Allives não era um homem, e eu não era uma mulher. Ainda não eramos adultos o suficiente para sermos considerados isso. Eu não passava de uma criança que pouco sabia, e ele, o mesmo. Eu era tola, e estava agindo como uma jovem tola, falando de maneira tão dramática com um servo incapaz, tudo estava errado. Nossa relação, ainda precisava ser aperfeiçoada, mas, primeiro, precisávamos mostrar o nosso valor.
- Allives. - chamei, e ele não respondeu de imediato, ainda se recompondo.
- Sim? - ele respondeu, hesitante.
- Você não é um homem, e eu muito menos sou uma mulher.
- O que quer dizer com isso, senhora?
- Somos apenas crianças,tolas, se me permite dizer. - disse, e me dirigi ao final da sala, apanhando um galho velho e quase morto, que eu sabia, ali estava há muito tempo, esperando seu dono. - Precisamos mudar isso, Allives. - e dito isso, entreguei-lhe o galho. - Somos apenas covardes, que não cresceram o suficiente. Você teme suas antigas memórias como eu, e não se deixou entregar a elas, como eu, que posso não ter dito antes, dei tudo de mim, para escapar das antigas lembranças, naquele abismo sem fim. Só que, isso não pode continuar assim. Eu darei o meu melhor, para me provar digna de meu título, e você, fará o mesmo.
Por um momento, ele pareceu hesitar, e querer experimentar a ousadia de dizer não, e largar toda essa vida, mas, apanhou o galho, e se levantou, parecendo tão homem quanto poderia naquela situação. Eu lhe disse para ir, e enfrentar seus medos, porque eu faria o mesmo.
- Majestade... Obrigado. - foram as últimas coisas que ouvi, antes de ele deixar a sala, e partir rumo a escuridão.
Assim que me vi sozinha, me despi. Tudo aquilo, tinha uma finalidade. Embaixo de uma tábua velha e solta, estava um simples vestido branco, sem mangas, e que ia um pouco acima do joelho, sem contar com as roupas intimas, e foi aquilo que eu vesti. Ao final da batalha que estava por vir, ele estaria manchado de sangue, e o cavaleiro e a rainha, finalmente seriam dignos, de ocupar seus postos ao lado de Mihcaia, o anjo que desceu a terra, Angel, aquele que usava um nome falso, e adoecera, pelos seus pecados. Quando a governante voltasse, todos eles ficariam bem, e nossas verdadeiras missões começariam. Vestida como a plebeia que era, segui para o mesmo vazio que Allives antes passara, sem temer, sem chorar, sem expressar,mas, principalmente, com a cabeça erguida, preparada para todas as pedras que em mim fossem jogadas. Afinal, se eu falhasse, precisava manter aquela imagem, gravada no rosto dos assassinos, atiradores de rochas.