Incompletos

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    Capítulos:

    Capítulo 4

    Montanhas e Precipícios

    Hentai, Nudez, Sexo

    Os personagens de Saint Seiya pertencem ao tio Kurumada e é ele quem enche os bolsinhos. Todos os outros personagens são criações minhas, eu não ganho nenhum centavo com eles, mas morro de ciúmes.

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    INCOMPLETOS

    Chiisana Hana

    Beta-reader: Nina Neviani

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    Capítulo IV - Montanhas e Precipícios

    AINDA AMO MEU MARIDO E O QUERO DE VOLTA!

    A frase, acompanhada de uma foto de Shiryu e Claire no dia do casamento, estampava a página inicial de um site de fofocas. Shiryu clicou no link.

    "Claire Thompson, a bela modelo americana, diz que fará tudo para recuperar o amor do marido.

    Repórter: Como se sente agora que acabou de assinar o acordo de separação?

    Claire: Muito mal, é óbvio. Não sei como estou conseguindo ir adiante, mas farei tudo para ter meu marido de volta.

    Repórter: É verdade que a maioria dos bens do casal ficou com você?

    Claire: Sim. Meu pai achou melhor fazer isso para proteger nosso patrimônio, já que o Shiryu demonstrava não estar muito bem da cabeça. Sabe, ele parecia desorientado no dia da assinatura da separação, mas eu não quis comentar nada. E pouco tempo depois fiquei sabendo que ele pediu demissão. Diga, quem em sã consciência se demite de um alto cargo executivo numa das maiores multinacionais do mundo? Ele tinha um salário astronômico, tinha poder e de repente largou tudo! Com certeza ele não está bem. Mas o que importa é que eu estou disposta a aceitá-lo de volta e ajudá-lo. Só o meu amor pode curá-lo nesse momento difícil."

    ? Meu Deus, como ela foi baixa dessa vez! ? ele exclamou horrorizado e fechou a página. Entretanto, o episódio serviu para lembrá-lo das outras vezes em que Claire recorreu à imprensa como forma de pressioná-lo...

    EXECUTIVO MILIONÁRIO QUER SEPARAR-SE DE MODELO AMERICANA! CONFIRA ENTREVISTA EXCLUSIVA COM CLAIRE THOMPSON!

    O divórcio envolverá a divisão de milhões em bens, dinheiro e ações, mas o que a moça realmente deseja é reconciliar-se com seu amado.

    Repórter: Claire, o que houve para um casamento aparentemente perfeito acabar em tão pouco tempo?

    Claire: Sinceramente, eu não sei! Era como um sonho. Ele era o meu príncipe encantado e de repente veio com essa história de separação. Até agora não entendi.

    Repórter: Acha que o seu marido tem uma amante?

    Claire: É possível que ele tenha arranjado alguma vagabunda. Ele não pode ter deixado de me amar da noite para o dia, estava tudo bem, inclusive na cama, se é que você me entende... ele era perfeito até nisso. Sempre tínhamos noites intensas...

    Ele não continuou a ler. Amassou o jornal furiosamente e jogou-o no lixo. Não queria ver a ex-mulher fazendo aquele papel ridículo na coluna de fofocas, expondo fatos da vida íntima de ambos. Estavam separados de fato há quase quatro meses, mas não conseguiam chegar a um acordo e nesses meses Claire já tinha chorado em um programa de TV, dado uma entrevista para uma revista de circulação nacional, e agora estava em todos os jornais. Isso sem contar as vezes em que fora fotografada ou filmada saindo bêbada de alguma festa, trocando os pés, esbravejando que bebia por sentir falta do marido, flagrantes que, desconfiava ele, pareciam armados.

    Respirou fundo e telefonou para ela decidido a pôr um fim nos escândalos.

    ? Amor! Você voltou atrás? ? ela berrou assim que reconheceu a voz dele do outro lado da linha.

    ? Não ? ele respondeu seco, ao que ela retrucou irritada:

    ? Então por que ligou?

    ? Porque eu quero acabar com tudo isso de uma vez por todas, Claire. Assina a separação, pelo bem de todos. Chega de escândalos, de entrevistas, de programas sensacionalistas. O que é que você quer para acabar com isso?

    ? É simples: eu quero que você volte para casa e que tudo seja como antes.

    ? Você sabe que isso está fora de cogitação...

    ? Nesse caso, marcarei entrevistas na tv para os próximos dias! ? disse e bateu o telefone com força.

    Diante da irredutibilidade de Claire, Shiryu ligou para seu advogado, que era também um grande amigo.

