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Nós andamos por certo tempo até ficarmos distantes o suficiente para que ninguém da casa nos ouvisse. Reparei que ele não tentou segurar minha mão em nenhum momento.
Estávamos bastante distantes agora. Edward se sentou em um tronco de árvore para ficar da altura de meus olhos, eu não conseguia encara-lo.
- Olhe para mim, Renesme.
Eu ergui meu olhar. Fiquei aliviada por que não havia raiva. Havia uma expressão que eu não conhecia no rosto dele.
- Eu sei que deve ser extremamente difícil para você, por vários motivos, conviver conosco...
Eu sacudi minha cabeça, não estava entendendo. Ele estava culpando aos outros?
?Eu é que fui atrás de respostas! Eu é que tinha quebrado tudo o que era certo para minha idade... mas, afinal o que era o certo??
Meus pensamentos pareciam pulsar dentro da minha cabeça.
Então ele parou avaliando minha reação e algo mudou em sua atitude, sua expressão se anuviou um pouco.
- Me explique, por favor, como você se sente.
Eu olhei para baixo mais uma vez, encarando os perfeitos sapatos de boneca que calçava.
?Como eu poderia explicar? O que eu deveria explicar? Já não devia estar óbvio...?
- Me desculpe, mas não está claro. A certo tempo não tenho conseguido decifrar exatamente o que você tem pensado. Talvez seja algo que você herdou de sua mãe, não sei. Adivinhei que boa parte dos seus recentes pensamentos te levaria inevitavelmente para longe de nós... E hoje seus pensamentos estão particularmente ilegíveis, como se existissem dezenas de camadas e eu apenas conseguisse pegar partes destas camadas.
- Eu não entendo o que quer dizer. ? eu respondi.
Ele sorriu de uma forma nova também, meio preocupada, mas doce.
- Penso, que talvez tenha tentado adivinhar demais. No entanto, se você quiser confiar em mim o suficiente, você sabe que estou aqui para você.
Ele deixou um tempo isso no ar. Eu parei de torcer minhas mãos e o encarei.
Eu não havia entendido aquele discurso, mas captei que ele não conseguia decifrar claramente os meus pensamentos. Uma ligeira sensação de alívio me tomou antes que eu decidisse falar.
- Eu me sinto... Diferente ? consegui colocar para fora.
Ele esperou e eu comecei a caminhar indo e voltando sem encará-lo.
- Hoje, eu me senti bem, sozinha... ? minha voz saia muito baixa, mas sabia que ele não tinha problemas em ouvi-la.
Eu não estava acostumada a fazer discursos, era mais apegada a diálogos mentais.
- ... Me senti diferente, e ainda não entendi a razão. Eu.. ? aí hesitei um segundo, mas decidi que podia confiar nele.
- ... acho que não me conheço, não sei quem sou.
Então, eu silenciei. Parei de andar também. O barulho do vento frio foi à única coisa entre nós por um tempo.
Quando percebi Edward me envolveu em seus braços.
- Você cresceu.
Eu suspirei involuntariamente. Tentei não pensar em mais nada, no entanto não consegui deixar de falar.
- Por favor, não fala nada para os outros...
- Eu acho que isso não será necessário. ? ele se afastou um pouco e novamente se baixou para me olhar nos olhos.
- Você é uma garota incrível, tão madura em tão pouco tempo...
- Eles iam ficar assustados. ? completei.
Ele fechou um pouco os olhos e sussurrou, ainda olhando pra mim.
- Falando honestamente, isto me assusta um pouco também.
Eu sorri involuntariamente.
- Mas eu sei que você já sabe disso, inteligente como é. ? continuou ele.
Eu corei um pouco, envergonhada.
Ele se levantou e pegou minha mão para voltarmos para casa. Naquele momento eu soube que ninguém naquela casa nunca me entenderia como Edward e me senti momentaneamente aliviada.
Quando chegamos a casa Bella nos alcançou em um átimo, ela estava realmente incomodada por ter ficado fora de nossa conversa. Eu sorri assim que a vi e sua feição se transformou automaticamente, anuviada.
Eu me sentei para assistir televisão no sofá e senti todos os outros se moldarem a minha volta, como uma dança fantástica em que eu era o centro das atenções. Nunca antes tive total consciência da importância que me davam.
- O que vai ser hoje, Nessie? ? tia Rosalie me perguntou, sentada no sofá ao lado.
Eu pensei por um minuto antes de responder. Todas as noites nós assistíamos a filmes juntos, eu não lembrava quando o costume havia começado, apenas que até então nós apenas havíamos assistido a desenhos e filmes em que não havia nenhum personagem com alguma profundidade, como dizer que isso agora não me agradava?
- Guerra nas Estrelas. ? eu disse.
A risada de tio Emmett soou alta e vi pelo canto de olho tia Rosalie fazer uma ligeira careta. Alice já estava colocando o DVD no aparelho, o fato de ela não poder adivinhar na maioria das vezes qual filme eu iria escolher não a chateava mais como antes, chegava até a diverti-la. Carlisle e Esme se acomodaram ao meu lado direito e Edward e Bella no esquerdo.
- Sabe Nessie... ? Bella soou - ... Vou ficar realmente feliz quando você for mais velha.
Eu me sobressaltei, todos os olhos agora estavam fixos nela, uma fenda leve estava entre suas sobrancelhas.
- Tenho certeza de que seu gosto será muito melhor...
- Shh... ? fez tio Jasper, que surpreendentemente parecia querer prestar atenção.
Atrás de Bella encarei Edward levemente exasperada, ele me lançou um sorriso e uma piscadela cúmplice.