Quero correr daqui, quero salvar Kyoko, quero descobrir o que o Conselho está tramando, mas não consigo, estou paralisado no meio dessa floresta, sozinho, apenas eu e minhas enormes dúvidas.
Tento me acalmar. Respiro fundo. Uma, duas vezes. Sento no chão frio da floresta, me apoio num tronco enorme e começo a refletir sobre a situação. Começo a relaxar e quando percebo estou sonhando, ou deveria dizer relembrando? Não sei, são imagens muito vagas, mas tenho um sentimento de que aquilo realmente aconteceu. Ouço barulho de espadas se encontrando, gritos desesperados e uma voz vindo em minha direção, está falando comigo, mas o que está dizendo? Não consigo ouvir. Está se aproximando cada vez mais. Vejo uma figura distorcida estender sua mão, mas quando vai me tocar... Acordo!
Abro lentamente meus olhos, penso em me levantar, mas não consigo, o sonho me deixou paralisado. Fico ali alguns minutos, parado, olhando para a imensidão daquele lindo céu azul, o sol iluminando a copa das árvores quando me dou conta que já amanheceu. Tenho que seguir viagem, tenho que chegar a minha guilda, eles poderão me ajudar a desvendar tudo o que está acontecendo e, com certeza, me ajudarão a encontrar Kyoko. E é o que faço.
Junto minhas coisas, apago a fogueira e sigo viagem por aquela longa estrada de terra, cercado por enormes árvores enquanto sinto o ar fresco batendo em meu rosto. Isso me trás lembranças de quando comecei a aprender magia...
Era um dia ensolarado, assim como hoje, estávamos eu e minha mãe caminhando pelo enorme campo próximo a nossa casa, nas montanhas. Nós vivíamos afastados da cidade, éramos uma família que, como dizem popularmente, tirava o sustento da terra. Lembro-me de irmos caminhando até o lago onde meu pai costumava pescar. A água dali era cristalina, dava até para ver o fundo. De um lado do lago havia um pequeno deck, simples, de madeira que ia mais ou menos até a metade do lago. Foi ali que aprendi a pescar e foi ali que toda minha vida como um mago começou.
Minha mãe era uma maga elementar muito poderosa quando mais jovem, dizem que ela até foi chamada para fazer parte dos Magos Santos, mas recusou, pois estava de casamento marcado e eu já estava a caminho. Ela dominava todos os quatro elementos ? água, terra, fogo e ar ? perfeitamente e ela me ensinou as magias mais básicas de cada elemento.
Meu pai também era um mago poderoso, mas ele dominava magias de relâmpago, magias as quais sempre quis aprender, mas ele dizia serem muito perigosas por isso nunca tive a oportunidade de aprendê-las. Uma vez tentei aprender, escondido dele, com a ajuda de alguns livros velhos de magia que tínhamos em casa, mas a única coisa que consegui foi uma cicatriz na palma das mãos. Obviamente, meu pai descobriu o que tentei fazer, escondeu os livros e proibiu a mim de aprender magia e a minha mãe de me ensiná-la. Foi então que decidi fugir de casa para a uma antiga guilda da cidade, a Ponytail.
Confesso que não sou um mago poderoso, mas me esforço ao máximo para tal. Dos quatro elementos que aprendi com minha mãe, me familiarizei com terra e ar e desde então venho aperfeiçoando essas magias. Já tentei combiná-las, mas, até hoje, tudo que consegui foram arranhões e nada de sucesso.
Enquanto penso em meu passado, não me dou conta que já consigo avistar a cidade de Magnólia, mas está tudo muito silencioso, algo incomum nessa cidade tão movimentada. Vou me aproximando e cada vez mais aquele silêncio me preocupa.
Quando entro na cidade, vejo poucas pessoas nas ruas, apenas alguns comerciantes e alguns turistas.
Magnólia é uma cidade grande, não muito diferente das outras no quesito arquitetura, são casas simples, todas feitas de pedra, algumas grandes, outras nem tanto, mas o que realmente atraí muitas pessoas até aqui são os festivais e principalmente as guildas, afinal, essa é uma cidade de magos. A guilda mais influente aqui é a Fairy Tail, e o fato da Ponytail ter esse nome não é uma simples coincidência, pois o fundador dela era um dos melhores amigos do mestre Makarov, mas depois de uma briga, ele decidiu se separar da Fairy Tail e formar a própria guilda, que em pouco tempo se tornou muito poderosa.
Vou caminhando pelas ruas da cidade e no caminho escuto alguns comentários sobre a Ponytail, mas não consigo entender. "Espero que não seja nada ruim", penso.
Estou de frente com o prédio da Ponytail, não escuto vozes ou barulhos de coisas quebrando lá dentro, como é de costume, mas não me preocupo, pois lembro que todos haviam saído no mesmo trabalho ao qual eu não me lembrava o que acontecera.
Ao entrar, encontro o mestre, Alastor, um velho de quase 70 anos, alto, magro, com os cabelos prateados que vai até o meio de suas costas, seu terno branco como de costume e seu inseparável cajado com o qual executa a maioria de suas magias. Ao lado dele está a conselheira da guilda, Akalifa, uma mulher bonita, com seu cabelo vermelho cor de fogo, usando uma blusa branca com o símbolo da guilda, uma calça jeans e sandálias e como sempre muito maquiada.
A guilda é um prédio de dois andares. No andar de baixo temos um bar com várias mesas e cadeiras e um balcão, é aqui onde a maioria se reúne todos os dias. O andar de cima é onde ficam os quadros de trabalhos, a sala dos Rank S, onde apenas o mestre e mais alguns magos poderosos podem entrar e pegar trabalhos mais difíceis, a enfermaria como outra qualquer e o escritório do chefe, que quase não é usado pelo mesmo, então acabou virando uma biblioteca.
? Olá Mestre, como estão as coisas por aqui? Onde estão todos os outros?
? Eles... bem... ? ele faz uma longa pausa, parece ter algo o impedindo de falar ? Kai, não se desespere com o que vou dizer. Apenas me escute.
Estou com medo do que ele pode me dizer, ele está com uma cara séria, o que não é comum daquele velho tarado, bêbado e brincalhão, mas consinto e me sento em uma cadeira que está atrás de mim e ouço-o falar.
? Todos estão desaparecidos e temo que possam estar mortos...