Enquanto eu estava no meu quarto, sentada na cadeira da escrivaninha, peguei o meu celular da bolsa e comecei a rever as mensagens.
?Feliz Natal *-* Aah, as coisas sem você jamais serão as mesmas Aya!
Izumi.?
Ela era a minha amiga de infância. Acho que nos chamar de melhores amigas era um tanto fraco pra relação que tínhamos. Não não não, não me levem a mal! Seria uma relação idêntica a de irmãs. Mas... As coisas ficaram difíceis no final da oitava série. Izumi-chan havia se mudado para Osaka, e eu permaneci em Tóquio. Seus cabelos eram longos e densos, de cor preta e de corte reto, com uma franja reta também que fica muito fofo nela. Izumi sempre foi um pouco mais alta que eu, tinha olhos pretos e uma pele bem branca, sempre senti inveja por que ela parecia uma bonequinha. Senti falta dela ao ver essa mensagem, porque todo natal íamos de manhã comprar um bolo pequeno e comemorávamos o natal no telhado de sua antiga casa. Eu, onii-sama, Izumi-chan e o irmãozinho mais novo dela.
?Aya-chiiiiin, feliz natal! Que tal irmos em um encontro para comemorarmos? Tanto você ter passado no exame de admissão pro ensino médio quanto o natal e... Quem sabe... Nosso futuro? *w*
Kojuro.?
Esse era meu senpai, um conquistador de primeira. Ele é dois anos mais velho que eu e nos conhecemos durante o festival da escola, quando eu estava na 6ª série. Nunca dei muita bola pra ele, não fazia meu tipo.
?Gomen Aya, não vou conseguir chegar em casa nem pro ano novo. Feliz natal minha querida.
Otoou-san.?
Otoou-san vivia em viagens por causa do trabalho, e acho que era por isso que, quando ele conseguia vir pra casa, okaa-san e ele sempre discutiam. Eu não discordo da okaa-san, já que o único natal que passamos juntos como uma família completa foi quando eu tinha 4 anos. Meu pai se atrasou para o vôo e quase foi demitido.Revendo cada vez mais as mensagens, notei que eu estava, meio que automaticamente, procurando por uma em especial. Mas eu não sabia exatamente o que era, e então comecei a pensar. Como onii-sama diz, ?quem procura, acha?, e eu achei.
?Kazumi.?
Ao mesmo tempo, percebi o quanto eu fiquei numa mescla de felicidade e medo, naquele dia em que Mika escapou, que senti ao olhar suas costas, antes de me dizer seu nome. A razão do medo ainda me era desconhecida, então nem liguei muito pra isso. Faziam 4 dias que eu não o via. Não me mandou mensagem de Feliz Natal, não me ligou...- Hã? Ligar? Ah dá licença, quem ia querer receber uma ligação daquele maluco?! ? disse irritada.
-Eu devia trocar de irmã, você é muito esquisita. ? era o onii-chan, me provocando novamente.
- Hoooh, então conseguiu sair mais cedo do trabalho FORÇADO? Hohohohoooo.
- É e o escravo aqui tem um bolo gigaaaaaaante que ELE comprou com o próprio dinheiro! ? disse com um sorriso esperto.
- Seria de... De... Massa de baunilha com recheio de creme de abacaxi coberto de chantilly, decorado com pedaços de pêssegos e rodelas de abacaxi...? ? disse com água na boca.
- Não seeei, mas se não descer logo, além de perder a festa de natal, vai perder o seu pedaço. ? e saiu correndo. Sem delongas, sai em disparada também.
Depois da festinha, vesti o sobretudo marrom escuro do onii-sama e fui para o parque. Sim, era lá que eu encontrei Kazumi pela primeira vez. Sentei no balanço, o mesmo em que ele estava sentado naquele dia, e fiquei olhando pro céu, meio que repetindo a cena que eu havia presenciado. Eu tinha uma esperança de que Kazumi voltasse lá, como se os papéis ficassem invertidos por um dia, mas eu só podia ficar lá por 10 minutos, afinal, tinha que voltar pra casa. Mas, sem perceber, os 10 minutos já haviam se passado, e ao reparar que ninguém havia chegado, voltei meu rosto para o chão. E então, ouvi passos na neve. Fiquei paralisada, não conseguia mover um músculo sequer. Eu não acreditava que tinha dado certo, que Kazumi tinha realmente vindo. De repente, os passos param, e pensei ?Ele vai me chamar!?.
- Heey. ? ao ouvir, imediatamente virei meu rosto em direção à voz.
- Sobrou bolo, vai comer ou vai ficar aí congelando, esquisitona? ? era o onii-chan.
- Hunf! Como se eu fosse dar um único pedaço a você! ? me levantei e então, voltei para casa com ele.
Jamais me esquecerei o que senti naquele dia. Estava desapontada, irritada, triste e me senti um pouco sozinha, mas eram sentimentos que eu entendia muito bem, não me eram estranhos, e portanto, eu sabia o porquê deles estarem ali.
- Aaaff, me apaixonei por uma besta. ? disse em tom baixo.
- Hun? Disse algo Aya?
- Tá ficando surdo hein? Ééé colega, meia idade tá chegando, hoho. Vai ficar sem saber! ? e sai correndo em direção à porta.
Não somente no natal nem no ano novo, Kazumi não apareceu durante as férias inteiras.