|
Tempo estimado de leitura: 3 horas
10 |
Vagarosamente, lutando contra a coragem que parecia querer me abandonar, finalmente ergui minha cabeça. Um enorme espelho cobria quase que inteiramente uma parede, eu vidrei meus olhos, o coração completamente desestabilizado, pisquei algumas vezes um pouco escandalizada enquanto analisava a criatura refletida.
Uma criança de no máximo cinco anos me encarou de volta. Ela usava um vestido rosa extremamente enfeitado, com babados na saia e mangas levemente bufantes.
?Onde? Quem tinha comprado isso pra mim? Eu nem gostava de rosa!?
Me aproximei um pouco da imagem no espelho, os cabelos cor de bronze, ondulados e caindo nas costas deixavam a criança com aparência de ser ainda menor. Nos pés meias impecavelmente brancas envolviam os pés pequenos dentro do sapato preto e luzidio.
Voltei a encarar o rosto, bochechas redondas preenchiam o rosto infantil. Um par de olhos grandes e castanhos encaravam a feição redonda com o olhar acusador, cheio de desprezo e horror. A boca era pequena era em forma de coração, mordi os lábios. Uma fita rosa ornava a cabeça da figura.
- Quem é você? ? não pude deixar de perguntar, e o som da minha voz, mais do que nunca, me encheu de vergonha.
Levei ambas as mãos a boca, como se pudesse conter o tom, conter o corpo infantil que agora me encarava lívido.
Eu entendia agora. A humanidade não era algo físico, era algo muito diferente, eu nunca conseguiria especificar se me perguntassem naquele momento, mas eu sentia. Eu entendia.
?Eles não devem saber que eu sei ? eu pensei, enquanto respirava lentamente ? ficarão preocupados... confusos, eu ainda não entendo. Acho que não deveria entender.?
Eu me sentei automaticamente no divã de tia Rosalie enquanto sentia um leve tremor percorrer meu corpo.
Tanta coisa ainda para saber! Eu precisava saber mais! Muito mais!
Eu respirei mais uma vez, eu estava feliz, pelo menos agora eu tinha uma consciência.
Ouvi um barulho lá embaixo e rapidamente voltei à biblioteca e, marcando o último livro que havia começado, coloquei os outros nos seus locais corretos. Lá embaixo risadas soavam.
Para tentar amenizar meu cheiro tentei tocar em todos os locais que pude alcançar, eu não sabia fazer aquilo direito. Muito bem.
Rapidamente desci as escadas e encontrei sentados no sofá Jacob e Brady. Esme estava na cozinha, provavelmente preparando algo para nós. Senti um rubor involuntário, eu nem ao menos podia me alimentar sozinha...
Jacob parou de falar assim que me viu, virou para mim com um sorriso. Por um momento pensei que ele poderia ler através de mim, mas ele apenas disse, como sempre:
- E aí baixinha? Então, eles finalmente te deixaram em paz?
Eu sorri um pouco, internamente presunçosa, mas tentei reproduzir meu costumeiro sorriso inocente. Ele piscou uma vez, com uma expressão estranha que passou velozmente, antes de voltar ao normal, com o mesmo sorriso de antes.
- O que você estava fazendo?
De repente fiquei rígida. Eu sabia o que normalmente eu faria: me aproximaria e tocaria seu braço, mostrando por imagens o que estivera fazendo todo esse tempo. E agora? Não queria que ninguém soubesse o que tinha acabado de acontecer, minha descoberta, o conhecimento extremo que tinha obtido.
Comecei a entrar em desespero enquanto caminhava em sua direção tentando parecer tranqüila. Se ao menos eu pudesse mudar a memória! Tentei forçar dentro da minha cabeça: Peguei um livro de contos na biblioteca e adormeci enquanto lia, peguei um livro na biblioteca e adormeci enquanto lia. Tentei visualizar a memória inventada ainda de olhos abertos, como tinha feito antes com o tabuleiro de xadrez pra encobrir A Profecia de Edward. A diferença é que eu teria que passar essa mentira.
Estava a centímetros dele agora. Agitada sentia meu corpo queimar, como se tivesse uma fogueira interna e quase podia ouvir meu cérebro fumegando.
Então quando o toquei, concentrando-me o máximo que pude, pude sentir a queimação atravessar velozmente da minha cabeça para minha mão e... Aconteceu. Como um jato à memória falsa passou para ele. Jacob piscou e assim que senti que havia acabado, retirei rápido a mão, como se algo pudesse me denunciar.
