The Game

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    Capítulo 14

    Paradoxo

    A bailarina negra continuava a dançar seu réquiem, não se lembrava da pequena reunião no labirinto ? na verdade, nenhuma das ilusões se lembrava -, rodava e rodava. Estava sob um salgueiro-chorão em um dos limites do jardim. Não podia sair e nem ver o mundo de fora, assim como quem estava fora não podia ver dentro. O vestido balançava com o vento gelado e ela parou para observar ao redor, naquele mundo nada era quente ou gelado demais. Mesmo sendo guiada pelos instintos, não tinha vontade própria e ela sabia quando algo estava errado. Levou uma das mão até o rosto como forma de espanto quando viu milhares de coisas estranhas voando. Uma nuvem negra e ágil que ia para sua direção. A nuvem foi ficando menor e tomando a forma de um homem. Ele estendeu a mão para a bailarina enquanto ia se aproximando.

    - Sempre dançando só. ? comentou o homem ? O que acha de ter um par em seu réquiem?

    A bailarina não podia falar, com os braços encolhidos junto ao corpo ela timidamente esticou o braço e pegou na mão do homem. Já ele sentiu uma energia melancólica e obscura invadir seu corpo. Sabia que aquela garota era um ser perdido em sua escuridão interior. Hiver a puxou para mais perto de si e começou a cantarolar uma melodia triste. Os dois estavam dando passinhos para os lados até que começaram a real dança. A bailarina era guiada por seu par, ela girou em seu comando, fazendo os passos melancólicos com perfeição. Sem notar eles não estavam mais sob o salgueiro-chorão e sim nos limites do Jardim, ela deu alguns passos lentos e por fim abraçou Hiver. Se ela pudesse falar, diria que o amava. Lentamente foi empurrada para trás, o homem por trás da máscara a olhava fixamente. O olhar sombrio de puro desdém, agora ele entendia. Pegou na mão da bailarina e a levou mais próximo dos limites e a empurrou para fora.

    Uma feição de dor e sofrimento tomou o rosto da bailarina que queimava. Rachaduras de fogo surgiram em seu corpo formando desenhos. A bailarina tentava gritar por ajuda, mas não conseguia. Hiver observava intrigado a morte da garota, teria que matar um por um?

    Ela queimou até virar cinzas, cinzas essas que foram levadas pelo vento para longe. Liberdade.

    - Só terão liberdade na morte, hã? ? indagou o homem pensativo ? Ela sabe disso? ? ele deu as costas e desapareceu.

    El olhava sem crer, como assim uma cópia? Aquela menina, ?menina? poderia mesmo chamar assim? Aquele ser de pele encardida a sua frente era tão diferente de si, como poderia ser uma cópia? Deu um estalo em sua memória, Hiver tinha chamado ela assim no passado. Aquilo queria dizer alguma coisa? Não ousou andar para frente ? tinha medo -, e sim deu dois passos para trás.

    - Huhuhuhahahaha está com medo? ? com um sorriso sádico no rosto a outra boneca indagou ? Eu sinto o cheiro do seu medo!

    Nesse instante El deu as costas e passou a correr o mais rápido que pôde. Não olhava para trás, estava tomada pelo medo e desespero. O final da caverna nunca vinha, qual era o começo? Ela ouvia apenas sua respiração ofegante e seus passos pesados, nenhum outro ruído de Elyse. Fechou os olhos com força e quando os abriu estava no mesmo lugar, na frente da outra boneca. Esta a olhava com uma mistura de pena e diversão, ainda sustentava um sorriso no rosto.

    - Mas como...? Corri tanto... ? murmurou El.

    - Certeza? Você deu apenas dois passos. ? a boneca mostrou apontando para os pés da outra ? Quer me deixar? Como todos os outros? ? fez beicinho.

    Novamente El correu para procurar a saída daquela torturante caverna. Enquanto corria tropeçou em uma pedra solta e cortou seu pé, o sangue enquanto saia provocava uma dor insuportável que fez El gritar de dor. Ela estava determinada a sair dali e, por esse motivo pisou firme no chão ignorando a dor que o ato provocou, levantou e voltou a correr. Quando avistou o final da caverna um sentimento de alegria explodiu dentro de si. Quando chegou no buraco pequeno e apertado, sorriu demonstrando alegria, sentiu o vento confortável nos cabelos e os raios do sol machucar-lhe os olhos.

    Retornou para onde estava.

    Elyse a olhou maliciosamente como se estivesse aprontando alguma. O sangue escorrendo de seus olhos estava enlouquecendo El, que se via refletida pelo vidro. Aquela boneca macabra a sua frente não parecia querer deixa-la ir embora. O Jardim parecia querê-la ali para sempre, porém não se lembrava da vida que teve ali, a suposta vida que teve no interior do Jardim.

    - Deve estar se perguntando o que esta havendo, não é? ? séria Elyse olhava a outra de cima a baixo ? Uma clara e simples resposta: Não importando o tanto que você cave, cave, cave os túmulos nunca parecem ter um fim.*

    Agora El teve a completa certeza que a outra era louca, dizia coisas sem nexo. Ou apenas pareciam ser sem nexo. Aquilo teria alguma coisa ligada com seu passado? Ela estava ?cavando? seu passando procurando alguma resposta, ou aquilo não seria a respeito dela?


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