Uma mulher estava sentada sobre o gramado verde, tocando uma canção nostálgica, com a sua harpa, enquanto a suave brisa do vento, bagunçava o seu cabelo ruivo e fazia o seu aroma espalhar pelo campo, e sempre que me via, ela caminhava em minha direção e me envolvia em seus braços, fazendo me sentir seguro.
....: - Bem vindo de volto, Mikah, estava esperando por você à horas. ? Com o mesmo sorriso encantador de sempre, que enchia o meu coração de paz.
Mikah: - Sinto muito ...., é que hoje fiquei preso no trabalho e demorei para chegar em casa. ? Desviei o olhar dele por me sentir culpada por fazê-la esperar.
....: - Tudo bem, o importante é que você está aqui comigo agora. Vamos, estou morrendo de curiosidade para ouvir sobre o seu dia. ? Ela logo me abraçou, como sempre faz.
Mikah: - Haha, tudo bem...., bem, o meu dia...
Há mais ou menos um ano atrás, comecei a ter esse mesmo tipo de sonho, que mais parece ser realidade, e para mim, este ?sonho? se tornou a fuga do mundo real, já que desde criança, eu sempre estive sozinho, pelo meu olho esquerdo ser branco e pelo fato dos meus pais serem assassinados quando eu tinha apenas um ano, disseram que quando a policia chegou, viu meus pais sobre o meu corpo, ainda pequeno, como se eles estivessem tentando me proteger de algo, mas no fim, ninguém foi preso, e o caso continua um mistério até hoje.
Após o assassinato, fiquei sobre a guarda do meu avô até os 5 anos de idade, quando aquele inferno se repetiu na mesma data que os meus pais foram mortos, estava tudo tranquilo, eu estava brincando no chão, perto da velha maquina de lavar, foi quando o meu avô avistou algo pela janela e correu em minha direção, e me mandou me esconder no porão da casa e ficar segurando uma cruz, tomado pelo medo e pela dúvida, fiquei tremendo e chorando no canto escuro, enquanto ouvia gritos do meu avô, logo em cima de mim, até que gotas de sangue começara a escorrer pelos buracos da tábua, finalmente, o lugar foi tomado pelo silêncio.
Quando abri a porta do porão, me deparei com um homem de olhos vermelhos, pisando no corpo de meu avô, já sem vida, naquele momento deixei a cruz cair no chão, fazendo com que, o homem notasse a minha presença e se aproximasse de mim, meu corpo estava paralisado e não conseguia fugir, no momento que pensei que o meu fim estava próximo, uma luz, pairou sobre o corpo do homem, que desapareceu em um instante, naquele momento tive certeza que, quem matou os meus pais, e agora o meu avô, não era humano.
Os vizinhos logo chamaram a polícia, após ouvir os gritos vindos da nossa casa, e eu comecei a ser conhecido como a ?Criança Amaldiçoada?.
Nenhum parente próximo, queriam a minha guarda, com medo de que sofra o mesmo destino que meus pais, e eu fui mandado para o Orfanato Fairchild, no subúrbio de Manchester, onde permaneci até a minha maioridade, o tempo que fiquei neste lugar, foi o suficiente para criar um imenso muro no meu coração, já que tanto as crianças do orfanato, como os adultos que chegavam lá, sempre me evitavam e me olhavam com medo, e isso se repetia quase toda semana de visita, e com o tempo me acostumei e comecei a me isolar das pessoas.
Desde então, o único lugar que me sinto vivo, é dentro de meu sonho, com aquela mulher, que nunca demonstrou estar com medo de mim, e nem me olhar de uma forma diferente, por causa do meu olho esquerdo, esses momentos, se tornaram a minha realidade.
Mikah: - ...E o meu chefe, brigou com um estagiário porque ele derramou o café no cliente, haha. ? Enquanto ria dos acontecimentos, continuei contando sobre o meu dia para ela.
....: - E você fica rindo por causa disso Senhor Mikah ?! Deveria ter ajudado, já que você é veterano. ? A mulher apertava as minhas bochechas enquanto sorria para mim.
Mikah: - Me desculpa, mas aquilo foi muito engraçado. ? Ela finalmente soltou as minhas bochechas, mas deu um tapa fraco na minha testa.
....: - Mas, fico feliz em saber que os seus dias estão melhores, feche os olhos, Mikah.
Mikah: - Hm ?! Tudo bem... ? Fechei os meus olhos.
....: - Você nunca estará sozinho, sempre terá a mim, ao seu lado, sempre.
Os seus lábios tocaram os meus, o meu primeiro beijo, senti um calor tomar o meu corpo, meu coração disparou, e eu a envolvi em meus braços, e ela sussurrou em meu ouvido:
....: - Eu te amo, Mikah.
Após ouvir aquelas palavras, um flash de luz, cegou os meus olhos, quando o efeito passou e olhei a minha volta, já era tarde demais, eu havia despertado do meu sonho.
Mikah: - Eu te amo...Ariel...
Depois deste dia, nunca mais a encontrei em meus sonhos...