Notas do capítulo
(1)Tokubetsu-ku: são 23 municípios que juntos compõem o núcleo e a parte mais populosa do Tokyo. Toshima é um deles.
(Cap. 2) Capítulo 2
Enquanto eu pegava o trem, ficava pensando em muitas coisas, meu irmão dormia do banco do lado escorado em mim, e eu ficava olhando para o lado de fora, para a minha antiga cidade, cheia de memórias...
Memórias que eu iria esquecer, e algumas que eu deveria, mas não conseguia, não importava quanto tempo passasse. E com o tempo, boas memórias, passaram a ser magoas...
Onde eu morava agora era uma das Tokubetsu-ku(1) de Tokyo, Toshima, mais exatamente em Ikebukuro. Era uma cidade muito movimentada, afinal, tinha em seu território a segunda mais movimentada estação, perdendo apenas para a Shinjuku.
Fui matriculado em um colégio e Kasuka em outro. Exigência de minha mãe, pois sempre eu era expulso de algum, Kasuka acabava por se envolver e sair também. Na verdade, não me importei muito, sabia que meus pais queriam apenas o melhor para o filho exemplo deles.
Era Raira Academy, uma das escolas secundarias da cidade. Eu não estava animado para aquilo, no meu primeiro dia de aula foi um tédio, por que simplesmente, todos me olhavam como se vissem um fantasma. Talvez fosse minha exuberante beleza há há há... Ou meu uniforme desarrumado, ah, não podemos esquecer do cabelo loiro, sabem como são esses japoneses reservados.
Shinra Kishitani e eu éramos amigos desde a escola primaria, e ainda agora, estudamos juntos. Ele é um cara bem legal, apesar de ser viciado em ciência e medicina. Ele era o único do colégio que eu me dava bem, por assim dizer.
Nós estávamos conversando enquanto eu terminava de sair do clube de atletismo, nós estávamos até nos divertindo, até que eu parei de andar do nada. Alguém estava me olhando, eu tinha certeza.
Quando olhei para cima, lá estava ele. Era o mesmo de antes. Tinha crescido, é verdade, mas seus olhos travessos eram os mesmos, só que mais audaciosos. Seu sorriso era o mesmo, só que mais perigoso. Eu o reconheceria mesmo que passasse um milhão de anos. Ele me olhava de sorrindo, o mesmo sorriso do ano novo.
? Eu não gosto desse cara... ? eu disse mais para mim que para Shinra. Mas acho que ele achou que era para ele.
Eu continuei enfrentando seu olhar, até que ele se virou, e foi embora. Me segurei para não correr atrás dele e espancá-lo. Ele sempre sabia como me fazer ficar tenso, como me tirar a razão, como me fazer explodir e como habilmente fugir de minhas mãos.
Ele era uma maldita pulga que vivia brincando comigo e depois ficava fugindo, sempre, mas ele era o único que sabia como se livrar de mim facilmente.
Ele é, Orihara Izaya.