marienne aceitando.
As garotas se conheciam porque o pai de Amber era o médico da família LuckinHéll, enquanto sua mãe era designer de moda, o que fazia a mãe de Marienne passar muitas horas ao lado da outra, já que estava sempre na moda.
O caminho até o banheiro foi calmo, e ambas conversaram sobre assuntos alheios. O corredor limpo estava vazio, e nenhuma conversa era ouvida em outras salas, afinal, apenas a sala delas não estava em aula.
Ao chegar ao toalete, que era realmente luxuoso, a morena empurrou a loura para dentro de uma cabine e entrou junto. Quando Marienne iria questionar, teve seus lábios tampados, enquanto Amber pedia silêncio, apenas num mover de lábios.
?Agora eu coloco a casa em ordem!? Pensou Amber, satisfeita ao ouvir o barulho da porta se abrindo.
? Como você aguenta Chloe? Aquela garota me irrita! ? comentou uma voz fina e enjoada, alterada.
? Você sabe que os meus pais precisam de um bom advogado para ganharem aquela causa, por isso tenho que conviver com aquela sonsa, Sophie! ? exclamou a outra, um pouco baixo, mas era facilmente ouvida dentro do silencioso banheiro.
E assim os xingamentos e insultos continuaram, enquanto Amber mantinha a mão sobre a boca de Marienne. Havia ouvido as duas cobras conversando mais cedo sobre irem ao banheiro, e tentara apelar a um método que finalmente abrisse os olhos da loura e ela visse que as garotas que ela chamava de amigas, na realidade, eram duas víboras aproveitadoras.
Amber gostava de Marienne, ela era boa e sorridente, uma menina feliz e inocente. Que nunca desconfiaria de suas amigas se não visse ou ouvisse a verdade por elas, e é claro que a ruiva Chloe e a metida Sophie não contariam isso para Marienne.
Não queria ver a menina chorando, como ela fazia agora, silenciosamente, mas era necessário. Lauren, mãe de Marienne, havia pedido que ela ficasse de olho em sua filha, que era muito boba, e estava apenas fazendo o que a Senhor LuckinHéll pedira.
Tá, também estava satisfazendo seu ego que gritava para libertar a inocente loura das garras das cobras, e fora isso que fizera.
? Até quando nós teremos que andar com ela? ? a voz enjoada e fina perguntou.
? Até meu plano dar certo ? declarou a outra voz.
E então Amber ouviu passos se afastando e, segundos depois, abriu a porta da cabine e soltou Marienne.
? Agora acredita em mim quando disse que aquelas garotas não queriam a sua amizade, e sim chegar aos seus pais? ? perguntou a morena, encarando o teto, mas Marienne nada disse, apenas correu para fora do banheiro.
A loura abriu a porta com pressa, sem nem ver para onde ia, e acabou se chocando com alguém. Em prantos e assustada, ergueu a cabeça e viu o sonho de sua vida: um rapaz, lindo! Os olhos verdes, o cabelo loiro um pouco mais escuro que os dela, alto.
Ele, com bons reflexos, segurou-a pela cintura, impedindo-a de cair e encarou-a nos olhos, um olhar sedutor, hipnotizante, fatal.
Não precisou de mais nada para se perder naquele mundo verde e encantador, e por segundos ficou lá, sem reação. Mas logo sua mente a lembrou da traição das que ela chamava de amigas e, desajeitada, se soltou do rapaz e saiu correndo, na direção contrária à da sala onde estudava.
Confuso, ele encarou a estranha garota que saía do banheiro.
? Poderia me informar onde é a sala da Diretora? ? a voz calma e profunda trouxe Amber de volta à realidade.
? É só virar à direita, última porta ? informou e virou, indo na direção da sala. Não poderia negar que ficara um pouco preocupada com a outra, mas teria que deixá-la sozinha.
Ao chegar na sala, viu que todos estavam se arrumando em seus lugares, a aula logo começaria. Convicta de que Marienne não mais falaria com as víboras que considerava amigas, se dirigiu até a carteira da LuckinHéll e recolheu seu material.
? Ei! O que pensa que está fazendo com os materiais da Marienne? ? perguntou a tal ruiva, Chloe.
? Marienne se sentará na minha frente depois de ir ao toalete e ouvir de camarote uma declaração chocante para ela ? respondeu a morena, cínica. A ruiva arregalou os olhos, incrédula.
E a confirmação veio alguns minutos depois quando, cabisbaixa, Marienne sentou na frente de Amber, quieta. A morena sussurrou algo no ouvido da loura que confirmou com a cabeça, sussurrando: ?Sim, passarei a sentar aqui.?
Chloe rosnou e Sophie e suas amigas comemoraram por não terem que ficar perto da loira sonsa.
? Atenção alunos! ? chamou um professor, entrando na sala. ? Temos um novo aluno, pode entrar.
Todos os olhares atentos e várias garotas torcendo para que fosse um garoto.
A porta é aberta e, quando o tal aluno entra, suspiros ecoam por toda a sala, era ele! O cara do corredor!
Empolgada, Amber sussurra para Marienne, que estava cabisbaixa, e a loura olha, desinteressada.
Mas seu coração para um segundo de bater e sua respiração falha ao ver o lindo rapaz do corredor lhe encarando, sério, com um sorriso no rosto, um lindo sorriso!
Todas as garotas encaram a loira, furiosas. Enquanto ela cora, e Amber ri, achando graça.
Não era mais um simples dia normal de Primavera, era O dia.
Marienne perdera ?amigas?, mas se aproximara da única que se importava com ela: Amber, a garota estranha.
Encontrara um lindo rapaz e se apaixonara à primeira vista, cujo, mais para frente, se tornara seu namorado.
E, por incrível que pareça, tudo começou com um simples olhar.
E uma situação chocante para ela, claro!