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Rose aparecia em minhas lembranças como um filme em alta qualidade. Os cabelos longos que por vezes lhe cobriam o rosto, apenas para depois tirá-los da frente num movimento acompanhado de um sorriso. Os raros olhos verdes, que davam a ela um ar inocente e doce.
Ela sorri para mim e mostra a língua de um jeito bobo. Então Tiago vem e agarra meu braço, levando-me para longe entre brincadeiras e gargalhadas, enquanto sorri para Rose e diz um ?oi? desajeitado. Rose está lá atrás e acena para os dois.
Era o primeiro dia de aula naquele ano. Éramos todos amigos até então, Tiago não havia pedido ela em namoro. Uma lembrança feliz.
Mas não havia apenas isso na memória. Ao mesmo tempo em que visualizava a linda garota sorridente, a imagem de seu corpo sem vida se misturava as cenas boas, fazendo com que uma crescente revolta fosse alimentada em meu interior novamente.
O vestido branco de sua última noite coberto de sangue, a pele pálida e fria. Meu desespero ao ver isso, ao segurá-la em meus braços desejando que ainda houvesse vida nela...
- A maldita está lá embaixo...? - questionou Karen. Parecia feliz por estar ao meu lado numa tarefa tão importante pra mim.
- Está... Vamos pegá-la em dois minutos.
Luana era alguém que odiava Rose na escola. Apenas não sabíamos o quanto isso podia ter ido longe. Na noite da festa, apesar de confessar ter visto Charles e os outros delinquentes drogando a bebida de Rose, Luana havia mentido.
Na verdade ela mesma havia feito isso. Tinha sido fácil, pra ela se aproximar do copo sem levantar suspeitas. Fazia parte do plano doentio de separar Rose de Tiago. E Charles concordou com as condições, inclusive adorou a ideia. Luana havia ido longe demais pelo suposto amor por Tiago.
Marcos descobriu isso e também se chocou com o fato. Mas era a verdade. Bom eu ter um ex-professor com habilidades de caçador, descobrir isso foi fácil para ele ? invejo um pouco o fato dele poder agir durante o dia.
Ciúmes, rancor, ódio... Não importava mais o motivo. Luana fazia parte dos monstros que deveriam morrer. Assim que saiu da loja onde trabalhava, nós a seguimos. Chegamos ao ponto de ônibus em que aguardava para ir para casa após um dia cansativo. Karen permaneceu escondida. Aproximei-me da garota que se levantou do acento assustada ao me ver.
- Leandro? Não acredito! Você tinha sumido... Quando foi que voltou, o que houve com você garoto? Nossa... Nem acredito que você está bem... ? ela suspirou.
Além de ser noite, mal havia iluminação o bastante para que notasse minha cor estranha. Chegando mais perto, sorri. Foi estranha a calma que pude acumular naquele momento. Testei uma coisa que Vinicius vivia me falando pra tentar. ?Magnetismo?.
Envolvi Luana num abraço. Segurei sua cintura e puxei-a para mim. De início ela se assustou e tentou se soltar. Logo depois de fixar meus olhos nela foi fácil. Concentrei minhas forças em transmitir para ela que estava segura comigo, depois fui mais longe... Tentei convencê-la de que não tinha escolha, nenhuma opção, estava sob o meu controle. Não havia mais nada no campo de visão da garota, me olhava como se estivesse hipnotizada. O vermelho que vi nos olhos dela devia ser o reflexo dos meus, ela estava sem expressão.
- Você matou Rose também... ? sussurrei.
- Foi minha culpa... Sim eu quis que ela desaparecesse... Queria que sofresse e que talvez morresse... ? disse ela, com enormes olhos cheios de lágrimas. Seus sentimentos estavam em conflitos, mas não havia expressão alguma em seu rosto ? Vai ficar tudo bem agora que ela se foi... Pode me perdoar não pode? Foi preciso... Ela queria o Tiago só pra ela...
- Shhh... Tudo bem... ? sussurrei, e Luana estava tão perto de meu rosto agora, com uma aparência de profundo cansaço e buscava proteção em meus braços. Mordi seu pescoço sem fazer cerimônia. Bebi o bastante para sentir seu sangue quente vir carregado com suas emoções mais fortes.
Medo; de ser descoberta e virar uma aberração aos olhos da sociedade. Arrependimento; não por ter feito algo horrível, mas por ter sido descuidada ao falar sobre isso com amigas. Inveja; de Rose, uma garota que já está morta mas que ainda segura forte o coração de Tiago. No fim não havia nada ali que merecia atenção.
Luana entrou num êxtase que me incomodou, pois no fim das contas percebi que tinha repugnância daquela garota.
Já havia bebido o bastante e deixei-a cair ao chão. Lambi a ferida antes de terminar, então logo as marcas das presas desapareceriam. Encobrindo as provas de que aquilo havia sido trabalho de um vampiro.
Deixei-a no chão, com seu olhar vidrado e dei alguns passos a frente enquanto pensava no que fazer. Foi então que Karen veio e cortou a garganta de Luana com uma faca curta. O sangue espalhou-se rápido pelo chão e foi caindo pela boca do bueiro, indo direto para o esgoto.
- Perfeito... ? disse Karen ? uma já foi. E numa morte simples, vítima de assalto...
Karen levou algumas coisas de valor de Luana e largou sua bolsa jogada ali perto, com o conteúdo esparramado. Não tive reação. No fim eu estava sendo mole, mas Karen estava ali para não me deixar falhar. Seguimos em frente.
Luana estava morta.