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A menina observava a imagem refletida no espelho. Uma mulher com longos e escuros fios lisos, que contrastavam com seus olhos claros e a pele branca coberta por maquiagem, estava ali. Ela vestia um longo quimono branco, quase todo revestido de delicados cristais que desenhavam flores em cima do pesado tecido. Seu cabelo produzia um brilho ainda mais intenso do que normalmente. Estava realmente muito bonita. Mas, havia algo em seus olhos, que fazia com que ela sentisse uma pena profunda daquela mulher. Não chorava, não parecia triste, não expressava nenhum sentimento. Mas também não possuía vida. Seus olhos estavam frios, mortos, de tal forma que ela desejou poder fugir daquela imagem. Isso parecia contagiá-la por inteiro.
Sentiu um desejo enorme de chorar, de colocar todos os sentimentos contidos dentro de si para fora ali mesmo. Pôde ver uma lágrima escapando dos olhos pertencentes à mulher que refletia em sua frente e então, teve a certeza de que aquela era realmente ela. Infelizmente.
? Hinata! ? Ouviu a voz de seu pai e virou-se para encará-lo, limpando rapidamente as lágrimas teimosas com as costas da mão, para que ele não percebesse. - Oh! Você está linda!
Ela tentou sorrir, mas parecia não se lembrar mais de como fazê-lo. Seu pai se aproximou devagar, enquanto uma senhora puxava seus brilhosos fios azulados, na intenção de prendê-los. Ele esperou que ela terminasse o que estava fazendo para estender seu braço e colocar delicadamente no coque da jovem Hyuuga uma bonita flor dourada, cravada de diamantes, depositando um beijo carinhoso no topo de sua cabeça logo em seguida.
Hinata não guardava mágoa alguma de seu pai, embora soubesse que ele era o responsável por tudo que estava prestes a fazer. Ela não culpava aquele homem. Ela não culpava a ninguém. Talvez fosse o destino o causador de toda a tristeza que parecia querer gritar dentro de seu peito. Não sabia ao certo, mas tinha certeza de que suas esperanças acabariam ali, a partir do momento em que deixasse aquele lugar com as mãos dadas à quem seria seu marido.
Foi levada até uma grande escadaria, de onde podia ver através das janelas todos seus familiares e colegas reunidos ao lado de fora. Quase que automaticamente, lembrou-se de como sonhava, quando mais jovem e ingênua, pela chegada daquele dia. Deixou as lembranças e sonhos tomarem conta de sua mente sem esforço.
O céu estava claro, sem nuvem alguma. De longe ela podia ver os sorrisos estampados nos rostos de cada amigo e parente, mas procurava por um em especial. Sem muita dificuldade, conseguiu encontrá-lo. Ele estava lindo, com o mesmo brilho contagiante que parecia nunca desaparecer de seus olhos. Vestia um quimono tradicional preto, que funcionava praticamente como um contraste perto de toda a luz refletida em seus cabelos amarelos, sempre desajeitados, seu sorriso radiante e seus dois globos intensamente azuis. Era incrível como ele conseguia acabar com a seriedade e sofisticação de qualquer coisa! Mas isso, de alguma forma, só deixava tudo ainda mais perfeito. Ela teve vontade de rir, mas logo um choque de realidade a atingiu quando, quem tocou em sua mão para levá-la ao altar foi, na verdade, um jovem que parecia tão frio quanto ela... Não! Ele era ainda pior.
Hinata encarou os dois olhos ônix que também a olhavam. Vazio. Era isto que eles exalavam. Um intenso e infinito vazio.
? Está bem? ? ele sussurou para ela, enquanto caminhava em passos lentos em direção ao altar, levando Hinata consigo.
? Hai. ? sussurou de volta.
O corpo inteiro de Sasuke tremia. O que ele estava fazendo? De que isso tudo adiantaria se o seu irmão já não estava mais entre eles? Pensar em Itachi fez com que um ódio imenso o dominasse. Olhava para as pessoas de seu próprio clã ali presentes e o sentimento parecia aumentar ainda mais. 15 anos! 15 anos se passaram e ele ainda não havia aprendido a conviver com a dor. Queria que fossem eles! Queria que eles tivessem experimentado o sentimento de perder um irmão. E agora o que eles queriam? Como se não bastasse tudo o que sofrera calado e sozinho durante anos, agora teria que compartilhar o sofrimento de uma jovem inocente, que provavelmente estava cometendo o maior erro de sua vida neste exato momento.
Sentia-se fraco. Pior do que isso, sentia-se um lixo. Não conseguira fazer nada para o bem de seu clã, de sua família e muito menos para si mesmo, e estava prestes a arruinar também a vida da namorada de seu melhor amigo.
Flashback
? Teme! O que é isso? ? Naruto perguntava desentendido, enquanto segurava com força um pergaminho meio aberto em suas mãos.
Ele realmente não era muito bom em entender as coisas, mas, dessa vez, Sasuke tinha certeza de que ele havia entendido muito bem. Não quis explicar. Na verdade, não tinha o que explicar. Estava tudo escrito ali! O nome dos noivos, o local, a data e o horário.
Ao invés de respondê-lo, o Uchiha deu as costas e pôs se a andar.
? SASUKE! Eu te fiz uma pergunta! ? ele já perdia a paciência.
? Dobe! Tenho certeza de que está tudo muito bem claro no convite. Eu mesmo tive que conferi-lo uma centena de vezes.
Naruto já estava dominado pela fúria. Se colocou entre Sasuke e a porta, e, o segurando pela blusa, depositou um soco em sua bochecha esquerda. O Uchiha poderia facilmente ter desviado, mas não era o que queria. Sabia o motivo de estar recebendo aquilo. Aliás, neste momento ele se sentia tão desprezível, que nem se quer sentira vontade de tentar se defender. Ele merecia aquele soco.
Naruto o soltou logo em seguida, saindo de sua frente. Ele logo entendeu o recado e saiu fechando a porta atrás de si, deixando o amigo sozinho.
Fim do flashback