    ? Hyoga, ofereça tudo que ela quiser, o apartamento, a casa de campo, a casa da praia, os carros, dinheiro. Eu só quero me ver livre de tudo isso, mesmo que eu fique na miséria.

    ? Está louco? ? o amigo perguntou incrédulo. ? Vai dar tudo a ela assim de mão beijada?

    ? Se for preciso, vou. Chega. Não aguento mais essa palhaçada na TV, nos jornais. Sou o assunto do ano na empresa, quando passo pelos corredores o burburinho vai se formando atrás de mim, cada um inventando sua própria versão para a separação. E não é só lá, em todos os lugares aonde vou as pessoas apontam, comentam.

    ? Eu vou tentar falar com ela, ok?

    ? Faça melhor: fale como pai dela. Ele é o maior interessado no dinheiro e nas propriedades. Estou certo de que ele pode convencê-la a assinar a separação se o acordo for suficientemente vantajoso.

    ? Está bem, então falarei com o velho. Espero conseguir livrar você dessa enrascada, meu amigo.

    ? Tomara, Hyoga. Tomara.

    No mês seguinte, estavam no fórum ele, Claire, o pai dela e seus respectivos advogados, assinando o acordo de separação, onde ela ficava com o apartamento, a casa de campo e o carro mais caro do casal, além de uma excelente quantia em dinheiro e boa parte das lucrativas ações que possuíam.

    ? Eu só aceitei porque papai me convenceu ? ela disse ao sair do fórum. ? Mas tenho certeza de que tem volta. Você está confuso, é a crise dos trinta anos, ou algo assim. Sei que vai passar.

    ? Crise dos trinta anos, essa é boa ? disse olhando-a nos olhos. ? Claire, eu quero que saiba que eu realmente sinto muito por tudo isso e que se eu pudesse voltar atrás, não teria me precipitado e me casado com você, mas sinto que é hora de corrigir os erros, começando pelo nosso casamento.

    ? Nosso casamento não foi um erro! ? ela bradou.

    ? Tchau, Claire ? disse, encerrando o assunto. ? Boa sorte na sua nova vida.

    ? Que nova vida? Eu vou é esperar você recuperar o juízo!

    Ele deu de ombros e entrou no carro que lhe restara após a separação. Tudo aquilo era de certa forma triste, mas sentia-se aliviado por ter posto um ponto final antes que as coisas se complicassem ainda mais.

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    Depois de fechar o site, resolveu conferir os e-mails para ver se Seiya e Saori tinham enviado novas fotos, mesmo sabendo que encontraria algumas dezenas de mensagens enviadas por Claire, as quais apagou sem ler. Foi abrindo as demais. Além da mensagem de Seiya e Saori, havia uma de Hyoga, e outra de Shun. O advogado, aliás, como suspeitava, não estava na Sibéria, mas em Asgard com a tal princesa, e enviara uma foto dos dois pelo celular. "Esse Hyoga vai acabar se mudando de vez para o palácio", pensou rindo. Na mensagem enviada por Shun, várias fotos da comunidade onde ele e a namorada estavam, em algum lugar da Etiópia. Partiu-lhe o coração ver aquelas pessoas em situação tão precária, mas que mesmo assim não deixavam de sorrir. Sentiu remorso por não ter ido com o amigo. Fazer caridade devia ser infinitamente melhor para a alma do que passar as férias num confortabilíssimo hotel cinco estrelas.

    Resolveu mandar as próprias fotos para os amigos, então descarregou a câmera, selecionou as melhores fotos, e começou a escrever, quase sentindo vergonha de estar ali, com todo o conforto, boa comida.

    "Pessoal, aí estão algumas fotos das minhas férias na China. Rozan não é um lugar lindo? Cada novo cantinho que eu conheço me deixa sem fôlego. A comida também é ótima e as pessoas são muito simpáticas e hospitaleiras. Meus dias aqui têm sido excelentes, saio para correr, para fazer tai chi na praça, jogar tênis de mesa com a criançada, nadar no rio. Até ajudei a fazer um telhado! Dias de simplicidade, mas inesquecíveis. Também tenho desenhado bastante, para desenferrujar as mãos!

    Ah, pessoal, eu pareço maluco? É o que Claire anda falando no Japão, que eu enlouqueci, imaginem!

    Espero vê-los na volta!

    Abraços.

    Shiryu".

    Anexou as fotos ao e-mail e enviou-o a sua nova lista de amigos, com Claire e todos os amigos em comum já devidamente excluídos.

    -I-N-C-

    Dias depois.

