Liandan

  • Finalizada
  • Kiia
  • Capitulos 12
  • Gêneros Ação

Tempo estimado de leitura: 4 horas

    16
    Capítulos:

    Capítulo 7

    Aposta VI

    Álcool, Drogas, Linguagem Imprópria, Mutilação, Nudez, Violência

    Início do Mundo.

    No início havia somente o mundo das névoas, Niflheim e o mundo de fogo, Musphelhein. Entre eles havia o Ginungagap, um grande vazio no qual nada vivia. Na ligação entre os dois, o fogo e a névoa se encontraram formando um enorme bloco de gelo. Como o fogo de Musphelhein era muito forte e eterno, o gelo foi derretendo até surgir um gigante a partir daquela fusão, Ymir, era seu nome, e ele dormiu durante as muitas eras que se passavam. O seu suor deu origem aos primeiros gigantes. E do gelo também surgiu uma vaca gigante, Audumbla, cujo leite que jorrava de suas tetas deu a forma de quatro grandes rios que alimentavam Ymir mesmo durante o sono. Certo dia, Audumbla lambeu o gelo e libertou o primeiro deus, Buro, que foi pai de Borr, que por sua vez foi pai do primeiro Esir, o deus da guerra e sabedoria Odin, e seus irmãos, Vili e Ve. Então, os filhos de Borr destroçaram o corpo de Ymir e a partir deste, criaram o mundo. De seus ossos e dentes surgiram as rochas e as montanhas. De seu cérebro surgiram as nuvens.

    Após a criação, tudo tomou seu rumo. Os nove reinos foram distruibuídos para cada espécie, e logo os demais deuses surgiram, assim como Sigel, a deusa do sol, filha de Mundilfari e esposa de Glen. Todos os dias, ela corria através dos céus em sua carruagem puxada por dois cavalos nomeados Alsvid e Arvak. Esta passagem era conhecida como Alfrodul, que significava "glória dos elfos". Sigel era perseguida durante o dia por Skoll, o lobo do dia, cujo queria devorá-la. Os eclipses solares eram um sinal de que o filho de Fenrir quase a capturara. Era fato que Skoll eventualmente conseguia alcançar seu objetivo, entretanto, a deusa era sempre substituída por sua filha enquanto não se libertava. O irmão de Sigel, Mani, cujo era o deus da lua, era caçado por Hati, lobo da noite, e irmão de Skoll.

    Ninguém nunca imaginaria que as crias de Fenrir conseguiriam algum dia devorar os deuses, porém, este dia chegou, e com eles o Ragnarok teve inicio. Poucos meses antes deste evento, Odin consultou o espírito de um shaman morto, e a este questionou o futuro e o passado. Sabia que as Nornas não lhe dariam o que procurava, e seu poder não permitia enxergar mais além. Á principio o morto relutou em lhe dizer o que pedia, mas logo cedeu, e assim mostrou ao deus o que o futuro lhe aguardava, permitindo a Odin comtemplar também o passado.

    Temeroso perante o que lhe seria destinado, criou então uma magia que poderia ser a salvação de seu amado reino, ou mesmo a destruição deste. Diferente de suas demais criações, esta possuía uma forma semelhante ao dos humanos, porém as orelhas e cauda felpuda a denunciava como ser diferente. Era tão bela quanto Freya, ao mesmo tempo em que parecia ser tão fria quanto um dos gigantes de gelo. Esta era Liandan, a “dama da noite”. A magia perfeita escondida em um corpo.

    Hel, em seus domínios suspeitava do que Odin, seu tio adotivo, e responsável pelo seu exilio, planejava, e sem demora ofereceu seus serviços a ele. Apenas os dois sabiam da existência de tal criatura, e convencido de que a sobrinha prestava bons serviços, pois não a vira nas visões do espírito, deixou-a responsável pelo esconderijo de Liandan.

    A deusa dos mortos conhecia bem a existência de outros mundos, e de todas estas, Verdandi, era sem dúvida o melhor lugar para se esconder a magia em forma feminina. Afinal, era um ser semelhante às entidades que ali viviam. E assim logo veio o Fim dos Tempos, cujo não teve o impacto original que as Nornas previam, graças à criação de Liandan e a interferência de Hel. Mani e Sigel haviam conseguido fugir das garras de Skoll e Hati, e assim continuavam livres até os dias de hoje. Com a morte de Fenrir, e demais deuses, os irmãos lobos não possuíam mais um objetivo ao caçar os astros, e assim se exilaram cada qual em um ponto obscuro do submundo.

