Para sempre na memória

Tempo estimado de leitura: 34 minutos

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Correio coruja

    O sol iluminou o teto do quarto azul claro, quando os raios penetraram a janela e a cortina branca.

    Enrolado nas cobertas, um rapaz de 17 anos resmungou, enquanto tentava manter os olhos fechados longe da claridade. Passou alguns instantes assim, até que batidinhas na porta fizeram-no abrir os olhos azuis acinzentados e sentar-se na cama.

    -Senhor Sirius. ? Uma voz fina guinchou. ? O senhor já despertou?

    -Sim... ? Ele resmungou.

    -Ótimo. O senhor Tiago já o espera para o desjejum.

    -Certo... Obrigado, Tuti. ? Respondeu.

    Tuti, o elfo doméstico dos Potter, era muito cerimonioso, mas era simpático e prestativo, diferente dos elfos que trabalhavam no número 12 do largo Grimmauld, onde Sirius vivia até algumas semanas atrás.

    A casa dos Potter era aconchegante e alegre como a dos Black jamais fora e Sirius se sentia mais a vontade ali, ao lado do melhor amigo.

    Levantou e atirou as cobertas emboladas sobre a cama, antes de vestir uma calça jeans e uma camiseta preta. Arrumou um pouco os cabelos e desceu as escadas que levavam ao primeiro andar. Logo estava na sala de jantar dos Potter, onde eles faziam todas as refeições.

    Tiago estava sentado numa das cadeiras de forma displicente, lendo o Profeta Diário, mas levantou os olhos e deu um bom dia ao amigo assim que ele entrou no recinto.

    Sirius ocupou uma cadeira e serviu-se de torradas e café preto, enquanto Tiago entregava o jornal para Tuti guardá-lo.

    -Alguma notícia interessante essa manhã? ? Perguntou o jovem Black.

    -Nada de mais. ? Tiago respondeu, bebendo um pouco de suco. ? Apenas alguns atentados espalhados pelo país... Mas as coisas estão piorando.

    -Voldemort não vai parar até que consigamos matá-lo. ? Sirius suspirou.

    Os dois se concentraram na refeição por algum tempo antes de voltarem a conversar.

    -Lílian respondeu alguma das suas cartas?

    -Não... ? Tiago pareceu murchar ao dizer isso. ? Não sei mais o que fazer pra provar que amo ela.

    -Calma, cara. Todo mundo sabe que ela gosta de você. Ela só precisa descobrir isso também.

    -É, tem razão. Não vale a pena desistir. ? Tiago levantou-se de súbito.

    -Aonde você vai?

    -Escrever uma carta.

    Sirius revirou os olhos e riu do amigo. Tiago podia ser absurdamente inteligente e um bruxo de primeira, mas quando se tratava de Lílian Evans, ele virava um boboca.

    ***

    Lílian estava concentrada em seu livro. Apesar de gostar muito das leituras acadêmicas, não tinha como conseguir livros de bruxaria toda semana, e com o clima tenso entre o mundo bruxo e em sua própria casa, ela acabara recorrendo à biblioteca local e escolhera ler Orgulho e Preconceito, de Jane Austen.

    Certas partes do livro faziam com que ela se lembrasse muito de si mesma... Ela era como Elizabeth... E o Sr. Darcy seria... Tiago? Ela sacudiu a cabeça coberta de cabelos ruivos e ligeiramente anelados. Que besteira. Associar Tiago com um nobre cavalheiro era tão... Inadmissível!

    Estava tentando voltar a atenção à história quando bicadinhas na sua janela fizeram-na se levantar da cama e ir até a janela.

    Uma coruja cinzenta estava parada ali, com um pergaminho no bico.

    A ruiva revirou os olhos. Aquela era a coruja de Tiago e ela vira o animal todos os dias das férias até então.

    Abriu a janela e pegou o pergaminho que o animal trazia.

    -Você bem que podia dizer pra ele parar com isso, não? É tão infantil... ? Murmurou à coruja, antes que ela saísse voando.

    Voltou-se para o pergaminho. Havia armazenado todos os anteriores numa caixa e pretendia jogá-las fora. Não havia lido uma sequer, mas naquele dia, sua curiosidade fez com que tirasse o lacre do envelope.

    Com o coração palpitando a contragosto, ela viu os traços fortes e bem marcados no papel. A letra de Tiago não era graciosa, mas parecia guardar algo de sua personalidade marota que agradava os olhos verdes da jovem.

    Com resignação e resmungando baixinho, pôs-se a ler:

    Lily, minha querida.

    Eu não sei se leu minhas outras cartas, porque você não as respondeu. (E eu pensei que você era educada o bastante para fazê-lo, mas acho que você deve me odiar muito mesmo para deixar seus códigos de polidez de lado).

    Não sei, tampouco, se você lerá essa carta, que é a última que lhe remeto, a não ser que me responda.

    Não posso escrever cartas e me martirizar, sabendo que você faz pouco caso das minhas palavras.. Sei que não sou um bom escritor, mas esperava que você compreendesse que todo esse esforço é pra provar que a amo mais do que tudo, apesar de você fazer pouco caso disso e fingir que não acredita em mim.

    Acho que você é muito sádica, Lílian, e que gosta de ver eu me despedaçar por você. Talvez você queira que eu diga que choro por você todas as noites. Eu faço isso, e se essa confissão for a prova de que você precisa, por favor, pare de me machucar e diga o que você sente.

    Estarei esperando você na praça perto da sua casa essa tarde, você aparecendo ou não. Ficarei lá a tarde toda e se você não aparecer vou entender que você não leu nenhuma das cartas anteriores ou que leu e não sente por mim o que sinto por você.

    Com todo o amor do mundo,

    Tiago.

    Lílian sentiu os olhos marejados e um arrependimento louco. Por que diabos tinha que ter aberto aquela carta? Estava tão bom ignorar Tiago até ler aquelas coisas... Ele sempre fora muito bom com palavras, mas será que estava mesmo sendo sincero?

    Uma parte de sua imaginação fantasiava um encontro entre os dois. Eles se beijariam e confessariam que estavam mesmo apaixonados. Mas ela preferia ignorar aquela fantasia boba. Tiago não a amava de verdade. Queria apenas ficar com ela e então, riria dela. Era tudo uma grande brincadeira, como sempre.

    Jogou o pergaminho no lixo do quarto e retomou seu livro, mas seus olhos pareciam incapacitados de se focar nos escritos e ela colocou-o sobre a estante.

    -Droga, Potter, porque você tem que fazer isso comigo? ? Disse a si mesma, atirando-se na cama.


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