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A caminhonete havia sido deixada perto da chácara onde invadimos. Não tinha grande segurança, o muro alto era fácil pra mim. Os cães preferiram nos atacar a latir para nos denunciar, em todo caso não demos tempo algum para reagirem.
Karen seguiu por uma direção diferente e tentamos fazer um reconhecimento, ninguém podia escapar. Era o refúgio de Charles. A chácara era de seu tio, um dos traficantes em ascensão, e tio também de Guto ? primo de Charles -, como ele havia citado antes.
Só o que me interessava era terminar aquilo. E poucas horas antes de amanhecer nos restavam. Só podíamos seguir em frente.
Mais dois cães apareceram, e esses latiram alto antes que eu pudesse silenciá-los. Dois homens apareceram segundos depois. Não quis me esconder, apenas andei na direção deles. Ao me ver no escuro um deles ascendeu as luzes de fora da propriedade e não adiantou nada ter tentado surpreender. Sacaram armas da cintura e apontaram pra mim.
??Sem tempo... ?? ? pensei, e já começava a ficar de saco cheio de ficar tirando balas do meu peito. Esquivei-me da mira deles, o que fez com que me reconhecessem claramente como uma ameaça e disparassem contra mim, alertando todos na casa com o som.
Em passadas largas pude me aproximar e chutar alto o queixo do primeiro, que caiu nauseado. O segundo disparou e errou enquanto se acostumava com o modo de me movimentar. Com minhas garras lhe cortei a garganta num único golpe sangrento, e o deixei morrendo. Pisei no crânio do que já estava no chão e segui para a entrada da casa.
Ouvi disparos e dois homens gritarem, apenas para serem silenciados em seguida do outro lado da casa. Karen estava seguindo pelo outro lado, minimizando as chances de fuga. Um grupo cada vez maior de sombras parecia correr pela casa, até que apagaram as luzes e permaneceram em silêncio. Era bem lógico, eu não saberia as posições deles ao entrar na casa, mas eles concentrariam os disparos em mim assim que me vissem.
A questão era que o escuro me favorecia mais do que a eles. E não desperdicei a chance. Alguém colocou a mão para fora da porta, tentando sair e disparar então puxei o homem para fora, fechando a porta em seguida. Imobilizei e mordi seu pescoço ferozmente, não havia espaço de tempo para degustar seu sangue, precisava apenas de energia para lutar.
Antes de entrar bebi uma boa quantidade de sangue e abri a porta. Não me agradava usar armas de fogo, e deixei a arma do homem para trás. Meu último pensamento foi ??isso vai doer??. Então mergulhei na sala e rapidamente estava bem no meio dos malditos atiradores.
Era difícil até mesmo para mim distinguir rostos no escuro, mas procurei por Charles e os outros dois da minha lista. Ali parecia ter uns oito homens desconhecidos, de modo que fui eliminando todos que disparassem contra mim. Ouvi disparos em outro cômodo da casa e segui em frente, deixando corpos para trás, parando apenas para beber mais um pouco de sangue. O som de disparos cessou repentinamente. Entrei cautelosamente na sala. Estava tudo quieto, e alguns homens estavam caídos pela casa, por onde Karen devia ter passado um minuto antes.
Reconheci dois corpos; Maurício e Jonas, que também estavam em minha lista. Não fazia mal que Karen os tivesse matado. Mas gostaria de alcançar Charles antes dela, então mergulhei pelos corredores da grande casa. O silêncio me incomodava. Quando entrei numa sala maior senti o cheiro de Karen do outro lado, e empurrei uma porta no escuro.
O susto fez com que os homens naquele cômodo disparassem contra mim. Metralhadoras podem ser um pouco chatas. Muito rápidas, de modo que fiquei parecendo uma peneira. Dói muito, e o corpo fica mais lento, são danos demais para curar e pouco recurso para isso enquanto você tenta concentrar suas forças em escapar. Corri pela sala e agarrei uma mesa de centro, que arremessei na direção dos dois que disparavam contra mim. A distração me permitiu sair da casa saltando e quebrando a janela.
Do outro lado foi que percebi que aqueles que disparavam contra mim eram o tio de Charles, e um subordinado armados com metralhadoras. Logo acenderam as luzes e vieram atrás de mim, percebendo que eu estava desarmado. Quando pensei em me posicionar e enfrenta-los, Karen surgiu como um vulto, vindo em minha direção e me empurrou violentamente.
Fui parar do outro lado do jardim, rolando e quicando enquanto ouvi simultaneamente o som de uma explosão no local onde estava um segundo antes.
- Karen...!
Ela estava ali, deitada perto dos homens armados. Do outro lado vi Charles e outro garoto, um dos dois havia jogado a granada. Karen não podia impedi-los de onde estava então havia se empenhado para me alcançar e me proteger. Seu corpo estava muito ferido, parcialmente queimado e aberto. O fogo continuava a tomar conta das pernas e das costas de modo estranho. Lembrei-me que vampiros são sensíveis demais ao fogo, então corri em sua direção ignorando a rajada das metralhadoras.
Mergulhei rápido e agarrei seu corpo leve, tirando-a do chão com menos delicadeza do que merecia. Continuei correndo embora balas fossem alojadas em mim a cada passo. Estava furioso, esse podia ser o fim de Karen. Percebi o quanto estava sendo egoísta ao usá-la em minha vingança pessoal.
- Charles! ? gritei ? Vou rasgar você em pedaços!
Minha voz saiu rouca, como nunca antes. Forcei meu sangue a mover-se depressa, o máximo do meu poder destrutivo, de uma vez só. Queimaria minhas forças naquele desfecho.
Quando alcancei uma distância segura escorreguei - fazendo poeira subir pela velocidade - com o corpo ferido de Karen nos braços até uma pequena cabana, onde com um tapete enrolei seu corpo ainda flamejante que também me causou queimaduras consideráveis no trajeto, embora ao menos eu não estivesse literalmente em chamas.
Karen tinha os dentes á mostra e lutava para não gritar de dor, mas seus gemidos me deixaram tão abalados quanto os gritos o fariam. O fogo estava controlado, mas não a dor. E Karen não podia se curar rapidamente por estar enfraquecida demais.
- Aguente! Por favor...