? Então seu pai saiu de casa Shion?
? Sim.
? E como você está?
? Como eu deveria estar?
? Desculpe-me. ? Hinata passou o braço pelos ombros do namorado. ? Eu só quero que você compartilhe comigo.
? Tudo bem. Estou estressado e cansado, tenho que resolver aquele assunto com Miku ainda hoje Hinata, as coisas estão, seriamente ruins pra mim, mas sabe... Se você estiver comigo, eu acho que consigo suportar qualquer coisa. ? Hinata riu e beijou a face de Shion que ficou corado. ? Está louco? Não faça essas coisas em público...
? Sente vergonha?
? Não é isso. É que é estranho, mesmo se fosse uma menina seria.
? Você e esse teu jeito tímido, me pergunto por que te amo, sabia?
? Eu me pergunto o mesmo!
? Humm, mas porque quis vir tão tarde da noite para a escola? E comigo? Não deve ter ninguém lá. Acho que portões ainda estão fechados. ? Hinata olhou para o relógio de pulso. ? Quer fazer alguma coisa comigo é? ? Shion parou com as mãos cerradas em punho.
? Não fale assim, só quero esperar Miku no terraço como combinado. Marquei essa hora porque se ela chorar, não quero que ninguém veja, e, além disso, com certeza já não tem mais ninguém lá faz tempo, os portões devem estar fechados, mas você sabe que Miku é neta da diretora, ela me deixou uma chave e me disse pra esperar no terraço. Estou nervoso e sentindo um mal estar. ? Hinata aproximou-se, Shion hesitou, mas cedeu, os lábios dos dois tocaram-se em um pequeno e molhado selinho, depois Hinata encarou Shion sorrindo.
? Eu estarei do seu lado, não tem nada a temer. ? Shion sorriu. E os dois apressaram o passo.
Chegando à frente da escola, Shion olhou para o prédio alto em forma de quadrado, estava muito escuro, todas as luzes apagadas. Shion estreitou os olhos para ver o esboço de algo embolado no chão. Devia ser o saco de lixo. Tirou a chave de dentro da mochila, por algum motivo, seu coração acelerava a cada minuto que passava. Hinata apertou a mão, que segurava a chave, de Shion, proibindo-o de colocá-la no cadeado do portão, e disse:
? Shion... Olhe aquilo. ? o menino apontou para o embolado no chão, mas Shion não enxergava nada além de algo imóvel.
? O que foi Hinata, é só o saco de lixo.
? E desde quando sacos de lixo vestem uniformes da nossa escola Shion? Aqui é um corpo. ? a mão de Hinata estava fria. Ele tirou a chave das mãos de Shion e abriu o cadeado, arrastou o grande e pesado portão de ferro e correu para dentro das propriedades da escola. Shion correu atrás.
? Espere Hinata. ? quanto mais Hinata aproxima-se, mais ficava nítido que aquilo era um corpo. Quando chegou perto o bastante, ficou pasmo, olhava para o corpo da garota virada de costas para cima, uma poça de sangue formou-se em volta dela e um de seus olhos estava separado do rosto perto do pé de Hinata. ? Hinata o que... ? Hinata virou-se e gritou:
? Nem mais um paço. Não se aproxime Shion! Não venha. ? mas estava evidente de que ele não obedeceria. Shion chegou perto o bastante para ver o corpo desfigurado da menina. Sentiu ânsias subirem pelo esôfago e vomitou. ? Eu disse para não vir. ? Recuperando-se, olhou para Hinata e perguntou:
? Quem é ela? ? Hinata pareceu confuso.
? Não tenho certeza. ? Hinata abaixou-se para virar a menina.
? Está louco?! Temos que chamar a polícia. Não mexa nela.
? Fique quieto Shion, tenho de conferir se está viva.
? Mas está na cara de que morreu faz algum tempo. Olha quanto sangue e... Tem um olho perto do seu pé! ? Shion voltou a vomitar. Se não fosse a situação Hinata teria rido, mas estava tão assustado quanto Shion. Ele encostou a mão esquerda no ombro da menina e a virou. Quando viu seu rosto deu um pulo para trás. Estava desfigurado, mas ainda assim, era reconhecível.
? É a Sashibara Kurenai, não sei em que ano está, mas o que ela fez para ter um destino desses? ? Hinata analisou a faca enterrada até o cabo em seu peito. Automaticamente ele olhou para cima, para o terraço. Olhou para Shion que segurava a barriga. ? Ela com certeza foi jogada.
