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Tempo estimado de leitura: 14 minutos
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O Fim da Espera
Chiisana Hana
Beta-reader: Nina Neviani
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Ai, quem me dera percorrer estrelas
Ter nascido anjo e ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor
(Toquinho/Vinicius de Moraes)
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Dia de Natal.
Para Minu, apenas um dia como qualquer outro. Acordar cedo, dar as ordens na cozinha do orfanato, acordar as crianças, levá-las para o banho, ajudar os menores a se vestirem. Eiri também já estava acordada e realizava as mesmas tarefas com o grupo que era de sua responsabilidade.
Pouco tempo depois, o refeitório já estava cheio e uma algazarra se podia notar ao longe. As crianças tomavam café com avidez, antes de irem para o ginásio. Passariam o dia lá, junto com recreadores da Fundação. Quando enfim saíram, Minu e Eiri sentaram-se no sofá por alguns poucos minutos, antes de recomeçarem o trabalho.
- Ufa! Quando eles saem dá um alívio, não? - Eiri perguntou, passando a mão sobre a testa.
- Dá sim. Mas só por alguns minutos! Ainda temos muita coisa pra fazer. - respondeu Minu, já se levantando. - Eu vou dar uma arrumada na sala e depois temos que sair para fazer as compras para a ceia de Natal das crianças. Tatsumi já trouxe o dinheiro.
- Ah, sim. Essa parte é boa! Adoro ir ao mercado. Será que podemos pedir a algum dos cavaleiros de bronze para ir conosco? Eles estão lá na mansão Kido.
- Você quer dizer "pedir ao Hyoga para ir conosco", né?
- Ah, por que não? Ele não faz nada mesmo. Podíamos chamar o Seiya também.
- Não. - Minu respondeu enfática. - Nada de Seiya.
- Ué? O que foi? Até dias atrás você se derretia por ele!
- Passou. ? ela disse.
- Amor não passa assim.
- Eu cansei de esperar por ele, entendeu? Cansei. Não quero mais.
- Está bem, está bem. Mas vou chamar o Hyoga! ? Eiri disse e saiu correndo para perto do telefone.
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Na Mansão Kido, Seiya, Hyoga, Shiryu e Shun jogavam dominó. Ikki observava tudo de um canto.
- Tem certeza de que não quer jogar? - perguntou Shiryu. - Daqui a pouco vou sair com Shunrei e vai ficar faltando um.
- Huuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmm! - Seiya exclamou, deixando Shiryu vermelho.
- Dominó é um jogo para idiotas. - Ikki disse.
- Não é não. É o jogo dos sábios. Nos mosteiros chineses é utilizado para desenvolver a capacidade de raciocínio dos monges.
- Que monge o quê? Os monges também são uns idiotas. Qualquer um que faça votos de castidade é.
- Você está mais azedo que o normal hoje. O que é que há? - Shiryu perguntou e ficou sem resposta.
Tatsumi se aproximou, trazendo o telefone para Hyoga.
- É a senhorita Eiri. ? disse o mordomo.
- Olha a patroa do Hyoga! - bradou Seiya.
- Cala a boca! A sua "patroa" é muito mais mandona que a minha.
- Poxa... pior é que é verdade... ? consolou-se o cavaleiro de Pégasus.
Hyoga se afastou um pouco e conversou com Eiri. Logo depois, retornou à mesa.
- Ela nos chamou para ir ao mercado.
- Como assim "nos chamou"? Ela não é sua namorada?
- É, mas sei lá, parece que ela e Minu querem ajuda com as coisas da ceia das crianças.
- Eu não posso. Já disse que vou sair com a Shunrei. ? Shiryu apressou-se em dizer.
- É, eu também não. ? Shun também disse. ? A June ficou de vir para cá. Desculpa, Hyoga.
- A Saori disse para eu não sair... ? Seiya também se esquivou.
- Você vem, Ikki? - perguntou Hyoga.
- Odeio supermercado...
- Eu nem sei porque ainda pergunto e...
- Mas eu vou.
- Quê?
- Isso mesmo. Estou precisando comprar umas coisas.
- Você está estranho...
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Hyoga e Ikki foram até o orfanato. Lá, Minu e Eiri já estavam esperando.
- Que demora, hein? - Minu comentou com Eiri. - Você tinha que chamar seu namorado?
- Está dizendo isso porque o Seiya não veio? Ainda diz que não gosta dele.
- E não gosto mesmo. Achei ótimo ele não ter vindo.
- É, mas o Ikki veio. ? Eiri insinuou travessa.
