Capítulo 2- Penser L?impossible
Velkhan teve o leve pressentimento de que aquele dia seria ruim.
Para começar, ele sonhou com o dia em que soube da morte do pai de Victorique, seis anos atrás. Seu sonho acabara quando ele soltou a mão de Victorique. Ele estava ficando preocupado com ela.
Correção: ele estava preocupado com ela desde aquele dia. Poucas foram às vezes em que se encontraram novamente, fazia quatro anos que ele não a via. Chegou a pensar se ela o reconheceria após tanto tempo sem se verem.
Ele havia mudado desde seus 19 anos. Ele crescera mais; estava mais forte; deixara a barba crescer... De modo geral, Velkhan amadurecera. Mas não esquecera Victorique.
Velkhan estava na sala do trono, sentado no trono do príncipe, à direita do trono do rei. Ele levou a mão dentro da camisa e voltou segurando o anel de Victorique, pendurado em uma corrente de prata. O anel nunca coubera em seu dedo; a mão de Victorique sempre fora menor.
Seus pensamentos foram cortados e seu pressentimento se provou correto quando o mensageiro do rei chegou. Ele trazia um convite enviado pela rainha Victorique. Um convite de casamento. O convite dizia ter convidado o rei e a rainha, em nome da aliança entre os reinos para o casamento da rainha Victorique e do rei Maxmillian III.
Velkhan levantou-se do trono. Os olhos estavam vermelhos.
-O que?!
Seu pai, o rei Wolfgang olhou para ele.
-Velkhan, eu entendo. Mas Victorique é uma rainha, ela deve ter pesado cada alternativa antes de tomar uma decisão. As suas vontades não são levadas em conta quando se está nessa posição.
Wolfgang sempre fora assim. O rei era muito racional, mas, ao mesmo tempo, parecido com o impulsivo filho. Wolfgang tinha a pele do mesmo tom bronzeado que o de Velkhan e os mesmos olhos dourados; a única diferença era que os cabelos de Wolfgang tinham um tom de cobre e, entre eles, mechas brancas, pelos seus 48 anos. O rosto tinha algumas cicatrizes, bem como o resto do corpo. O rei vestia um casaco pesado por cima do colete e da camisa pretos; por cima, uma capa azul-marinho que arrastava no chão. Botas de equitação ficavam por cima das pernas da calça. A visão de um rei elegante e racional, pronto para cavalgar aonde fosse preciso.
-Mas pai! Ela disse que não iria me deixar!
-Velkhan! ?dessa vez foi sua mãe, a rainha Kristin quem se pronunciou ? Você já tem vinte e cinco anos e ela vinte e seis. Ambos são adultos! Ela é a rainha; ela escolhe o que é melhor para ela. ?Velkhan sentou-se novamente e baixou a cabeça ? Velkhan... Deixe de infantilidade. Se ela seguiu adiante, já está na hora de você seguir também.
-Não! ?ele disse. ?Mãe, não adianta. Nenhuma outra garota me conquistou... nenhuma me... Prendeu como ela. Essas nobres que a senhora insiste que eu conheça nesses bailes... Elas são bestas famintas à procura de poder, querendo ser a minha rainha. Mas eu já tenho uma rainha.
Kristin Suspirou e tocou o braço do marido. Velkhan se levantou novamente e ficou andando em círculos no meio do salão.
-E sabe o que é pior? É que ela vai casar com o maldito do Maxmillian! Aquele... Aquele principezinho de merda! Metido a rei. Quero que ele queime nos reinos de Hel!
-Velkhan! ?A rainha chamou a atenção do filho.
-Eu entendo Velkhan. Maxmillian é o príncipe de Saltzburk, e nosso reino nunca teve uma relação pacífica com o reino dele. E você deve se sentir ainda pior, pois você o tomou como inimigo pessoal desde que tinham oito anos.
-Ah, aquele incidente na festa do conselho - Kristin começou a se recordar.
-SIM! ?Ele gritou. ?Não vou deixar que ele tome a minha rainha de mim!
?????
Passados dois dias depressivos, Velkhan teve uma ideia quando saiu do castelo. Virou-se para seu guarda costas e amigo e perguntou abruptamente.
-Thomas...?
-Sim, Velkhan? ?Thomas perguntou. Thomas tinha mesma idade que Velkhan e eram razoavelmente parecidos. Thomas era pouco mais alto que Velkhan ?e isso era muita coisa ? e mais forte também. O porte de um guerreiro. Os olhos eram castanhos e os cabelos escuros. Uma barba rala dominava o seu rosto. Usava apenas o colete por cima de uma espécie de sobretudo, mas leve que os normais, sem mangas, e que seguia até seus pés. Por baixo, uma calça preta e botas com esporas prateadas. Usava luvas de couro e mantinha a mão direita no cinto, onde levava um sabre embainhado.
-Thomas, eu queria saber se você me seguiria onde quer que eu fosse?
-Sim. Sou seu guardião e amigo - Thomas respondeu. Era verdade. Fora designado para acompanhar Velkhan desde que tinham cinco anos. Eles cresceram juntos e formaram uma amizade muito forte.
Velkhan sorriu. Ele andou até o amigo e pôs o braço ao redor dos seus ombros enquanto caminhavam.
-Então... Se eu fizesse certa proposta... Você aceitaria?
-Fale - Thomas respondeu.
?????
Velkhan entrou na sala do trono novamente. Ele havia se contentado com a limitação, mas se aquela fosse a única maneira de aliviar seu sofrimento, era isso que ele ia fazer.
-Filho! ? Wolfgang levantou-se do trono e abriu os braços para dar-lhe um abraço ? Como você está? Você saiu do quarto hoje e soube que você andou pelo jardim!
-Sim, pai. Isso é verdade ? Velkhan respondeu-lhe, retribuindo o abraço. ? Agora, pai... O senhor deixaria que eu fizesse alguma coisa se isso fosse me deixar mais feliz?
Wolfgang se separou do filho e sentou-se novamente.
-O que você quer?
Velkhan abriu um sorriso.
-Bem, não farei rodeios e lhe pedirei o que quero. Três homens, mais ou menos da minha idade, tão fortes quanto Thomas e tão altos quanto eu. Eles devem se parecer comigo e saber usar a espada.
Wolfgang olhou para o filho com estranhamento.
-Que tipo de pedido é esse? ?Perguntou, erguendo uma sobrancelha.
-Ah, pai... Se eu não vou me casar com Victorique, pelo menos o que planejo, me fará mais feliz. Mesmo com suas limitações - Velkhan disse, dando de ombros.
-E o que você planeja?
-Para que eu lhe conte, o senhor tem que me dar o que eu lhe peço. Ah, também vamos precisar de cinco cavalos e armaduras para todos.
-Pois bem... Mandarei o aviso aos mensageiros para que encontrem esses rapazes. Providenciarei os cavalos e os ferreiros prepararão as armaduras. Agora me diga, qual é o seu plano?
-O senhor me dá a sua palavra como rei e guerreiro que vai cumprir a promessa e que não irá contar nada para a mamãe? ?Velkhan havia considerado e chegara a conclusão de que se a rainha soubesse, não o deixaria seguir adiante.
Wolfgang suspirou e coçou a barba.
-Sim, eu dou-lhe a minha palavra.
-Então... Minha ideia é essa...