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Eu despertei e meus olhos se perderam em um ambiente estranho, apesar de escuro eu conseguia visualizar o pequeno quarto perfeitamente. Estava deitada em uma cama um pouco maior que a antiga em cumprimento, pelo lado esquerdo uma parede estava rente por toda a extensão do colchão. Nesta parede ao meu lado avistei uma enorme janela, se eu ficasse de joelhos na cama provavelmente poderia apoiar os cotovelos na balaustrada para ver a paisagem, porém as esquadrias de madeira escura estavam fechadas. Levantei e me sentei na cama, para poder visualizar melhor o recinto.
Atrás da cabeceira da cama após um espaço de meio metro havia uma escrivaninha e uma pequena cadeira, ainda de frente para a mesma parede. A janela era tão grande que provavelmente também poderia olhar para fora sentada ali.
Depois da escrivaninha estava outra parede onde tinham duas portas, me ergui para checar, a primeira dava para um pequeno banheiro (com chuveiro e tudo) e a segunda abria um closet de uns dois metros de cumprimento que estava recheado de roupas. Paralela à parede da cama estava outra parede onde havia uma penteadeira e outra porta ? que deduzi ser a de saída ? e na parede do lado esquerdo um armário grande.
Ouvi vozes fora do quarto e deduzi que haviam percebido que eu acordara, mas estavam me dando espaço para me acostumar com o novo ambiente. Eu me voltei para a cama e forçando o trinco consegui abrir a janela, que gemeu levemente ? as vozes ao longe hesitaram um momento e depois continuaram ? a luz inundou meu quarto novo e eu sorri extasiada. A vista era plana e repleta de vegetação, havia um descampado por certo espaço e então bem ao fundo, antes da mata, podia ver uma construção vermelha de madeira com janelas brancas. Voltei-me para o quarto, ele fora pintado de azul e os móveis eram todos brancos, inclusive as portas.
Abriram a porta, era tia Alice, é claro.
- Oh, ela gostou. ? sua voz melodiosa vibrou.
Um segundo depois muitos seres familiares estavam parados na porta, Bella deu um empurrão amigável em tia Alice com os ombros exigindo um espaço, então vendo meu estado de ânimo sorriu para mim.
- É ela gostou. ? repetiu.
Eu corri para minha mãe segurando sua mão.
- É claro. ? ela pareceu um pouco relutante.
Edward riu e se voltou para tio Emmett e tia Rosalie que estavam com eles.
- Ela quer os presentes. ? esclareceu.
Tia Rose se adiantou.
- Mas primeiro você tem que se arrumar. ? olhou para minha aparência com uma cara desaprovadora.
Eu passei minha mão em cima de minha cabeça, a juba de cabelos parecia estar por toda à parte.
Emmett rugiu imitando um leão, eu mostrei a língua pra ele um pouco envergonhada. Tentei empurra-lo inutilmente para fora.
- Vamos deixar as garotas se divertirem. ? meu pai disse a ele, pegando-o pelo braço.
Ficamos no quarto minhas tias, minha mãe e eu. Bella se sentou na cama comigo ao lado enquanto Alice escolhia uma roupa para eu colocar e tia Rose penteava meus cabelos.
Algum tempo depois eu estava me divertindo com o pequeno tabuleiro de xadrez que havia ganhado de minha mãe (desde aquela discussão sobre meu cérebro eu não tinha voltado a jogar e agora estava ávida para continuar), as peças eram douradas e prateadas assim como os tons do tabuleiro e podiam-se guardar as peças dentro do próprio tabuleiro, que se dobrava. Eu tinha achado aquilo fantástico.
No momento em que Jacob entrou na ampla sala eu estava tentando jogar contra Jasper, mas era extremamente difícil (ele parecia convencido a não se deixar vencer por mim). Haviam horas que eu tinha despertado e percorrido os outros quartos que ficavam no andar de cima.
O quarto dos meus pais era o primeiro depois da escada à esquerda do corredor (o meu ficava na ponta direita), depois vinha o escritório de Carlisle, o quarto de Esme e Carlisle, a pequena biblioteca, o quarto de tia Rose e Emmett, um banheiro e na outra ponta o quarto de Alice e Jasper no final do corredor à esquerda.
Além do tabuleiro de xadrez tinha ganhado de Alice e Jasper um aeromodelo (Alice havia previsto o começo de meu fascínio por voar que começou na viagem, daí por diante qualquer coisa relacionada ao assunto me encantava), um arco e um tubo repleto de flechas de tio Emmett e tia Rosalie (eu tinha pedido depois de ver num desenho animado), Edward tinha me dado um quadriciclo e Esme e Carlisle haviam montado, para meu completo encanto, um espaço do lado esquerdo da casa com um balanço e um espelho d água.
Jacob deu uma breve olhada na sala, todos estavam dispostos em lugares diferentes ? meus avôs estavam no andar de cima, tia Alice em uma cadeira de balanço daquelas de idosos ? parte da nova mobília - meus pais no sofá e tia Rose e Emmett estavam caçando. Ele já deveria ter visto a casa, mas parecia contemplar o ambiente novo em silêncio.
Ele aguardou educadamente nós terminarmos o jogo (Jasper ganhou de novo) e então eu corri para ele.
- Agora quer dar uma olhada na minha casa? ? ele sussurrou.
Eu voltei meus olhos para meus pais, Bella apenas acenou e nós corremos porta afora. Dirigimos-nos pelo caminho que eu conseguira ver da minha janela e quando nos aproximamos da construção em tons vermelhos reparei na terra revirada em frente a casa.