- Aff. Esse chato!
Hyoga se aproximou de Eiri e a beijou. Minu olhou o beijo com um pouquinho de inveja.
- Vamos? - ela disse, interrompendo o beijo.
Depois que Seiya começara a namorar Saori, Minu tinha passado por uma fase de sofrimento intenso e aparentemente irremediável. Isso até o dia do aniversário de Shun, quando todos foram jantar fora e Ikki se sentou defronte a ela na enorme mesa. Só então ela percebeu como era bonito o cavaleiro de Fênix. Aquela cicatriz na testa era inevitavelmente charmosa. Inegáveis também eram sua personalidade extremamente forte e o mau humor galopante. Mesmo assim, era um homem interessantíssimo. Lembrou-se da conversa que tiveram no restaurante aquele dia.
- Então, Ikki, está gostando da comida? - ela tentou puxar assunto.
- É cara e sem gosto. Prefiro os petiscos da feirinha de artesanato.
- Ah, os petiscos são bons, mas de vez em quando faz bem comer algo diferente.
- Não gosto de coisas diferentes.
- Ai, custa ser um pouco menos intragável? - indagou Minu, já impaciente com tamanho mau humor.
- Problema seu se não gosta.
Ao lembrar essa passagem no restaurante, Minu pensou:
"Não. Ikki não! Nunca! Jamais! Ele pode ser lindo, charmoso, alto, forte, pode ter essa voz sensual, mas não vale a pena! Não vale! Esqueça esse sujeito."
- Minu!
- Quê? ? ela respondou, balançando a cabeça.
- Já chamei você cinco vezes! - Eiri exclamou, puxando a amiga pelo braço. - Está no mundo da Lua? Vamos, garota!
- Ah, vamos. Vamos. Não precisa me puxar.
Eiri e Hyoga foram na frente, sempre de mãos dadas, deixando Ikki e Minu para trás. Distraída, Minu tropeçou e quase caiu.
- Melhor prestar atenção senão vai acabar quebrando os dentes.
- Argh! Você é tãããão gentil, Ikki!
- Essa é uma das minhas muitas qualidades. ? ele riu.
- Qualidades? Aff.
O restante do caminho até o supermercado foi feito em silêncio. Um silêncio emburrado e constrangedor. Para Minu, claro. Ikki pensava no que faria depois da droga da ceia de Natal. Odiava o Natal. Não era católico, achava Papai Noel um retardado que só sabia falar "Ho!Ho!Ho!" e achava que todas as árvores de Natal, com aqueles penduricalhos horrorosos, dariam uma bela fogueira. A única coisa que valia a pena era a comida que faziam. Por isso, participaria da ceia do orfanato e depois, com certeza, desapareceria, como já era de costume. No supermercado, deu logo um jeito de desgarrar-se do grupo.
- Aquele imprestável não veio nos ajudar? Por que sumiu? - Minu se perguntou, irritada.
- Ele é assim mesmo. Quando dá na veneta, ele some. - explicou Hyoga.
- Aff. Esse seu amigo, hein, Hyoga? Ninguém merece.
Quando as compras já estão quase terminadas, Ikki aparece.
- Vamos? - ele disse com um sorriso cínico estampado na face.
- Por que sumiu? - Minu perguntou.
- Porque eu quis. Você é chata, hein?
- E você é grosso!
- Sou mesmo. Eu vim pra ajudar a carregar as compras, não para pagar a conta. E dê-se por muito satisfeita por eu ter vindo.
- Satisfeita? Era melhor que não viesse. Vamos logo, Eiri! Pare de chamegos com o Hyoga! - Minu bufou e saiu pisando duro, carregando algumas sacolas. Eiri e Hyoga seguiram-na e Ikki, por sua vez, seguiu os três. Quando chegaram ao orfanato, Ikki não perdeu a chance de perturbar Minu mais uma vez.
- Cuidado para não estragar a comida com essa sua cara de limão azedo.
- Em primeiro lugar, não sou eu quem vai fazer a comida. Em segundo, cara de limão azedo tem você.
- Pára, Ikki. Você perturba demais a Minu. Desse jeito fica parecendo que quer alguma coisa com ela. - brinca Hyoga.
- Eu e essa doida? Ainda tenho algum juízo.
Minu, que não saíra realmente da sala, acabou ouvindo o comentário de Ikki.
- Eu acho que ele gosta de você! - Eiri disse, tocando o ombro de Minu.
- Gosta nada. Esse idiota não gosta de ninguém. E vamos logo arrumar levar as coisas para a cozinha.
