O conto da lareira

  • Finalizada
  • Sora Chan
  • Capitulos 1
  • Gêneros Aventura

Tempo estimado de leitura: 4 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Você.

    A figura já andava há horas, sem muito mais do que descansos rápidos. De baixa estatura, e corpo magricela, aquela pessoa seguia na mata fechada com roupas curiosas para a ocasião. Curiosas, mas, de beleza que chegava a ser mágica. Eu não sabia bem porque começara a segui-la... Talvez porque sua simples aparição parecia algo de outra realidade? O jeito como corria pela grama, mais parecendo estar flutuando ao vento? O fato de ser tão bonita, que a confundi com Vênus, sem nem ao menos saber seu gênero? A maneira como sua voz, brevemente ouvida, soou como a brisa? Eu não sabia, mas, não podia, ou mesmo queria parar agora. Já estávamos no entardecer, e mesmo assim, não dávamos sinal de termos perdido o fôlego.

    O vento balançava seu curto cabelo ruivo, e rindo, você começou a rodopiar e saltitar, contudo, por incrível que pareça, isso te deixou ainda mais rápida, por isso, precisei correr na mesma velocidade, sem me dar conta de que o ambiente mudava, e que, meu corpo ia cedendo aos poucos, e caindo, desacordado.

    Abri os olhos novamente, e vi que o ambiente mudara. As paredes eram de madeira, e havia muitas estantes em volta do quarto, todas de livros de cores e títulos diferentes. O tapete em que eu acordara era macio e cheiroso, por isso, fiquei com muita vontade de apenas dormir de novo, mas, eu sabia que se fizesse isso, perderia a minha chance, de achar você. ??Voc?... Mesmo sendo tão pouco objetivo, é como eu quero me referir a ??voc? agora, já que essa é a única maneira de continuar nessa situação, sem sentir que posso cair da cama a qualquer momento, e acordar desse sonho. Levantei, e segui pela porta de onde vinha um som maravilhoso, com passos tão leves, que se você estivesse mesmo lá dentro, não poderia me ouvir, e fugir.

    Assim que entrei, vi que o quarto era parecido com o anterior, e que ??você ??morava ali. Dentre os quadros do local, se destacavam os de barcos, castelos e florestas, provavelmente, os seus preferidos. Em uma das paredes, havia uma bonita lareira, que estranhamente, não emanava fumaça, e era perto dela que ??voc? estava. Desviando dos livros abertos no chão, andei o mais rápido que pude pelo grande quarto até onde você estava, até que...

    Eu caí. De repente, não podia mais andar, ou nem mesmo, me levantar. Você estava ali, na minha frente, e eu não podia fazer absolutamente nada. Te olhei , com ironia, esperando que fizesse algo, mas, nem ao menos virou o rosto. A frustração possuía cada nervo meu, e quase quis gritar com você, mas, eu já sabia que de nada adiantaria. Abaixei a cabeça, e mordi os lábios, contrariado. Os olhos começavam a umedecer.

    - Ah, mas, essa cara de choro não presta! ? sua voz chegou aos meus ouvidos. ? Levante a cabeça.

    Obedeci, e senti minha tristeza se esvair, ao ver que você estava bem na minha frente. Os olhos eram ora cor de âmbar, ora dourado-alaranjado. Com o dedo, enxugou uma lágrima que começava a escorrer, e sorriu enquanto algo semelhante a uma flauta tocava. Quando finalmente dei foco a seu rosto, você se afastou, e parou em frente à lareira. Olhou para trás uma última vez, antes das chamas te engolirem, e meus olhos apagarem.

    ...

    Muitos anos, desde aquele dia, onde tive meu único encontro com ??voc?. Sentado sozinho em minha cadeira de balanço, observo o quarto, que fiz com todo o cuidado, para se assemelhar aquele onde me disse a frase que estivera em minha mente pelos últimos anos: ?? Ah, mas, essa cara de choro não presta! Levante a cabeça??. O que você diria agora, para esse velho chorão, que não consegue conter as lágrimas ao sentir o antigo coração, começar a falhar?

    Encaro minha lareira, e quase infarto, ao ver as chamas aumentando, e formando silhueta humana, a minha frente. Que Pan me ouça, era ??voc?!

    - Velho chorão. ? você disse, emburrando o rosto ? Mas, quem foi que te deixou crescer?

    Tocou meu rosto, e ao mesmo tempo em que senti esse corpo morrer, vi meu espírito se libertar, e voltar à antiga forma, jovem, parando a sua frente. Estendeu-me sua mão, e disse:

    - Me esperou mesmo por todo esse tempo? ? e antes que eu pudesse pegar sua mão, segurou meu pulso, e correu para a lareira, até parar bem na sua frente. ? Não vai poder ficar comigo se não souber o meu nome! ? o tom era magoado.

    Olhei bem para seu rosto, como não pudera fazer tantos anos antes, e soube na mesma hora, a única palavra que poderia te intitular, e foi essa, que disse, falando em sua frente pela primeira vez.

    - Ah... Você sabe! Sabe sim! Realmente sabe! ? comemorou, enxugando uma lágrima dos olhos, e segurando firmemente minha mão.

    As chamas nos comeram, mas, eu ainda via seu rosto, e dessa vez, sabia, que ficaria junto de você para sempre, mesmo que nas brasas daquele fogo tão ardente que nos consumia, junto com nossos risos.


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