Jake se abaixou um pouco
- Nós vamos fazer uma plantação.
Eu voltei a olhar para a terra remexida, não fazia idéia do que ele estava falando, mas não perguntei, ele já havia passado pela porta. Parecia ansioso então eu o segui.
Havia uma sala grande, provavelmente media metade do térreo de nossa nova casa. Brady estava sentado em um sofá de couro marrom assistindo TV de frente para a porta, do lado direito. Atrás dele estava uma mesa redonda com três cadeiras e a cozinha com apenas um balcão para separá-la do resto do espaço. Aos fundos do lado esquerdo havia um pequeno corredor com duas portas.
- Esse é o quarto de Leah ? me informou, enquanto apontava naquela direção ? a outra porta é o banheiro dela.
Á esquerda havia uma escada larga que ele começou a subir e eu acompanhei. No topo dela me deparei com um pequeno espaço formado por um tapete redondo e três poltronas, algumas estantes com livros estavam rente às paredes. Do lado direito um vitral em forma de triângulo permitia antever a paisagem defronte. Ele seguiu pelo corredor á esquerda, havia duas portas uma paralela a outra que ele indicou serem os quartos. O corredor acabou e fiquei me perguntando o que ele estava fazendo parado ali.
Jacob se virou para mim com um sorriso entusiasmado, então puxou uma corda que eu não tinha percebido pender do teto, uma pequena escada desceu.
- Um esconderijo! ? não pude deixar de exclamar.
Eu subi antes dele e entrei num recinto de tamanho médio, alguma mobília antiga estava disposta aleatoriamente. Em minha frente notei uma pequena porta que corri para abrir e, para meu espanto, me vi ante uma nova escada em caracol empoeirada, que subi logo. A escada dava em um quarto de não mais de um metro por um, que estava totalmente vazio.
Virei-me pra Jacob que tinha acabado de entrar quase cobrindo todo o espaço.
- Não tem nada aqui! ? reclamei.
Ele fez uma cara ofendida.
- É por que você não olhou direito...
Então ele tateou do lado da entrada e ouvi um ?clic? antes de sentir o chão tremer, o piso estava subindo em direção ao teto. Eu olhei para Jake com medo de sermos esmagados, mas como ele continuava sorrindo eu relaxei. Um segundo depois o teto se abriu, deixando um espaço quadrado que me possibilitava ver o céu se aproximando, vários ruídos de máquinas continuaram por um tempo até que com um estalo chegamos ao telhado acima da casa.
- Uau! ? fiz contemplando a paisagem ao redor. A mansão estava um pouco distante as nossas costas, minha grande janela no segundo andar aberta. Quando olhei para baixo visualizei a parte do teto que tinha se virado para trás, como uma tampa, para dar espaço para subirmos. Então olhando para frente vislumbrei um cubículo de paredes gastas e forma arredondada, fixo de maneira estranha no teto da casa onde agora estávamos.
- Entra você, não cabemos os dois. ? ele soou.
Eu obedeci, e me vi diante de uma cadeira rasgada e um tipo de alavanca que puxei automaticamente. Novos sons metálicos se fizeram ouvir e um tipo de visor desceu do teto, eu olhei por ele tendo que subir na cadeira para isso. Eu via o céu, as nuvens passando.
- É pra poder ver as estrelas á noite. ? explicou.
Virei-me para a entrada onde ele estava, avaliando a minha reação.
- Eu acho que sua família não deve ter reparado, ou não devem ter ligado. Não sei. ? ele deu de ombros. Eu ainda estava imóvel.
Ele pareceu incomodado com meu silêncio.
- Eu ia te dar outra coisa, mas isso pareceu mais legal...
Eu pisquei ainda de cima da cadeira.
- Dá pra ver as pessoas que moram nas estrelas? ? finalmente disse.
Ele arregalou os olhos enquanto eu esperava a resposta, então fazendo muita força pra não rir ? o que me irritou ? respondeu:
- Ninguém mora nas estrelas sua bitolada!
E aí ele arrebentou em risadas. Eu continuei extremamente indignada e imóvel, então desci devagar e me postei na frente dele, ainda magoada.
- Eu li em um livro... ? comecei devagar, tentando me justificar.
Então ele inesperadamente me agarrou em um abraço apertado, levantando-me do chão.
- Esquece. Eu sou um idiota, você não fez nada errado.
- É claro que não! ? me ofendi ? Como eu ia saber disso?
Ele me afastou um pouco pra me olhar, divertido.
- Não teria como se ninguém te dissesse, você tá certa.
- Nada de pessoinhas nas estrelas?
Ele chacoalhou a cabeça em negativa.
- Nem na Lua?
Ele riu uma vez.
- Não que se tenha ouvido falar.
Eu fiquei um momento em silêncio e então pondo a mão em seu rosto indaguei como desceríamos dali. Ele apenas acenou com a cabeça em direção ao cubículo e vi um botão gasto vermelho que não tinha reparado antes.
Sorri e perguntei ainda por meio de imagens se poderíamos voltar à noite.
- Se seus pais deixarem... ? deu de ombros, então me encarou por um instante e seu rosto adquiriu um tom de brincadeira.
- Se segura! ? eu adivinhei na hora que ele iria pular do teto e ri de satisfação envolvendo seu pescoço.
- Pronta? ? eu fiz que sim
E por um instante eu senti que poderia voar.