    O tempo estava bom em Rozan e, apesar do vento frio, havia um sol tímido que convidava os turistas a um passeio. Logo depois de um farto café da manhã, Shiryu resolveu subir a face oposta dos Cinco Picos Antigos, onde ficava a cachoeira. Lá no alto havia uma pedra gigantesca que formava uma espécie de patamar de onde se podia contemplar a imensa queda d'água. Sentou-se ali em posição de lótus, fechou os olhos e tentou esvaziar a mente, mas algo lhe dizia que estava sendo observado. Olhou para trás e para sua surpresa, era Shunrei quem o observava.

    ? Olá ? disse sorrindo e acenando para que ela se aproximasse.

    ? Olá ? ela respondeu atendendo ao chamado.

    ? Você parece melhor.

    ? É, estou me sentindo mais disposta ? ela disse e sentou-se ao lado dele.

    ? Fico feliz por isso.

    A moça sorriu tímida e abaixou o olhar. Ficaram ambos em silêncio, como se buscassem assunto, até que ela resolveu romper o gelo.

    ? Desculpa por ter ficado olhando, mas é que meu avô costumava vir meditar aqui também.

    ? Tudo bem. É um bom lugar para meditar. Seu avô sabia das coisas.

    ? É ? respondeu, e ele pôde ver uma sombra de tristeza na face dela. ? Por que escolheu vir para Rozan? ? ela perguntou, claramente tentando mudar de assunto.

    ? Porque eu precisava respirar ? disse, num suspiro. ? Tóquio estava me sufocando já há muito tempo. Com a separação, a coisa se agravou, como se a cidade fosse me esmagar a qualquer momento. Meu mestre de kung fu tinha falado das montanhas de Rozan, então resolvi vir para cá. Aqui eu consigo respirar.

    ? Então você era casado? ? Shunrei perguntou.

    ? Era ? respondeu. ? Até uns seis meses atrás.

    ? E por que se separou? ? ela perguntou sem olhar pra ele, enquanto mexia em algumas pedrinhas no chão.

    ? Eu não sei nem por que me casei! ? ele exclamou e caiu na gargalhada. Shunrei também riu. Ele continuou: ? Claire e eu tínhamos uma química muito forte, mas não tínhamos muito a ver um com o outro. Resolvi que era mais honesto nos separarmos que sermos infelizes juntos.

    ? Eu entendo um pouco disso... ? ela disse atirando uma pedrinha na cachoeira. ? Fui noiva por dez anos e quando ele morreu eu simplesmente me senti aliviada por ficar livre. Chocante, não?

    ? Bom, admito que sim... um pouco...

    ? Eu sei. Bom, assim que ele morreu eu fiquei desolada, mas depois o que ficou foi só uma sensação de alívio. Passei anos me sentindo culpada por considerar a morte dele a minha libertação.

    ? Mas o noivado era tão ruim assim?

    ? Não era ruim, mas também não era um conto de fadas ? ela riu.

    ? Nunca é ? ele disse.

    ? Eu sei. O fato era que eu não o amava, e ele me amava lá do jeito dele, mas amava. E eu achava que era o suficiente. No fundo, acho que eu me sentia tão inferior que chegava a ser lisonjeiro ter um rapaz gostando de mim. Eu sei, é um pensamento idiota, mas releve, eu era uma criança. Tinha só quatorze anos quando ele pediu ao meu avô para me namorar.

    ? Desculpa a curiosidade, mas ele morreu do quê?

    ? Foi esfaqueado numa briga de bar, supostamente eu tenho algo a ver com a briga, mas nem estava lá para saber. Ele era metido a valentão. E é assim que os valentões acabam. Sempre aparece alguém mais valente.

    ? Que história, hein? Faz os problemas do meu casamento parecerem brincadeira.

    ? E eu nem contei as piores partes... ? ela disse.

    ? Então devo ficar feliz por minha história não ter uma parte pior para contar!

    ? Com certeza! Mas fale mais sobre a sua esposa.

    ? Ex-esposa ? ele corrigiu e começou a falar. ? Bom, conheci Claire numa fase em que eu estava me sentindo muito sozinho, então me encantei com a beleza dela, com o frescor da sua juventude...

    ? Falando assim você parece um velho, o que definitivamente você não é.

    ? Já tenho trinta anos.

    ? E eu vinte e nove. Quase a mesma idade, mas eu não me sinto velha.

    ? Eu sempre me senti mais velho do que realmente era e, aos vinte e oito, a Claire recém saída da adolescência era um sopro de alento. Então, começamos a namorar, rapidamente nos casamos, mas eu nunca fui realmente feliz com ela. E não sendo feliz, não me sentia capaz de fazê-la feliz. Foi aí que achei melhor pôr um fim em tudo.

