Ponytail, Kai!

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    12
    Capítulos:

    Capítulo 3

    Um velho amigo

    Spoiler, Violência

    Ao ouvir essas palavras do mestre me desespero e começo a pensar em tudo que poderia ter acontecido com eles e não escuto mais nada que o mestre diz. A única coisa que consigo fazer é correr para minha casa. Corro na rua esbarrando em tudo e em todos pensando:

    ?Primeiro a Kyoko e agora o pessoal da guilda! O que ta acontecendo aqui?!?

    Vejamos o que ocorreu com Kyoko...

    Depois daquela noite, acordei em uma cela num local que me parece uma prisão. É um quadrado relativamente grande, caberia uma cama de solteiro aqui e talvez um guarda-roupa, mas ela está vazia. Em volta da mesma encontra-se uma barreira mágica parecida com a que estou acostumada a usar para me proteger, mas essa parece mais forte. Essa cela está num prédio enorme e alto com várias celas iguais a volta, todas suspensas no ar. Em meus braço tenho algemas que parecem impedir o fluxo da magia pelo meu corpo.

    De tempos em tempos, desde que cheguei aqui, vejo os guardas entrar, usar uma espécie de elevador flutuante para alcançar a cela, pegar algum prisioneiro e então eles somem da sala. Isso ocorre todos os dias nos mesmos horários de sempre. Todas as vezes que isso acontece fico observando os guardas irem e virem, tentando entender o que eles fazem.

    ? Eles levam os prisioneiros pra uma sala e os torturam. Foi o que ouvi dizer ? diz um velho numa cela próxima.

    As celas ficam relativamente longe, mas não a uma distância que impeça que conversemos sem que os guardas nos escutem.

    ? O nosso ?amigo? que ficava naquela ali ? ele continua, apontando para uma cela atrás da minha ? foi levado a alguns dias e voltou todo alterado. Nem parecia mais aquela pessoa medrosa, que só ficava no canto da cela chorando.

    ? E o que aconteceu com ele? ? Pergunto indignada.

    ? Morreu um pouco antes de você chegar.

    Fico impressionada e com medo daquelas palavras. O velho se levanta e estica seu corpo, o que permite que eu veja a insígnia em seu peito. Não tenho dúvidas, ele é da Ponytail, eu vi aquela mesma insígnia no rosto, mas exatamente sobre o olho do Kai. Mas o que ele está fazendo aqui e por que eles prenderiam alguém tão velho como ele?

    ? O senhor faz parte da Ponytail?

    ? Sim. Sou um membro bem antigo de lá. Da época do fundamento. Ouvi dizer que um mago com a insígnia da minha guilda tatuada no olho tentou te salvar na noite que eles te trouxeram para cá. Era o Kai, certo?

    Aceno positivamente com a cabeça e pergunto quem são aqueles que me trouxeram.

    ? Dizem para todos que são do Conselho, mas eu sei que não são. ? ele responde, depois faz uma pausa, observa a volta e continua ? Já lutei contra um deles uma vez, o Brutus, aquele cara só tem músculos, não pensa, mesmo assim foi difícil vencê-lo.

    ? Se eles não são do Conselho, por que usam aqueles emblemas? Quem são eles, afinal?

    ? São membro de uma guilda das trevas que faz parte da aliança Balam, a Dark Sirius. Eles se infiltraram no Conselho pra conseguir pessoas para seus experimentos com a desculpa de que estão capturando bandidos de alto risco.

    Assim que ele termina de falar, dois guardas aparecem para levar mais alguém. Rezando para que não seja eu, penso:

    ?Kai, você vai nos salvar, certo??

    Voltemos à situação do Kai...

    Estou em minha casa, mais precisamente no banheiro, exatamente dentro duma banheira cheia d?água e espuma, mas meus pensamentos estão longe, estou lembrando-me de momentos que vivi com o pessoal da guilda. Recordo-me de uma situação em particular.

    Lá estava eu, magro como sempre, mas um pouco mais baixo e um pouco mais também. Comigo estava meu maior rival e amigo na guilda, Kirou, um garoto da mesma idade que eu, porém mais alto e mais forte, com cabelos negros e os olhos da mesma cor do cabelo.

    Estávamos no meio da floresta de Magnólia, que apesar de ser uma floresta as únicas espécies de animais que ali viviam eram pássaros de todos os tamanho e cores. Ali, todas as tardes, quando não estávamos em algum trabalho da guilda ficávamos ali treinando nossas magias e era o que estávamos fazendo naquele momento.

    Depois de algum tempo de treino estávamos exaustos e decidimos parar um pouco para descansar. Sentamos no chão encostados no tronco de uma das muitas árvores ? aparentavam ser eucaliptos ? que nos cercavam. Por um momento ficamos quietos, o único som que conseguíamos ouvir eram canários cantando e nossas respirações ofegantes.

    ? Nós somos rivais, mas ? Kirou começou de repente ? você, como um membro da mesma guilda que eu, me protegeria se eu estivesse em perigo né?

    ? Que conversa é essa de repente? ? disse ? é claro que eu te protegeria! Antes de ser meu rival, você é meu melhor amigo! E os amigos devem proteger um ao outro!

    Ele não disse nada, apenas sorriu. Após aquilo fomos para casa. Naquela época vivíamos na floresta, numa casa improvisada, pois éramos apenas crianças que haviam fugido de casa ? na verdade o Kirou não tinha pais e nenhum parente próximo. Parece-me que foi abandonado por aquelas bandas e uma velha que vivia na floresta cuidou dele, mas ela morreu a algum tempo e desde então ele vive sozinho ? então nosso caminho era o mesmo até a cachoeira, depois nos separávamos, ele descia uma trilha ao lado da cachoeira e eu subia para as montanhas.

    Quando chegamos no ponto em que nos separávamos, Kirou estendeu-me a mão e disse:

    ? Me prometa que nunca irá deixar a mim ou qualquer outro companheiro morrer. Não importa o que aconteça.

    ? É uma promessa! ? disse, dando um forte aperto na mão dele.

    Aquela lembrança me fez lembrar de uma coisa importante. Não importa o que aconteça, não importa as chances que eu tenha, pois mínimas que sejam eu devo proteger todos meus companheiros. E o que estou fazendo aqui parado?

    Me levantei rapidamente, me sequei, vesti uma roupa que estava jogada na cama, juntei tudo que precisaria para minha busca e segui para a saída da cidade.

    Estou saindo da cidade quando avisto uma pessoa toda ferida caindo ao lado de uma placa ao lado da saída da cidade. Corro para ajudá-lo.

    ? O que houve? Você está bem? ? digo puxando-o pelo braço.

    Ele levanta a cabeça e olha para meu rosto.

    ? Kai, é você? ? diz com uma voz fraca e logo após desmaia.

    Luto contra mim mesmo para acreditar no que estou vendo. Não é possível, até ele?

    ? Kirooooou! ? grito desesperado ? Alguém! Ajuda! Tem um homem ferido aqui!


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