- E você gosta dele! Você não me engana!
- Pára!
- Gosta, sim!
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Mais tarde, durante o almoço na mansão Kido, Ikki manteve o semblante fechado.
- Que bicho mordeu você nessas compras? - perguntou Shun, estranhando a cara de poucos amigos do irmão.
- Bicho nenhum. Fica na sua. - retrucou Ikki, pensativo e seco.
- Não foi um bicho, Shun. Foi a Minu. - comentou Hyoga, rindo maliciosamente. Ikki se levantou da cadeira e fez menção de avançar sobre o louro. Shiryu também se levantou e segurou o cavaleiro de Fênix.
- Calma, cara. - Shiryu disse, segurando Ikki.
- Se eu realmente quisesse quebrar a cara desse pato, você não me impediria.
- Eu sei que não, mas fica calmo.
- Perdi a fome. - ele disse, antes de sair derrubando a cadeira no chão.
- Apaixonou-se por ela. Está mais do que na cara. - Hyoga disse. - Só não sei por que essa relutância em admitir uma coisa tão simples.
- Pra ele não é simples, Hyoga. - Shun tentou explicar.
- Eu sei melhor do que ele o que é perder uma pessoa querida, mas estou aqui, levando minha vida, não estou?
- Já chega. Não vamos ficar fofocando sobre a vida do Ikki. Ele sabe o que faz. - Shiryu encerrou o assunto.
No jardim da mansão, Ikki sentou-se sob a sombra de uma árvore.
- Quem diria que eu me apaixonaria por aquela maluca? Gosto de mexer com ela, mas pensei que ia ficar só nisso. - ele disse para si mesmo, enquanto lembrava de todos os momentos em que perturbou a jovem. Assustou-se ao perceber que lembra dela com carinho. - É, eu gosto mesmo dela. Aquela doida me pegou. - conteve as próprias palavras ao lembrar de Esmeralda. Sempre que cogitava a possibilidade de se envolver com alguém, lembrava da menina que tinha sido seu primeiro amor. - Acho que ela gostaria de me ver feliz. Eu não posso continuar assim. Vou passar a vida inteira sozinho? Isso vai mudar. E vai ser hoje...
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À noite, no orfanato.
- Tudo pronto, mesa posta, crianças arrumadas, só faltam os rapazes chegarem. - Eiri disse, olhando Minu tentar distrair os pequenos.
- É, mas não quer vir me ajudar aqui? ? Minu berrou. ? Eles estão indóceis! Querem atacar a comida antes da hora.
- Deixa que eu resolvo. Criançadaaaaaaa!! Olha a bala!! - a loira disse, balançando um pacote de balas. As crianças esqueceramm o jantar e correram até Eiri.
- Bala, Eiri? - Minu censurou a colega, colocando as mãos na cintura. - Vai tirar o apetite deles!
- Vai nada! Eles gostam!
- Deixa as crianças em paz. - uma voz disse, atrás de Minu. - Você devia aceitar uma bala também. Quem sabe adoçaria a sua vida?
- Ikki? Achei que não viesse. - surpreendeu-se Minu ao ver o cavaleiro.
- Tive vontade de vontade de vir.
- E os outros?
- Ainda estão se arrumando. Parecem moças! Só para pentear aquele cabelão Shiryu leva meia hora.
- Você, pelo visto, arrumou-se muito rápido. - Minu disse, irônica.
- Claro. Meu charme é natural, não preciso me arrumar.
- Sei... Olha, por favor, não estou a fim de brigar na noite de Natal. Então, sente, fique quietinho e se comporte até seu irmão chegar para tomar conta de você.
- Não me trate como uma de suas crianças! Eu não sou o Seiya.
- O que tem o Seiya?
- Acha que eu não sei que gostava dele?
- É, mas eu não gosto mais. E isso não é da sua conta.
- Acha que eu também não sei que é de mim que você gosta?
- Pára com isso!
Ele segurou o braço dela com firmeza suficiente para não deixá-la escapar, sem machucá-la, entretanto. Olhando-a nos olhos, Ikki aproximou o rosto do dela.
- Se me beijar aqui dentro eu te mato. - ela disse, incisiva.
- Hum... se for em outro lugar não me mata?
- Mato de qualquer jeito! Experimente!
- Você é quem manda. - e beijou-a intensamente. Ela não resistiu e correspondeu ao beijo. A trilha sonora foi um "oooooooooooooooh" emitido pelas crianças, quando perceberam a cena.
- Ué? A tia não gostava do Seiya?? - Akira perguntou a Makoto.
