Fantasmas perdidos
Londres, Inglaterra 1840
Vagava por aquele lugar desesperada.
O cheiro de mofo poderia ser facilmente perceptivo , e a cada passo ouvia o ranger do piso velho de madeira escura e desgastada, o vento frio adentrava o local fazendo as cortinas de coloração clara balançar freneticamente, e o céu nublado de um breve começo de inverno não ajudará em nada. Era um hospital público um tanto rústico ... Pessoas amontoadas pelos corredores, clamando por uma solução de seus problemas...
Ao final do extenso corredor avistei uma enorme porta branca. Abria-a lentamente.
Tinha que admitir que a visão que tivera era das piores, um quarto de paredes escuras, cheias de sangue e marcas indecifráveis, e ao redor moveis rústicos e negros seguindo o mesmo passo do Hospital inteiro.
E ao canto eu a avistei, deitada em uma maca, tossindo, pálida, cabelos desengrenados, e um olhar de distante.
Por puro impulso e desespero agarrei-lhe a mão. Estava tão gélida e tremia tanto.
- Mãe. Disse em um fio de voz, não contive... as lagrimas rolaram por si só.
- Não chores minha criança. Está tudo bem agora. Falou com uma voz rouca.
Onde estava aquela mulher, forte, guerreira, risonha? Onde estava? Queria que voltasse novamente...
Aos seus olhos pude ver o único brilho que lhes restava, estava com uma feição terna, compreensiva... Como poderia ser tão perfeita até o momento da sua ida?
- Oh mãe... Eu não cuidei bem de ti. Disse chorosa
- Não meu amor... A doença é a culpada. Mas prometa para mim Hinata. Fez uma breve pausa com um tosse seca, cuspindo um pouco de sangue. Prometa a mim que se encontrarás a casa do teu primo Neji e cuidarás da pequena Hanabi? Falou segura de suas palavras.
Neste momento me desesperei, como uma criança cuidaria de outra? Eu só tinha 12 anos. Como poderia cuidar da minha irmã sem ela ?
As lagrimas rolavam sem parar e meu coração doía por dentro.
- Não mamãe, ficarás tudo bem, a senhora vai ver. Vais sair daqui renovada.
Ela tossiu novamente, mas a tosse fora mais longa que a primeira. Senti a falta de ar sobre seus pulmões...
- Prometa para mim Hinata? Prometa que vai se cuidar, e cuidar da sua irmã ? Quero que saibas que amo muito vocês, e não iria suportar vê-lás passando qualquer necessidade. Mesmo no meu leito de morte estarei a velar por vocês. Mas por favor diga-me que seguirás o bom caminho. O caminho que lhe ensinei. Por favor ? Seu rosto estava molhado, tentava o máximo apertar minha mão sem sucesso e a voz. Sim a voz estava cada vez mais distante.
- Sim mamãe, eu prometo.
Logo após estas palavras seu rosto ficou sereno, seus olhos pesados, e força foi-lhe arrancada.
Ali permanecia ela, em seu sono eterno.
Meus olhos novamente encheram-se de lagrimas, soluçava, clamava para que voltasse pra mim.
Mas era tarde de mais. O sopro de vida dela tinha se esgotado.
Depois de minutos chorando naquele comodo. A coragem tomou conta de mim, sai ao encontro da recepção, onde havia uma garotinha sentada em um dos bancos perto a janela, com o rosto sobre os joelhos.
-Hanabi. Falei segura. Vamos, vamos pra casa.
- Onde está a mamãe ? Perguntou ela fitando-me curiosa.
Apenas baixei o olhar ao chão, tinha que mostrar confiança aquele momento.
Peguei-lhe sua mãozinha e saímos pela enorme escada ao térreo.
Naquele momento estava perdida, sem rumo. E não pretendia ter ninguém para me ajudar. Principalmente meu primo que tinha uma casa naquelas redondezas. Então voltamos para nossa antiga casa. Eu sabia que "ela" não ficaria nada feliz com isso. Mas minha dor era tremenda. Mas tudo passa, a única coisa que fica são as lembranças... E pode apostar que eu nunca a esqueci....