Rosae vermillus - O clã das rosas vermelhas

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    Capítulos:

    Capítulo 22

    Vindictam: Vingança - Parte 2

    Violência

    A noite continuava.

    Karen estava quieta ao meu lado embora eu sentisse nela alguma empolgação enquanto seguíamos com o plano. Ela dirigia para mim, um carro que o velho Pedro nos permitiu usar. Não era grande coisa. Uma velha caminhonete que usava pra transportar fertilizante para tudo que plantava em seus domínios. Era o bastante para o que íamos fazer.

    Paramos atrás de um prédio velho, numa rua mal iluminada. Ninguém iria querer roubar a velha caminhonete, então a deixamos ali. Seguimos até um beco deserto, escalamos rapidamente o pequeno prédio abandonado enquanto ninguém parecia ver. Karen era muito habilidosa. Em alguns andares em meio a escombros e entulho encontramos viciados num estado tão degradante, que mal repararam quando caminhamos entre eles. Estavam mais mortos do que vivos ali no chão, sem nenhuma chance de salvarem a si mesmos.

    Ali, além de um lugar para as pessoas se drogarem, descobrimos ser um ponto onde muitas mulheres eram levadas voluntariamente ou não, por homens mal intencionados e perigosos. Em geral traficantes, e Marcos sabia que alguns do grupo de Charles frequentavam o prédio.

    Esperamos no andar mais alto, o único completamente desocupado. Era o terceiro andar, e ali sabíamos por Marcos que ninguém podia subir até o final e permanecer por lá devido as ordens dos traficantes locais. Era o local onde os ??assuntos de negócios?? eram tratados, e quem estivesse ali no momento de uma negociação importante podia levar alguns tiros.

    Olhávamos pela janela sem vidros até que dois garotos entraram no prédio, acompanhados de duas garotas mais velhas. Os trajes denunciavam as profissões das mulheres.

    - Vagabundas de rua... as mais baratas. ? disse Karen, sem desviar o olhar da entrada do prédio. ? Estas se entregam em troca de drogas...

    Todos riam e pareciam embriagados ou entorpecidos. Minutos depois eles estavam no mesmo andar que nós. Entraram no grande salão cheio de escombros e sem portas assim que terminaram de subir as escadas e com surpresa ao nos ver na janela, ficaram parados um instante.

    - Olha só, já tem um casal aqui... ? disse aquele que eu conhecia por David, ao seu lado o outro; de apelido ??Guto??, se aproximou arrastando consigo a mulher.

    - Hey! Foi mal ai! Mas vaza os dois por que aqui vocês não podem ficar. Esse é o território do meu tio, só eu posso vir aqui, vão lá pra baixo antes que eu perca a paciência!

    Virei-me pra ele e andei uns passos para frente, então a luz fraca de rua pode me iluminar parcialmente. Ele me encarou pela primeira vez, e ficou em dúvida se a falta de luz estava confundindo sua percepção.

    - Merda... David, tá com sua arma ai né? É ele, o moleque que a gente atropelou e jogou no mato. Eu disse que o desgraçado tava vivo, é claro... A gente procurou o safado depois dele voar longe e tinha sumido, alguém levou ele naquele dia!

    - Saco... é ele mesmo! Como esse merdinha aguentou depois da gente jogar o carro em cima dele? Leandro... o babaca lá da escola. Agora o Charles é suspeito e não pode mais aparecer por culpa desse otário, vamo levar ele quase morto pro Charles terminar o serviço, ele vai gostar da ideia!

    Karen riu em deboche e eles não gostaram muito.

    - Vamos deixar isso mais divertido, Julia e Mariana... Se vocês deixarem essa bonequinha ai muito machucada, a gente descola uma dose extra pra cada uma depois. Assim eu e o Guto nos concentramos no moleque. Combinado?

    As mulheres riram e caminharam na direção de Karen, que se posicionou para mais longe de mim, indo pro outro lado do salão. Elas riam e avançavam como se brincassem com Karen que parou de andar assim que ficou perto de outra janela.

    Fiquei onde estava e esperei os idiotas virem. Todos olharam quando as garotas avançaram em Karen, que segurou as duas pelos braços, puxou e girou seus corpos de forma violenta numa rotação que só terminou quando foram jogadas pela janela aos gritos.

    Karen segurava as mulheres pelas mãos enquanto elas gritavam para serem puxadas de volta. Karen olhou para Guto e David que observavam espantados, então num meio sorriso soltou as duas para cair do terceiro andar. Depois se encostou à janela e ficou observando a todos com uma expressão de satisfação, como se tivesse tirado dali o que atrapalhava e agora só dependesse de mim para concluir a situação.

    - Lembram-se da Rose? ? disse, assim que pude atrair a atenção deles novamente.

    Eles me encararam com algum escárnio. E Guto riu consigo mesmo.

    - Claro! Era a sua namoradinha também? Ela costumava ser namoradinha de Charles, mas no fim o desprezou então Charles resolveu fazer dela a namoradinha de todos nós naquela noite!

    Os dois riram tanto que me perdi nas lembranças. Estava paralisado, enquanto minha mente buscava os antigos conceitos, regras de respeito à vida, ética, moral... Meu mundo estava um caos outra vez. Não precisava de um espelho para saber que meus olhos estavam vermelhos como os de Lúcios quando demonstrava seu poder. Minhas presas se projetaram e as garras rígidas roçaram umas nas outras com meus punhos fechados.

    David sacou uma arma e apontou para minha cabeça. Guto ainda ria em deboche. Dei um passo para frente, segurei a mão com a arma e apontei para meu próprio peito.

    - Atire! ? disse para David ? Veja você mesmo no que vocês me transformaram!

    Sem hesitar, David que agora percebia claramente algo errado comigo, disparou uma, depois quatro vezes em meu peito. Guto assistiu pasmo enquanto eu caminhei, sem sangrar com os ferimentos de bala e agarrei David pela garganta.

    Ergui seu corpo alguns centímetros do chão e apertei gradativamente o pescoço até ouvir um estalo. A arma caiu ao chão e Guto a pegou, correndo para o outro lado e disparando desesperado, até que se encostou à parede já sem munição. Karen o olhava como uma predadora, logo ao lado dele.

    Estava sem paciência e não podia perder muito tempo. Então me aproximei e amordacei a boca de Guto com um pedaço grande da camisa de David que acabara de rasgar. Não quis que ele assustasse as pessoas que dormiam por perto. Então quebrei os ossos dos dedos, braços, pernas, e então algumas costelas. Deixei que sentisse dor. Só então permiti que Karen pudesse beber seu sangue, o quanto quisesse.

    Eu não queria o sangue dele em minha boca. Mas Karen não se importava. Torci o pescoço de Guto e jogamos os corpos pela janela. Logo estávamos lá embaixo, do lado mais escuro da rua, carregando os corpos até a caminhonete. Passei por uma grande caçamba de lixo onde as garotas desmaiadas que Karen havia deixado cair provavelmente acordariam apenas pela manhã. Mas apesar de ter imaginado que Karen as tivesse matado sem pensar, elas estavam vivas por terem sido jogadas em cima dos sacos de lixo.

    Ao menos eu gostava de pensar que fora de propósito, que ela não mataria assim qualquer um que cruzasse seu caminho, mas tinha minhas dúvidas. Em todo caso, jogamos os corpos na caminhonete e cobrimos com a lona negra. Seguimos para o próximo.


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