? Do que você está falando Hinata?! Deixe-a aí e ligue para a polícia, você está ficando maluco? ? Hinata correu até as escadas, Shion hesitou e ficou parado ali por alguns instantes, olhou para o corpo desfigurado e voltou a sentir náuseas, correu atrás de Hinata.
Chegando à porta do terraço, Hinata abriu-a de vagar, olhando para os lados, estava muito escuro. Tirou o celular do bolso e iluminou as paredes para procurar alguma luz, encontrou a alavanca para ligar o disjuntor do terraço. Uma luz branca e forte veio da porta que dava para o terraço, Hinata abriu mais a porta e entrou no terraço. Colocando as mãos na frente das vistas, estreitou os olhos para que a visão acostuma-se com a luz. Alguns segundos depois viu duas figuras, uma debruçada sobre um deitada, ela cantava um tipo de melodia que Hinata não conseguia distinguir. Chegou mais perto, viu os cabelos loiros da menina manchados de vermelho, só então que percebeu que os dois no chão, estavam rodeados por uma imensa poça de sangue. Deu um paço para trás.
? Q-quem é você? ? Perguntou, mas não teve resposta. Olhou para a poça de sangue que estava próxima de seus pés. Caminhou devagar e chegou mais perto.
Enquanto isso, Shion subia as escadas e ligava para a polícia.
? Alô? E-estamos na escola Okana Ren. T-t-tem um corpo aqui, acho que ela caiu do terraço, mas acho q-q-que está morta, por favor, venham de pressa. ? Chegando ao terraço, foi pego pela luz ofuscante do disjuntor, ficou parado na porta até que seus olhos acostumassem com a luz. Viu Hinata parado em pé diante de dois corpos no chão. Uma menina sentada e um menino deitado em seu colo, ele presumiu. Aproximou-se pisando na poça de sangue sem notar. ? O que é isso... ?
? Nakamura Yuri? V-você... O matou? ? A menina não respondia, Hinata tentou por a mão em seu ombro, mas ela gritou e voltou a cantarolar.
? Na-nakamura? É a Yuri? Mas quem...? ? Shion aproximou-se mais e viu Senji deitado no colo da irmã, os olhos fechados e a pele pálida, suas roupas manchadas de vermelho e sua garganta aberta. As ânsias voltaram e o esôfago fez pressão, mas não havia mais nada para vomitar a não ser bílis. ? Como isso aconteceu Yuri?! ? Mas ela não respondia. Shion aproximou-se mais e segurou a menina pelos ombros a balançando. ? Você matou os dois? Quem fez isso? Responda-me!
? Pare Shion! ? disse Hinata afastando Shion de Yuri. ? Você está maluco? Está na cara que ela não mataria o irmão, você se lembra do que vimos? Não foi ela.
? Mas e Sashibara? Quem a matou? ? Ao ouvir o nome de Kurenai, Yuri começou a rir, os dois meninos a olharam aterrorizados, parando de rir, Yuri voltou a cantarolar e se balançar para frente e para trás com o corpo do irmão nos braços.
? Temos que chamar a polícia.
? Eu já chamei.
? Então vamos descer e esperar.
? E ela?
? Deixe-a aí, os policiais saberão o que fazer Shion. Vamos. ? Shion sentiu as lágrimas escorrerem. Ele gostava muito de Senji como amigo. Afinal, ele é quem havia o ajudado a abrir os olhos em relação a Hinata.
Os dois chegaram lá em baixo e de automaticamente, Shion olhou para o corpo de Kurenai.
? Vamos sair daqui. ? disse Shion.
?Está louco? Se sairmos sem prestar depoimento à polícia, pensaram que estamos envolvidos. Vem, vou pagar um café para você, a máquina expressa deve estar funcionando.
? Você acha que eu conseguirei beber alguma coisa? Quão frio você é Hinata?
? Só estou tentando cuidar de você, não quero que você fique nervoso de mais, ou fique com trauma, mas estou tão apavorado quanto você Shion. Só não gosto de demonstrar.
? AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! ? Gritou Miku que estava parada em frente ao corpo de Kurenai. ? M-m-m-meu Deus! O que é isso?
? Miku! ? Shion correu até ela, Hinata logo atrás.
? Já ligamos para a polícia. Encontramos ela aqui quando chegamos. E...
? Nakamura Senji também está morto.
? Mas quem...?
? Não sabemos, mas a polícia já está a caminho. ? Miku afundou o rosto no peito de Shion e chorou. Shion afastou-a e disse:
? Vamos sentar pra lá. Não quero ficar olhando para ela. ? Os três foram sentar-se perto da entrada, onde o corpo estava fora de vista.
? Shion?
? Diga.