Eu senti que ia arfar, mas forcei um ar indiferente e engoli qualquer reação que poderia ter olhando para a cozinha, como se estivesse esperando impaciente Esme trazer a comida.
Voltei então a encará-lo e ele sorrindo passou a mão pela minha cabeça.
- Se você estiver entediada pode ir lá em casa, você sabe, não é? ? seu sorriso era carinhoso e ligeiramente preocupado.
Eu sorri de volta, me sentindo culpada e sacudi afirmativamente a cabeça.
Nós comemos (na verdade eu me forcei a comer um pouco, o gosto da comida naquela hora estava apenas provocando enjôo) e vendo o relógio percebi que muito tempo havia passado, eu ainda queria pensar no que havia acontecido durante o dia, então quanto os garotos terminaram de comer levando uma boa quantidade de comida para Leah, ou para mais tarde, eu decidi não ir com eles. Jacob pareceu desapontado e vi que hesitou levemente antes de decidir voltar para a casa.
Eu impulsivamente segurei sua mão e ainda me sentindo culpada tentei amenizar as coisas:
- Amanhã. ? eu sussurrei, olhando pra baixo.
- Ok então te vejo lá! ? ele disse.
Depois que eles se foram eu disse a Esme que queria tirar um cochilo, ela assentiu, mas disse para eu não dormir demais ou perderia o sono à noite. Subi correndo para meu quarto.
Meu cérebro estava uma confusão geral, como eu havia feito aquilo? Fiquei repentinamente excitada, isso era ótimo, era maravilhoso! Pelo menos enquanto eu tivesse que continuar mostrando minhas memórias aos outros, como eles já haviam se acostumado, eu poderia inventar qualquer coisa que eu quisesse!
Então como um tiro gelado algo certeiro me acertou e parei de perambular pelo quarto extremamente enfeitado que me pertencia. Não daria certo! Eu tinha esquecido algo óbvio, algo de que não poderia fugir: meu pai. Edward saberia de tudo! No minuto que entrasse em minha mente notaria que eu havia mudado e iria querer exatamente o que tinha acontecido... então minha farsa estaria arruinada!
Sentei em minha cama de colcha de coelhos desesperançada.
Eu sabia que havia truques para tentar driblar Edward, mas nenhum funcionaria por muito tempo, não para disfarçar todas as emoções que eu havia provocado naquela única e primeira tarde sozinha.
Eu deitei na minha cama, infeliz. Eles não mereciam isso, que eu fosse uma constante forma de preocupação. Minha família ainda não estaria preparada para lidar com isso.
Esse pensamento me fez rir ? meu conhecimento repentino era ligeiramente assustador. Como se tivesse provado do fruto proibido do Éden e percebesse que estava nua. ? uma das lições daquela manhã com Esme fora sobre religião, eu realmente aprendia rápido.
Fechei meus olhos e quando dei por mim alguém alisava meu rosto. Bella estava sentada ao meu lado na cama, seus olhos com uma cor mel derretido.
- Olá Renesmee...
- Mãe!
- Tudo bem Nessie? Como foi o dia? ? e ela me deu um abraço de pedra, seu cheiro doce em minhas narinas me deixando mais culpada do que nunca.
- Onde está Edward? ? perguntei, com um frio na barriga.
- Estou aqui. ? ele estava parado no batente da porta, logo atrás de Bella. Quando nossos olhares se encontraram ele me encarou com as duas sobrancelhas levantadas.
Eu fiquei meio desesperada, tentando não pensar em nada que me comprometesse demais. Meu medo mudo não durou muito tempo.
- Nessie, você não quer dar uma volta comigo? ? a voz dele me sobressaltou ? Esme disse que você não saiu de casa hoje.
Eu apenas sacudi a cabeça.
- Eu vou junto né? ? Bella perguntou, meio ressentida
?Por favor, não!?
?Por favor, não! Por favor, não! Por favor, não! Por favor, não!?. ? foi tudo o que eu consegui pensar
- Você não acha que andou monopolizando nossa filha demais? ? ele respondeu em um tom leve de humor ? Não se preocupe, não demoraremos.
Nós descemos pela escada dos fundos, enquanto eu tentava de todas as formas controlar meus pensamentos decompostos.