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- Isso é meio estranho, e louco... - eu disse, um tanto perdido - Quem sou eu pra ter ''servos''?
A vampira em minha frente se levantou graciosamente. Veio mais perto de mim e parou no meio do caminho. Olhava pela janela como se estivesse à se lembrar de coisas passadas, apenas mirando o mundo fora das paredes que a envolviam.
- Existem muitos clãs de vampiros. Mas as classes são iguais para todos de um modo geral. ''Vampiros de rua'' como dizem por ai, são classe baixa e permanecem assim até morrer pelas mãos de outros, servindo de alimento para os mais fortes ou morrendo de sede por ai. Eu sou da classe mais baixa. Uma vampira mordida por outro vampiro classe baixa. Lucius me explicou mais sobre mim mesma. Sara e Vinícios são um pouco mais fortes que isso e não são pegos facilmente, pois subiram de classe. Lucius é um vampiro especial, relativamente antigo, e apesar dele não revelar sei que é de uma classe muito mais alta que a minha.
- Sim... provavelmente. Foi ele que me transformou, na hora me pareceu uma boa ideia não morrer. - falei descontraindo um pouco, mas Karen não sorriu em retribuição.
- Ele me contou um pouco sobre você... - retomou a garota, me olhando de soslaio - O ponto aqui é que Lucius apenas te tornou vampiro. O que determina sua força, seus talentos e identidade como vampiro é o sangue que você bebe logo após ser criado. E o sangue que você ingeriu era especial, então mesmo que seja um vampiro jovem, você já é de uma classe superior aos vampiros comuns que se matam pelas ruas.
- De quem era o sangue?
- Isso ele não me disse... Mas deixou claro que era especial. Ele deve ter planos pra você.
- Que coisa... Mas Karen, você pertencia a um clã. Já não servia a algum vampiro? O que acontece com o seu líder e o controle que exercia sobre você?
- Nada. Ele é um vampiro relativamente forte. Mas conquista as coisas pela violência e inteligência. Seu sangue não foi dividido com os outros por que não teria poder algum para impor sua vontade. Provavelmente se o fizesse, tornaria os outros mais fortes do que são mas não teria efeito de poder sobre eles, assim corre o risco de ser traído e morto. A força dele está no medo que impõe aos outros e no talento anormal que tem para um vampiro comum. Ele tem o respeito dos vampiros e também lhes oferece abrigo e sangue humano enquanto forem leais.
Parei um pouco e pensei sobre o que ela disse sobre ''oferecer sangue humano''. Nem todo humano pego por vampiros era morto. Daria muito na cara dessa forma. Muitas mortes inexplicáveis. Mas alguns eram sequestrados e mantidos em cativeiro, sendo alimentados aos poucos para não morrer, e produzir mais sangue. Não tinham valor mortos, fazia sentido o que Natan chamava de ''fazendas de sangue''. Havia humanos por ai sobrevivendo apenas como alimento em esconderijos de vampiros.
- Então Leandro, do clã Rosae... - disse Karen, de um modo teatral, para tirar-me de meus pensamentos vagos - Irá tornar-se meu mestre?
Quando percebi ela estava bem em minha frente. Notei então que era um pouco mais baixa do que eu, e me olhava de muito perto. Decidi que não tinha escolha. Ela precisava ficar e até mesmo parecia desejar isso. Além de que, por mais que aquilo pudesse parecer estranho, o que poderia ser tão ruim agora?
- Tudo bem. - disse, logo após pigarrear - Se você acha melhor assim...
Não soube muito bem o que fazer em seguida. Então, lhe estendi o braço para que mordesse. Mas ela sorriu novamente e dessa vez foi um sorriso bem mais agradável, que me deixou em paz e transmitiu confiança. Era linda aquela garota, ao menos quando sorria. Tão linda que não me importei quando ela afastou gentilmente meu braço e tocou de leve minha nuca. Soube imediatamente o que ela ia fazer, mas não achei que precisasse impedir.
Karen me puxou um pouco e encostou o próprio rosto em mim. Senti seus lábios me tocarem no lado do pescoço, frios, mesmo assim foi agradável. Suas presas causaram algum desconforto e me retesei no mesmo instante por instinto. Mas ela segurou gentilmente meu rosto com uma mão e com a outra senti ela deslizar lentamente pelo meu peito. Relaxei, e senti meu sangue ir. Não foi muito, mas me deixou levemente enfraquecido. Embora a sensação tivesse sido boa, percebi que para Karen era muito melhor. Ela me apertava com tanta força, que suas unhas acabaram me ferindo um pouco.
Quando ela me soltou, levou um instante para se recompor. Permaneceu, com as mãos em mim e com a cabeça aninhada em meu peito. Suspirou. Então me olhou como se tivesse mudado completamente. Seus olhos brilharam num vermelho vivo mas voltaram rapidamente ao normal. Ela parecia feliz.
- Obrigada... - disse ela - Por me deixar sentir isso. E me desculpa, mas estava difícil demais de parar.
Karen sorriu. E limpou o canto da boca sujo com meu sangue. - Agora você é meu verdadeiro mestre!