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Não pude dizer mais nada. Deixei minha parceira em dor na cabana e voltei a olhar ao redor. Charles vinha em minha direção com um garoto, alguns metros à direita o tio e outro homem armados com as metralhadoras provavelmente carregadas. Eu era o alvo deles, e Karen não seria atacada como prioridade, mas achei melhor me afastar da cabana e atraí-los pra fora daquela área. Charles tinha uma arma na mão direita. Já o outro garoto preparava uma granada enquanto corria na minha direção. Não seria pego por uma granada de frente, Karen tentou me proteger por eu estar distraído, mas agora era diferente.
Ele soltou o pino e arremessou assim que a distância lhe pareceu boa. Queimei meus músculos de vampiro com a pressão do sangue e arremeti contra ele, contrariando suas expectativas. A granada passou por mim e explodiu logo atrás, assim que mergulhei no chão e rolei em direção do garoto.
Não o conhecia, mas ele estava no lugar errado e com as pessoas erradas. Assim que me ergui do chão rasguei seu peito num golpe limpo de garras que fizeram seu sangue manchar as roupas. Finalizei com um soco rápido e forte na cabeça, senti seu crânio rachar, então ele caiu quatro metros para trás.
Charles apontou a arma para mim e tremia, mesmo assim seus olhos eram de ódio e vi que ele era mesmo alguém para se temer. Ele disparou e minha cabeça foi para trás. Cai de costas e fiquei imóvel enquanto ele disparava contra meu corpo. Não podia fazer nada senão esperar, pois só agora percebia que tiros no cérebro me deixavam paralisados. Mas podia perceber ao redor, que tentavam terminar o serviço.
Ninguém resiste a uma bala na cabeça. Mas enquanto eles me arrastavam, a bala foi expelida naturalmente pelo poder do meu sangue e recuperei o controle. Enquanto era puxado pelos braços, pelos dois homens das metralhadoras, levantei num salto e puxei seus braços até deslocar seus ombros.
Um deles vendo que seu braço direito seria inútil, sacou uma faca com o braço bom e investiu contra mim. Enquanto o segundo tentava erguer a metralhadora e mirar, tomei a faca e cravei no peito do primeiro. Girei e chutei a metralhadora para longe, cravando minhas presas no homem que tinha restado. Suguei mais da metade de seu sangue, mas ele morreu e ficou difícil puxar o resto sem o coração para bombear o sangue até minhas presas.
Levantei o olhar para Charles. Estava a trinta metros de mim. Talvez tivesse ido dar um fim em Karen, mas acabou desistindo quando me viu matar seu tio e o outro. Ele não podia descuidar de mim. Tinha uma metralhadora apoiada no ombro - a que eu acabara de chutar para longe - e esperava por mim. Comecei a caminhar na direção dele. Mas estava enfraquecido, achei melhor não correr.
Ao invés disso, caminhei normalmente e me curei dos ferimentos no caminho. Levava a faca comigo. Quando cheguei a uma distância em que confiava ser capaz de me abater, Charles começou a disparar. Imaginei que estivesse com pouca munição, já que interrompia os disparos alternadamente.
Não me esquivei. Acreditei que o mataria, não importava como. A dor era terrível mas eu precisava economizar forças. Nem sempre ele me atingia, percebi então que devia estar muito chapado. Seus olhos o denunciaram quando o alcancei e as balas acabaram. Ele baixou a metralhadora e me encarou. Estava drogado.
- Você nem vale todo o esforço que fiz pra te alcançar... ? disse a ele, enquanto as balas eram expelidas de meu corpo. Senti-me um verdadeiro ser das trevas quando ouvi o tilintar das balas ao caírem no chão.
- O que diabos é você? Quem é você?
''O que eu sou'' até que era compreensível, mas ??quem??, foi um pouco doloroso de se ouvir. Ele estava tão alucinado que não havia me reconhecido ainda.
- Sou quem irá te levar para conhecer a dor.
Nada realmente importava, dizer alguma coisa para aquele ser era desperdício de tempo, e não surtiria efeito. Me arrependi amargamente de muitas coisas na vida, mas estava ali e colocaria um fim naquilo. Tudo ia mudar. Meus objetivos, meu propósito de caminhar neste mundo de dor... Havia ódio, mas o que eu faria agora era algo premeditado e necessário. Não era apenas fúria. Talvez nem fosse justiça, mas...
??É só que meu sangue de vampiro consegue ser menos frio do que o dessas pessoas, e isso está muito errado... ??, disse em pensamento, tentando me convencer de que fazia o certo.
Derrubei Charles.
Enquanto pisava em seu peito no chão, o sangue do assassino jorrou artisticamente quando arranquei seus braços à força. Ele gritou como um animal, e perdi a vontade de maltratá-lo. Agarrei seu crânio e o esmaguei. Ossos cederam num estalo, como se quebrasse um ovo. Senti minhas mãos tão sujas quanto poderiam estar.
Não era assim que eu queria me sentir. Não era assim que esperava me sentir depois que tudo acabasse. Aquela sensação era péssima. Rose tinha sido vingada, mas era isso que ela queria? No fim não havia feito aquilo por Rose, mas por mim mesmo.
A lua estava cheia, enorme e avermelhada. Eu a encarei com revolta e desespero. Deixei escapar um grito bárbaro que ecoou pela noite.
Estava tudo acabado. E um gosto amargo tomou conta de mim.