O barulho da serpente se arrastando estava atormentando a prisioneira. Acorrentada a um mastro, ela agonizava. Presa no fundo do mar, ela se mexia tentando se soltar. Figuras estranhas cantavam em volta do local onde ela estava acorrentada. Uma, duas, três, quatro, cinto e seis sombras estavam cantando em dialetos estranhos. Seria um sacrifício? Ou apenas estava lá para diversão dos outros?
Se dizem que sonhos são desejos, ela queria ser sacrificada?
Mergulhada nas águas turbulentas, os cabelos soltos dançavam conforme a maré. O vestido branco que usava balançava em movimentos imitando ondas, seus olhos estavam tapados por uma venda. Passou a sentir uma brisa quente beijar-lhe o rosto, não estava mais mergulhada na água e sim em um deserto.
Ao longe uma figura de cabelos castanhos, cacheado nas pontas e liso na raiz cortado na altura dos ombros se aproximava. Seus olhos eram castanhos, com um leve quase imperceptível tom de verde e com riscos pretos em torno da íris ? imitando os olhos de um gato. Trajava um vestido preto, uma capa e trazia consigo uma enorme foice. Caminhava com calma, o vestido dançava no ritmo da brisa. A criatura apoiava a foice nos ombros, a arma no cabo abaixo da lâmina era decorada com rosas negras e uma caveira de olhos brilhantes. Ela levantou a cabeça fitando a outra amarrada ao longe, em seus lábios brotou um sorriso de canto.
Em alguns segundos estava em frente da garota vendada, observou com curiosidade. Chegou até a cutuca-la com o cabo da foice e ao vê-la se mexer, passou a mão na venda tirando-a. A criatura era sádica e por esse motivo passou a lâmina da foice no braço da outra que estava amarrada. Um grito estridente cortou o deserto, o vento que trazia consigo areia que batia no ferimento fazendo doer mais. ?Você é divertida? comentou a mulher de preto que começou a rir.
Mais cortes superficiais vieram. Assim deixando a mulher amarrada completamente banhada em sangue, ela gritava e se mexia na tentativa inútil de escapar. A figura de preto estava se divertindo, não conseguia conter as risadas. Quando não tinha mais locais para cortar, cortou então a corda que prendia a outra no mastro. Se afastou alguns passos enquanto a outra caia, não fez nada para evitar que a menina comesse areia. Novamente a cutucou com o cabo da foice, ?perdeu a graça? pensou.
Era uma mente quase psicopata, tinha Id totalmente sobre controle. Sua razão virou-lhe as costas, a libido era mais importante. Isso que se resumia a mente da garota de preto. Passou a fitar o nada, esquecendo-se completamente da semi morta aos seus pés. No horizonte havia apenas areia e mais areia, os olhos estavam praticamente em transe.
Levantou sem tirar os olhos do horizonte, passou a ver sombras dançando não muito longe dali. Seus olhos se arregalaram, então a garota do mastro era o sacrifício. Novamente sorriu, sua diversão tinha acabado. Por fim, cutucou novamente o corpo inerte e foi embora na mesma velocidade que tinha chego ali.
? Arrastar-se, fugir, tratar-se, proteger, sobreviver, sacrifício. ? Essas ações vieram e foram num piscar de olhos, a velocidade era rápida demais.
Dizem que os sonhos tem em média sete segundos, não é?
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No meio da estrada de pedra, El dormia ao lado de Hiver que permanecia sentado olhando a boneca dormir. As pálpebras se contraiam, mostrando a agonia que estava passando. A noite estava quente e pouco agradável, principalmente para Hiver que cresceu em um ambiente totalmente gelado. Aquela era uma noite pouco normal, poucas estrelas no céu e a Lua mostrando-se ausente.