? Você ainda pode me dizer o que queria? E porque Hinata está aqui, não me diga que ele o seguiu...
? Você acha que eu o seguiria?
? Miku... Você quer falar disso nesta situação?
? Só não gosto de esperar. ? disse Miku entre soluços.
? Eu queria te poupar...
? Shion. ? disse Hinata fazendo pressão, Shion respirou fundo e tentou ser claro.
? Miku, você sabe que desde o começo eu gosto de outra pessoa. Você sempre soube, e tudo o que aconteceu agora foi um mal entendido e uma confusão que eu mesmo criei. Não espero que você me perdoe por ter brincado com você. Mas a verdade é que eu amo o Hinata e é com ele que eu quero ficar. ? Miku apenas sorriu.
? Shion, eu sempre soube que era isso o que você tinha para me dizer, mesmo gostando de você, eu acho que nós nunca daríamos certo. Você gosta muito dele e mesmo eu achando isso um absurdo, eu te amo, e se você estiver feliz, por mim tudo bem. Mas seja meu amigo pelo menos. E Hinata, saiba que eu não desistirei do Shion. ? Hinata não conseguia sorrir, mas queria sorrir para aquela pobre menina. Shion havia enchido os olhos d?água novamente.
? Desculpa Miku.
? Já desculpei Shion. ? Ouviram barulhos de sirenes e correram para o portão. Os polícias desceram da viatura.
? O que está acontecendo aqui? ?Perguntou um homem auto, com cabelos grisalhos. Logo atrás uma ambulância apareceu com as sirenes ligadas. Os paramédicos desceram rápido.
? Qual a situação? ? uma jovem com uniforme do hospital perguntou. Foi Hinata quem tomou a iniciativa de responder.
? Nós encontramos dois corpos, o primeiro está aqui em baixo, ? virando-se ele apontou para o corpo de Kurenai. ? o segundo está no terraço e com ele sua irmã, não sabemos o que aconteceu, mas acho que aquela menina foi jogada lá de cima e precisei movê-la um pouco para verificar se estava viva, mas...
? Tudo bem, vão para a ambulância. ? disse a médica. ? Preciso de uma equipe de salvamento comigo, duas macas também, rápido! ? Gritou ela para os colegas.
Algumas horas depois, os pais dos três foram constatados e depois de prestar depoimento, todos foram levados para suas casas. Como os pais de Hinata estavam em uma viagem, ele ficou na casa de Shion.
A mãe de Shion havia preparado uma cama para Hinata no chão, mas logo depois de trancar a porta os dois deitaram-se na mesma cama.
? O que você acha que será de Yuri, Hinata?
? Não sei. Provavelmente ela irá para um orfanato. Ela deve estar com trauma. Mas ainda estou intrigado com o que aconteceu. Depois de vermos aquela cena, dos irmãos Nakamura se beijando... Encontrarmos o corpo da ex-namorada dele e da irmã que provavelmente tinha algum sentimento por ele... Isso realmente me intriga.
? Mas Yuri não mataria seu irmão.
? Não disse que ela o matou. Ela provavelmente matou Kurenai, que provavelmente descobriu do relacionamento do ex-namorado com a irmã e o matou.
? Não pode ser isso. É muito frio.
? Bom, saberemos o que aconteceu provavelmente esse caso irá para a televisão. ? Hinata virou-se para Shion e o beijou. Começou a intensificar o beijo e Shion recuou.
? Hinata. Você acha que estou em clima para esse tipo de coisa?
? Me desculpe. ? Hinata sorriu. ? Dormir abraçado com você pra mim é o bastante.
? Hinata?
? Shion?
? Eu te amo.
? Eu sei disso. Seria estranho se não me amasse. ? os dois esboçaram um sorriso. Shion virou para o lado e apagou a luz, logo depois virou de frente para Hinata e ficou mexendo em seu cabelo até que o menino pegasse no sono.
Pensou em tudo o que havia lhe acontecido ultimamente, nas brigas com Hinata, na situação com Miku e principalmente no que havia acontecido hoje. Shion deixou cair uma lágrima, não tinha certeza de que conseguiria dormir aquela noite, mas ao olhar para o rosto de Hinata dormindo, ali em seu lado, pensou no que os aguardava. Em como seria difícil contar para seus pais sobre sua relação com Hinata. Pensou em tudo o que poderiam acontecer. Teria de ser forte, se quisesse proteger Hinata como ele estava o protegendo. E assim, Shion adormeceu, pensando no futuro, sabia que era incerto, mas ele queria, queria muito, que Hinata ficasse ao lado dele, ficasse ao lado dele para sempre.