[Algumas rapidas considerações: Caso você ainda não tenha baixado os álbuns e tenha interesse, vá ao capitulo anterior e baixe-os antes de ler estes capitulos pois aqui começam as musicas. Caso você queira ouvir as musicas enquanto lê, mas não quer ou não pode baixá-las, siga até as notas do autor onde colocarei links do youtube com as musicas (mas lembro que baixando seria melhor a vocês)]
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Foi como se um raio o tivesse atingido bem no coração. Ele olhou mais uma vez, e outra, tudo para ter certeza de que era uma peça pregada pelos seus olhos. Mas não era. Era realmente ela, Ana Held! Uma bruxa?! Estava la jogada num canto da cela, fraca e debilitada demais para reconhecer seu próprio meio-irmão, o seu meio-irmão que foi como um irmão verdadeiro enquanto eram pequenos. Ainda se lembrava das brincadeiras que faziam, de como tramavam para invadir a cozinha e roubar os bolos de limão que a cozinheira fazia, e de como corriam quando eram pegos pela velha cozinheira q tinha apenas três dentes. Quando ele tinha nove anos e estava prestes a deixá-la para ir com os Dominicanos, prometera que se reencontrariam certamente, logo que fosse possível. Mas assim? Com Ana sendo acusada de ser uma bruxa?
- Sou... sou... inocente... por favor, monge... me tire... inocente... - tentou falar Ana, mas estava por demais debilitada para conseguir.
O som de sua voz apenas o deixou mais atônito. Devia haver algum engano. Quando eram pequenos Gabriel julgara que nunca um demônio poderia possuir aquela jovem. Claro que não conhecia nada de bruxarias e de como agem os demônios naquela época mas... algo tinha que estar errado.
Seja lá o que fosse que estivesse em Ana não era um demônio, eles não se revelavam tão rápido. As vezes levava semanas até que o corpo possesso manifestasse o espírito que o havia tomado.
- Jakob!
Saiu correndo o mais rápido que pode. Se houvesse algo errado era Jakob quem saberia o que fazer. E SE houvesse algo errado seria exatamente Jakob quem descobriria o que era. Ele tinha que tentar, aquilo com certeza era um erro da lei que precisava ser concertado antes que uma vida inocente fosse punida em vão. Isso se Ana realmente era inocente como seu coração clamava.
Gabriel procurou Jakob por toda a tarde e inicio da noite, e por fim, resolveu esperar até mais tarde um pouco quando provavelmente o encontraria na biblioteca. Jakob tinha a mente aberta para qualquer assunto enquanto estivesse la, debruçado sobre suas leituras. Ao chegar no corredor da biblioteca viu a luz de velas saindo do aposento e se dirigiu a ele. Gabriel sabia que o encontraria ali pois Jakob sempre estava la quase todas as noites.
Ao entrar no aposento, lá estava Jakob com um livro, exatamente como era esperado. Ao notar a presença de Gabriel, ele fechou brusca e rapidamente o livro que estava lendo e o guardou na prateleira. Na verdade foi mais como se tivesse o atirado para lá, e era possível notar um pequeno sobressalto nos olhos do monge. Aquela atitude foi extremamente inesperada e estranha.
"Será que ele está escondendo algo? O que será que há nesse livro e por quê essa atitude ao me ver? Ele nunca foi assim."
Devido àquele movimento, o livro mal atirado na prateleira começou a chamar muito a atenção de Gabriel, e despertar sua curiosidade.
"Não, Jakob é daqueles que se perde em suas leituras. Provavelmente eu só o assustei."
Mesmo assim o livro chamava sua atenção, e provavelmente, não, com certeza Jakob havia notado.
Apesar daquilo Jakob ouviu Gabriel com bastante atenção e prometera-lhe que faria da prisão e julgamento de Anna o mais confortável possível para ela, até que sua inocência (ou culpa) fosse provada. Mais tarde disse ao preocupado noviço que iniciaria investigações nos arquivos para ver se havia algo errado e após algumas palavras reconfortantes, deixou Gabriel que voltou a seu quarto para não conseguir dormir.
"O que está havendo" - pensava Gabriel - "Sei que Jakob prometeu me ajudar mas... depois de como agiu quando o surpreendi lendo... será que suas palavras foram honestas? O livro... o que será que havia nele? Sim, certamente aquele livro deve conter algo que ilumine meus pensamentos. Algo que ainda não sei, e que pode me ajudar."
Mas e se não pudesse? E se fosse um livro pagão ao qual ele não devesse tomar conhecimento? E se fosse um dos livros satânicos dos quais Else Vogler, a bruxa, havia sido acusada de ler? Aqueles pensamentos também o perturbavam. Mesmo estando envolvido com o julgamento de Else, Gabriel nunca vira os tais livros. Certamente o livro não o ajudaria, mas... e se ajudasse? E se realmente Anna estivesse possuída por Satã? Como não conseguia mesmo dormir, Gabriel resolveu sair e inspecionar o livro, na esperança de que pudesse ajudá-lo. Mesmo que fosse uma leitura perigosa, sua crença era forte para suportar quaisquer forças malignas.
O livro era velho, e seu cheiro trouxe uma certeza a Gabriel. "É maligno. Certamente é." Na parte de dentro da capa de couro havia um triângulo do tamanho de uma mão feito de algum tipo de metal. Não entendeu muito do que estava escrito pois não conhecia a língua. Conseguiu ler apenas uns poucos parágrafos que sem duvidas haviam sido escritos bem após a composição daquele livro, mas elas não fizeram muito sentido a ele.
"Muitos caminhos levam à Roma. Sete vezes um caminho para todos que levam para o mundo além de nossa imaginação."
Na busca de encontrar algo que lhe fizesse sentido, Gabriel encontrou uma carta endereçada a Else Vogler, escrita por um certo Lugaid Vandroy. Agora sabia do que o livro se tratava e mesmo que fosse desconfortável ler algo não endereçado a ele, leu a carta.
Vandroy dizia ser o legítimo dono do livro, que havia sido roubado dele antes de ser vendido à Else, e que por isso a visitaria no verão para comprá-lo de volta. Desapontado por não achar nada de útil nem exitante naquele livro de bruxarias, Gabriel o pôs de volta à prateleira e foi dormir.
Eram oito horas da manhã quando Gabriel se levantou e foi lavar os dedos, mas as manchas negras não saíam de suas mãos por mais que tentasse. Jakob apareceu o chamando pelas costas e disse que sentia muito pelo comportamento da ultima noite mas enquanto falava franziu a testa e gritou enfurecido:
- Você entrou na biblioteca sozinho e leu o livro! Vá para a capela e reze por perdão! Só Deus poderá salvas a alma daquele que quebrou a sagrada lei do monastério!
Urrava e apontava para as mãos de Gabriel que agora sabia do que se tratava. Alguém marcou o livro para que não fosse lido clandestinamente. Aquela foi a ultima vez que falou com o velho monge pois quando este voltou com os mercenários para prender Gabriel, apenas olhava para o chão em silêncio