    ? Hum... Eu pensei muitas vezes em acabar o noivado, mas tinha medo da reação dele, por isso entendo o que você sentiu quando decidiu se separar e admiro muito sua coragem. Não é fácil tomar esse tipo de decisão.

    ? Não mesmo... ? ele concordou.

    ? Bom, agora tenho que ir. Preciso almoçar, depois descer para o trabalho.

    ? Mas hoje é domingo! ? ele protestou.

    ? Tem bastante movimento no restaurante do hotel aos domingos, então minha folga geralmente é às quartas.

    ? Ah, sim. Então, até qualquer hora.

    ? Até... ? ela disse hesitante, e foi se afastando, mas logo lhe veio a ideia de convidá-lo para almoçar. Não tinha cozinhado nada especial, mas sentia vontade de ser gentil com o rapaz que lhe salvara a vida e por quem começava a nutrir grande simpatia. Olhou para trás. Ele continuava sentado no chão.

    ? Shiryu! ? chamou. Ele voltou o olhar em sua direção. ? Não quer almoçar lá em casa?

    ? Claro ? disse e levantou-se, sacudindo a poeira das roupas. ? Será um prazer.

    ? Então vamos!

    Caminharam poucos minutos por um bambuzal, lado a lado, em silêncio, ela ligeiramente à frente dele, e chegaram aos fundos da casa. Ali, ele pôde notar algo que parecia um grande estrado, pouco mais alto que uma mesa comum, onde provavelmente ela secaria ervas e pimentas no verão. Na lateral da casa havia uma pequena horta e, num cantinho, um jardim com flores miúdas, as únicas que se abriram no frio. Entraram e foram direto para a cozinha. Ela acendeu o fogo para esquentar o almoço e um cheiro agradabilíssimo tomou conta do cômodo. Enquanto a comida esquentava, pôs a mesa. Sentado, ele observava a cozinha simples, com azulejos até a metade da parede, e apenas os utensílios estritamente necessários: o fogão à lenha, a geladeira e, sobre a bancada, um liquidificador, todos em estado precário. Eventualmente olhava para a moça, tentando ser o mais discreto possível. Em todas as vezes que a vira, o rosto alvo estava sempre limpo, sem qualquer traço de maquiagem, mesmo quando estava trabalhando. Os cabelos, conservava-os numa longa trança que ia até a cintura. Entretanto, essa simplicidade encerrava uma beleza que nem mesmo a sombra de melancolia conseguia apagar. "Tão diferente de Claire", pensou, e lembrou-se da ex-mulher e suas idas infindáveis ao salão de beleza, os quilogramas de maquiagem que possuía, os vestidos que custavam milhares de dólares. Sem saber, aquela chinesa o fez perceber que nenhum desses artifícios era necessário para ser bela.

    ? Espero que goste ? ela disse, interrompendo o pensamento do rapaz ao colocar o cozido na mesa. ? É comida simples.

    ? O cheiro está ótimo, e é isso que importa ? respondeu, enquanto se servia de arroz e cozido.

    ? Sempre faço comida a mais ? ela constatou com tristeza. ? Ainda não me acostumei a cozinhar para uma pessoa só.

    Almoçaram conversando sobre a culinária da região, rica em pratos condimentados, quase sempre preparados com pescados, como o cozido de peixe que agora degustavam. Assim que terminaram, ele se ofereceu para lavar a louça. Shunrei tentou protestar, mas ele estava irredutível. Resignada, foi arrumar-se para o trabalho enquanto ele lavava as tigelinhas e os hashis. Ao terminar, Shiryu foi até a sala e se acomodou no sofá, enquanto esperava ela tomar banho e se arrumar. Observou atentamente os móveis antigos, porém bem conservados, provavelmente passados de geração a geração. Sentou no estofado vermelho puído e examinou os porta-retratos sobre a mesinha de centro. Quase todas as fotos eram da moça com o avô, exceto uma onde ela aparecia sozinha. A cesta de bordados estava ao lado do sofá e ele pôde ver o quadrinho que ela estava quase terminando. Era claramente uma imagem da cachoeira. Olhou ao redor da sala: as paredes estavam descascando, o piso de madeira estava bastante castigado pelo tempo e no rodapé faltavam alguns pedaços. Imaginou que a moça fora feliz ali com o avô, e tentou imaginar o tal noivo, mas tudo que conseguia ver era uma imagem caricata de um homem caminhando bêbado pela casa, tropeçando nos móveis e berrando obscenidades, o que definitivamente não combinava com aquela moça.

    Continua...


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