Mal andei, e toda a escuridão desapareceu, me levando para uma enorme sala, onde um homem e uma mulher, vampiros, reviravam o local. Os dois se viraram para mim, e a mulher riu com desdém.
- Você parecia maior pela descrição de nosso senhor, querida.
- Majestade... - o homem começou, irônico. - Não precisávamos ter a honra de vê-la, só vinhemos aqui buscar... Um menino brincalhão, digamos assim. - e com isso, puxou Allives, que estava caído aos seus pés no chão, e o ergueu diante de mim, abrindo um sorriso cínico. - Não é um gracinha?!
Ah, a raiva. Mas, que sentimento profundo. O nariz de Allives sangrava, o que indicava que ele havia levado uma surra; parecia desacordado.
- Sinto informar, mas, agora, ele é meu servo. - falei, soando o mais séria possível.
- Ah, mas, a princesinha pode abrir uma exceção para nós, não pode? - ela disse, e segurou minha face com a mão direita, apertando-a.
Não precisei falar, meu olhar já dizia cada ofensa que eu queria enterrar pela garganta dela.
- Não faça essa cara, Majestade... Por que não brincamos um pouquinho com ela, para não ficar com ciúmes, ham? - ele riu, para a mulher.
- Então você quer brincar? não se preocupe, querida, não vai doer nada... - e com isso, ela sorriu, amargamente.
Eu podia sentir cada músculo de seu corpo se movendo, seu sangue se agitando, a saliva se juntando em sua boca, com a deliciosa possibilidade de beber meu sangue.
Era a morte, aquela senhora que se aproximava? minha velha amiga, que iria cautelosamente, acariciar minha alma novamente... Não. Não era ali que eu devia morrer. Seus dentes se aproximavam devagar do meu pescoço, eu podia sentir seu hálito gelado, me deixando incapaz de me mover. Tentei me acalmar, enquanto sentia suas presas tocarem minha pele. Eu não podia continuar resistindo, mas, também não podia me entregar, então... O que eu poderia fazer?
Então, uma luz se abriu em minha mente. Se eu não podia me entregar totalmente, e nem resistir totalmente, eu podia juntar as memórias antigas, com as que recebera dessa vida, dessa rainha, dessa experiência. Toda, e qualquer experiência que eu tivera em todas as minhas vidas, fora importante, servira para algo, e eu não devia desistir de nada. Quando percebi a verdade, a influência da mulher em mim, era pouca. Com graciosidade, pousei minhas mãos em seu pescoço, e comecei a estrangulá-la, e esta, se afastou imediatamente, parando de beber meu sangue.
- Argh! O que... - mas antes que pudesse terminar, eu quebrei seu pescoço, e arranquei seus olhos fora, ou pelo menos, foi isso que ela vira. Um poder muito antigo recuperado, o de iludir a mente, um dos quais eu usava nos sonhos. Ela gritou, e caiu no chão. Eu realmente havia tentado estrangulá-la, então, sem muito esforço, e me aproveitando do seu estado mental, arranquei uma tábua solta do chão, e enfiei em seu coração, jorrando sangue para todo lado.
- Meta! - o homem gritou, furioso, e avançou para mim, tomado pelo ódio, mas, quando estava a poucos centímetros de meu rosto, ele parou, e um pedaço de metal brilhante, rasgou uma parte de sua testa. Allives estava de pé atrás dele, e retirava seu graveto recém transformado do cadáver do vampiro.
- Muito bom. - eu ri, e bati palmas para ele, enquanto o sangue escorria por minhas mãos, antes delicadas e puras.
- Os inimigos são numerosos, sua alteza. Essa não vai ser a última vez que sujaremos as mãos de sangue. - ele me encarou. Não parecia mais a mesma pessoa. As pessoas dizem que quando você mata alguém, mata uma parte de si mesmo, e era isso que Allives fazia. Ele estava matando seu medo.
- Não se preocupe, Allives. - eu disse, seguindo para o local de onde vozes eram ouvidas - É como dizem, impérios são formados por sangue, e amenizados com palavras bonitas. - e assim, seguimos, para começarmos nossa carnificina.