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Karen estava diferente do que me lembrava. Tinha quase certeza de que Sara havia feito algo com seu cabelo. Na altura dos ombros os fios castanhos terminavam com as pontas avermelhadas. As unhas estavam impecáveis num azul que combinava com a maquiagem em seus olhos. Sua roupa era um pouco extravagante. Uma saia de couro digna de vampiros, e uma meia tão trabalhada que por algum momento considerado longo para um vampiro; me perdi naquela trama e quase me esqueci de responder a moça.
- Posso entrar? - repetiu ela.
- Me desculpa! Claro...
Se eu ainda fosse humano estaria vermelho de vergonha e muito desajeitado naquela hora. Ser vampiro não é tão ruim afinal.
Ela se sentou na minha cama - que não servia para nada além de adorno - e fiquei ali na cadeira, apenas girando ela pra ficar de frente e podermos conversar. Karen olhava para o chão enquanto parecia decidir o que dizer. Decidi quebrar o gelo.
- Você está bonita.
Karen me olhou rapidamente, parecendo tentar entender até que ponto eu queria chegar com aquele simples comentário. Então fez um som com a garganta, parecido com um riso mas seus labios não se curvaram nem mesmo um pouco.
- Obrigada! - disse ela - Sara é muito linda, e parece fazer questão de me deixar o mais bonita que posso ficar... pra ser sincera eu não me importo muito com isso. Aqui é bem diferente de onde eu estive, então eu tentei não ser mal agradecida.
Karen olhava agora para a porta fechada. Me perguntei no que ela pensava.
- Entendo... - falei finalmente, um pouco incomodado sem saber o por que.
Um silêncio dominou o quarto por alguns segundos. Quando estive perto de perder o controle e puxar assunto com qualquer coisa realmente idiota, Karen cruzou as pernas e deixou cair as mãos nelas. Talvez para se proteger do ângulo perigoso do qual eu, por educação evitava olhar. Aquela saia era idéia de Sara, não tinha duvida disso.
- Me deixe beber seu sangue... - disse ela.
Não soube como reagir. Olhei dentro dos olhos dela, não parecia estar brava, tensa, nem fora de controle de modo algum. Mas não entendia qual o sentido daquilo. Talvez ela não tivesse sido alimentada adequadamente por Lucius e estivesse pedindo gentilmente por sangue, mas eu não sabia se aquilo era certo. Ela continuava a me fitar com olhos quase tristes.
- Por que? Está com tanta sede assim...?
- Não é isso... - respondeu ela - Não estou com muita sede, mas essa é a condição. Lucius disse que posso ficar, mas não serei serva direta dele, e sim de você... Eu aceito essa condição, mas pra isso tenho que beber de seu sangue. Assim irei seguir você e servir apenas a você. Eu aceito isso, já me decidi e estou pronta.
Minha cabeça assimilava tudo aquilo mas ao mesmo tempo não entendia por que Lucius quis fazer as coisas assim. Era verdade, se ela bebesse de meu sangue e eu fosse um vampiro superior em classe ela seria obediente aos meus propósitos, mas isso significava então...
- Você não sabe, nem a Sara ou Vinícius... Mas Lucius me contou muito a respeito do sangue usado na sua criação Leandro. Sou uma recém criada mas tenho alguma noção sobre esse assunto, e posso te dizer que seu sangue é especial. Lucius conhece minha história, e me permitiu ficar aqui e viver, desde que aceite ficar ao seu lado, e não me importo. A outra alternativa é a morte certa.
Pensei um pouco.
- Lucius vai te matar se recusar a proposta doida dele? - questionei.
- Não vai... - ela baixou a cabeça, olhando para os próprios pés - Acredito nele apesar de ser um vampiro, acredito em vocês todos. Por isso quero ficar. Lucius me soltaria hoje nas ruas e amanhã eu seria morta e queimada ao sol. Não tenho futuro Leandro. O que você fez por mim foi mais do que a maioria das pessoas já fez antes de me tornar vampira. Você é especial, e não me importo de ver isso de perto daqui pra frente, desde que você não se importe é claro...
Karen fianalmente sorriu. E perdi o foco por alguns segundos sem saber como administrar sua mudança repentina de expressão.