- Mudou, né? - Makoto respondeu. - O Fênix é mais forte.
- É nada! O mais forte é o Seiya! ? Akira retrucou.
- Ih... esse Ikki é ousado... - admirou-se Eiri.
- Poxa, ainda estão beijando! ? Mimiko olhava com curiosidade.
- Eca. Nunca vou fazer isso. É nojento. - outra criança disse, esfregando a boca com uma das mãos.
- Todo mundo faz isso quando cresce... - Mimiko explicou.
- Ehr... crianças, a tia Eiri vai jogar mais balas! - Eiri disse, tentando desviar a atenção das crianças.
- Que bala o quê, tia? A gente está vendo o beijo! - Makoto gritou.
Ikki separou seus lábios dos de Minu sorrindo vitorioso. Ela, por sua vez, não sabia se ardia de raiva, de vergonha ou de amor.
- Vai me dizer que não gostou? - ele perguntou, olhando-a nos olhos.
- Odiei. - respondeu Minu, respirando fundo.
- Você não sabe mentir.
- Eu não gostei mesmo. Além do mais, olha a vergonha que estou passando... como é que vou encarar as crianças depois disso?
- Eu resolvo o problema. Seguinte, galerinha, a tia Minu está namorando o tio Ikki!
Um outro "ooooooooooooooh" ecoou, junto com aplausos efusivos. Eiri olhava para Minu incrédula.
- Não é nada disso!! - bradou Minu, batendo no peito de Ikki. - Eu não estou namorando esse animal!
- Não é o que parece. - Eiri disse.
- Eiri!! Não complica mais as coisas.
- Ela é tímida, galerinha. Claro que estamos namorando, Minu. Pode falar.
- Nãoooo!!
- Vamos ver se não. - e Ikki a tomou mais uma vez nos braços e beijou-a com ainda mais ardor.
As crianças vibraram. Nesse momento, os demais convidados para a ceia de Natal chegaram ao orfanato.
- Opa... chegamos bem na hora do show! - Seiya disse.
- Será que o Ikki está bem? - preocupa-se Shun. - Ele não é de fazer essas coisas assim na frente de todo mundo?
- Ele está ótimo, Shun. Passou a manhã enchendo o saco da Minu. Sabia que ia dar nisso. - explicou Hyoga.
- Bom pra ele! Não tem nada melhor que amar alguém. - Shiryu disse, e olhou ternamente para Shunrei.
- E então? Estamos namorando ou não estamos? - Ikki perguntou a Minu. - Vou ter que repetir a dose?
- Estamos. - admitiu Minu, vencida pelos beijos do cavaleiro.
- Ótimo. - e ele a beijou outra vez.
As crianças aplaudiram euforicamente. Os amigos comemoraram por Ikki finalmente ter encontrado alguém a quem amar, mesmo que o namoro tivesse começado de forma tão inusitada. Durante a ceia, o novo casal foi o assunto da vez, mas logo deram uma escapulida para o pátio do orfanato.
- Isso é sério mesmo? - Minu perguntou enquanto segurava a mão de Ikki.
- Muito. Eu não pensei que fosse dizer isso a alguém que não fosse a Esmeralda, mas... eu te amo, Minu. - ele disse, calma e firmemente.
- Eu também te amo. - ela respondeu com a mesma certeza. E os dois ficaram ali, abraçados, sentados no banquinho do pátio. O frio intenso não os incomodava. Vez ou outra trocavam beijos apaixonados.
- Somos o assunto da semana. - riu Ikki.
- Pois é, e a culpa é sua. Quem mandou me pedir em namoro daquele jeito?
- Você bem que gostou.
- É... gostei... foi impetuoso... - ela admitiu, a contragosto.
- Eu sou impetuoso.
- Espero que seja só comigo. Sou ciumenta! Estou avisando.
- Eu imaginei que fosse. Ah, já estava esquecendo. - ele disse.
- O quê?
- Odeio Natal, Papai Noel e todas essas bobagens... mas Feliz Natal, Minu.
- Feliz Natal, meu amor. - ela respondeu, abraçando-o.
Do lado de dentro do orfanato, crianças e adultos espremiam-se nas janelas para observá-los.
- Eles combinam, não acham? - Hyoga questionou.
- Combinam, sim. - Seiya respondeu. - Fico feliz que ela tenha encontrado um amor.
- Mais que por ela, fico feliz pelo meu irmão. Finalmente ele vai conseguir começar a viver... - Shun disse, com os olhos marejados.
- É. Finalmente. - concordou Shiryu.
FIM