Como eu previra, minhas vestimentas já estavam cobertas de vermelho, assim, como as de Allives. Os inimigos eram inúmeros, ocupando cada parte da casa. Que ousadia. Já havíamos chegado ao tão esperado nível de não olhar mais para tirar a vida dos outros. Não precisávamos mesmo manter as expressões de terror deles guardadas em nossas mentes. A culpa não era uma opção. As cabeças rolavam pelo chão, como um jogo de críquete, até se desfazer em pó, juntamente com o corpo. A voz de Xeax cortava nossos ouvidos, cada vez mais alta. Ele também lutava, contra almas sonhadoras, dispostas a servir a casa, com tanta determinação quanto nós, destruindo os guardiões. Meu coração batia, agitado, pelo tem que passara correndo. A voz ficava cada vez mais alta, e soava como a de alguém que também corria. As três batidas distintas, cada uma com seu próprio ritmo.
Então, a voz parou, e nós consequentemente, paramos também. Ou pelo menos, eu parei, porque Allives, seguia para frente, com tal ferocidade no rosto, até ser engolido pelo caminho escuro, e tudo se calar. As respirações deles não eram mais ouvidas, e eu tentava ignorar a minha. Caminhei silenciosamente pelo menos caminho que Allives seguira, até que seu grito cortou o silêncio. Um grito terrível, de pura dor; a dor e a coragem se confrontando, ele berrava. Logo, as luzes aumentaram, e pude ver o motivo deus berros.
Xeax de pé, com a arma em mãos, e Allives ao canto do quarto, de joelhos, apertando a própria cabeça. As presas do rapaz, já apareciam novamente, e os cabelos clareavam, contradizendo os olhos, que em vez de vermelhos, estavam brancos, como se tentassem resistir. Sua face estava vermelha, pela provável força que fazia. Me virei, sem demonstrar minha fúria, para Xeax, e me surpreendi ao ver que seu rosto também estava surpreso. Allives se calara.
- Que acontecestes aqui? - perguntei para Xeax, tentando soar calma. - Atacastes meu servo?
- Vejo que usa formalidades quando se estressa... - ele comentou ironicamente. - Acha que tive tempo de fazer algo? Mal toquei-o e soltou tal grito, que a ''senhora'' deve ter ouvido. Não machuquei o sucessor.
- Sucessor? Estás a dizer-me que este é o filho de seu Lorde? - devolvi, soando agitada. - Então quer dizer que as vezes até mesmo ele não consegue conter a vontade de seduzir uma moça... - ri.
- Ria novamente e corto sua língua, mulher. O rei já sabe da situação do ''sucessor'', e pediu para que eu explicasse tudo a você, então, cale-se e escute.Lamento primeiramente,dizer que este a quem chama de senhor se sentiu atraído por uma mortal ambiciosa. Após realizarem o ato proibido, a mulher se deixou ser morta por ele, não sem antes, naquela mesma noite, dar a luz a este filho bastardo, que vê ali. O Rei não se deu pensar em uma explicação para sua esposa, e por isso, disfarçou a criança de humano, e o fez crescer sobe a custódia do cadáver da que o fez vir a esse mundo, pegando seu cadáver, e congelando no tempo, para que não apodrecesse, e deixá-lo vivo, até a hora que seu... ''Pai'', precisasse usá-lo de alguma forma. - ele pausou, como se avaliasse sua frase. Aparentemente, ela estava boa, porque continuou. - Acontece que essa hora chegou, e foi quando sua esposa, Lúxuris, faleceu, por ter se perdido e ficado muito tempo sem se alimentar. Como o Rei não tem tempo para remorsos, me enviou para levar sua criança até sua presença, para que pudesse ao menos colocá-lo sobe os cuidados de alguém habilidoso, e ter um bom sucessor. - parou novamente, e sua voz se tornara mais agressiva.
- Acontece, que ninguém sabia dessa criança bastarda, e por isso, todos davam o máximo de si para provar ao Rei, ao seu mestre, seu líder, apenas para provar que tinham capacidade de sucedê-lo. Até que este líder, surge com uma criança assustada... Um menino, que mais parece uma menina, de tão covarde que era... E assim que a pessoa encarregada de buscá-la avisa que o capturou com sucesso, o rei diz: '' Este é meu sucessor.'' - ele parou, e riu amargamente - Todos furiosos, decepcionados... Como uma criatura tão frágil poderia suceder alguém tão poderoso quando o Rei? Como?
- Vá direto ao ponto. Não estou aqui para ouvir seus sentimentos. - cortei-o, bruscamente.
- Já disse para calar-se, ''mulher da noite''. Isto faz parte da mensagem, então cala-te e ouve. Tão furioso quanto os outros, não pude resistir, não pude suportar, e com isso, ataquei o andrógeno, e qual foi minha surpresa, ao ver que este já tinha o sangue imortal correndo nas veias? Após ser castigado severamente, fui mandado aqui para buscar este ali no chão. Cada coisa que disse, foi ditada pelo Rei, e deve ser cumprida. Me entregue-o.
- Eu me calei quando insultou meu servo. Me calei quando chamou-me de prostituta, todavia, espera que eu assista você levar um ''objeto'' meu, sem fazer nada? - ri, maliciosamente. - Pois bem, avance. Tolos aqueles que não notaram, que tudo que você desejava, era a aprovação do Rei. Assim como tantos outros de sua espécie, largado pelos pais, por ser nada mais que uma cria do diabo. Você não desejava o poder, e sim o afeto. Apenas outro fraco, que se prende a ideais ridículos. Você é inútil, Xeax. - concluí, desprezando-o. Podia parecer o que fosse. Um vampiro, um demônio, um bastardo... Por dentro, aquilo não passava de alguém que buscava preencher seus buracos, assim como eu já fora um dia.
- Por acaso é surda, prostituta? - ele disse, ferozmente. - Com quem acha que está me comparando? Apenas me dê o maldito moleque. - avançou com a lâmina.
- Por quanto tempo vai ficar parado aí, objeto? -eu disse, pouco antes de Xeax atravessar o espaço entre meus seios com sua arma. O sangue descia velozmente pelo local em que a lâmina cortara. O mesmo escorria pela minha boca. Enquanto uma das mãos de Xeax segurava a espada, a outra se apoiava na parede.
- Não importa o quanto ''mate'' meu corpo ou minha alma. Suas dores continuarão vivas, e ardendo como uma ferida recém aberta. - disse, rouca, e abaixei a cabeça. - Eu sou o grifo cinzento.
Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, a mesma arma que antes matara o homem e a mulher, agora atravessava Xeax. Ele se jogou para a esquerda, largando a arma que me atravessara. Atrás de onde antes estivera Xeax, estava Allives. Os cabelo negros novamente, iam até um pouco abaixo das orelhas, e seus olhos de âmbar bem abertos, como se acabasse de despertar. Não usava mais terno, e apenas um imenso pano negro amarrado a cintura.
- Objeto. - falei. - Parece que acordamos, não? - falei, enquanto tirava a espada de meu corpo. - Já não aguentava mais tratá-lo por ''querido''.
- É, é o que parece. - ele riu. - Parece que só falta uma coisa.
Nós dois encaramos Xeax no chão. Eu assisti calmamente, enquanto meu servo o matava, e a cicatriz de X em seu ombro sumia.