    A cria de Loki, Fenrir, deveria ter sido morta por Vidar, o deus da vingança, e assim assumiria o trono de Odin caso o mundo sobrevivesse, porém não foi o que houve. Os filhos de Thor, Magni e Modi haviam ganhado direito ao trono ao derrotarem o lobo gigante com o martelo do falecido pai, Mjolnir. A revolta havia crescido no interior de Vidar, que se tornara apenas um mero súdito dos sobrinhos. Algo deveria ter acontecido para seu futuro ter sido alterado de maneira tão drástica, e assim com ajuda do mesmo espírito que seu pai invocara, descobriu sobre a existência de Liandan. Tinha seus próprios planos, de certo bastante diferentes dos de Hel, mas a deusa não via problema nisso, afinal, o que importava? Ela nunca perdia uma aposta.

    Observando tudo que acontecia ao seu redor, Hela não tinha tempo a perder, tudo que ocorria era uma oportunidade para colocar seu plano de eras em pratica. Mas para isso, deveria recriar o Ragnarok, e como isso seria feito se Loki e mesmo Heimdall estavam mortos? Lembrou-se então de Liandan, a pobre criança que havia sido dada a uma de suas servas, Kishibi Uinta, uma kitsune que por sua causa perdera o posto de Kyuubi para ganhar o de Tenko. Era um esconderijo perfeito, afinal, quem suspeitaria da criança? Era tão semelhante a eles, que somente Kishibi percebia a diferença.

    Atualmente, Hel buscava finalmente concluir seu objetivo, e para isso precisava despertar o poder magico que adormecia dentro de Yuki, a falsa kitsune que fora dada aos cuidados da deusa do vilarejo. Mas agora que Kishibi começava a perceber seu plano, todos seus esforços eram voltados em aprisionar cada vez mais os poderes de Yuki em seu interior, nem mesmo Loki, que ali perto estava sentia a presença de Liandan.

    Ulric por fim havia despertado, e agora que possuía consciência de quem de fato era, passava todos os dias treinando, ignorava a tudo e a todos, e assim passou-se dois meses. A deusa da morte tentava em vão ativar a magia, e como consequência, a pequena Yuki, passava seus dias acamada, como febres frequentes e constantes pesadelos onde Hel falava consigo. A cada dia, Kishibi se tornava mais fraca, e sabia que logo seu poder viria a ter fim, morrendo de exaustão.

    Mitsuki Chi, a pequenina raposa negra, companheira do feiticeiro Damminos, havia sido recolhida após a morte de seu protetor, e agora vivia junto com as demais raposas e kitsunes. Kishibi abria as portas de seu santuário frequentemente a entidades ou seres mortais, aqueles que não possuíam mais lar eram sempre bem vindos.

    Mitsuki Chi, não passava de um animal comum, mas havia crescido cercada por feitiços dos mais variados tipos, um inclusive permitia a pequenina o dom do raciocínio avançado. Apesar de possuir um ano, e estar adentrando na fase adulta de sua espécie, era pequena como um filhote devido a uma doença na infância. Durante os meses que se passaram com a estádia de Ulric, Mitsuki Chi passava longas horas a fita-lo em treinamento. Este, por sua vez, possuía personalidades variadas. Era difícil dizer quem às vezes estava no comando do corpo humano, por esse motivo, nem mesmo os lobos se aproximavam do rapaz. Apenas a raposa negra avançava em sua direção sempre com comida. Quando o próprio Ulric comandava seu corpo, Mitsuki Chi era recompensada com caricias para a alegria do animal.

    Dentro do universo mental do rapaz, o caos apenas parecia ter crescido. Antes Loki se via ali sozinho, e conseguia vez ou outra aconselhar o rapaz, influenciando em suas decisões, mas agora? Agora que Ulric sabia quem era, e o que era necessário, se via em conflito com aquilo. Toda sua vida então havia sido uma mentira? Deveria abandonar tudo? Mas era então que a ganância lhe falava mais alto. Por que contentar-se com esta vida, se pode tornar-se o próprio pai de todos? Aceite quem é, e terá o universo aos seus pés.

    Nunca reclamaria se tudo o que estivesse ocorrendo, acontece-se de forma diferente. Iria perder sua identidade e o mundo em que vivia. Se fosse há tempos atrás, talvez aceitasse de bom grado aquilo, desejando que tudo explodisse pelos ares, mas... Existiam pessoas que odiaria perder por mais que não admitisse. Tinha medo de descobrir que possuía sentimentos como qualquer ser humano.

    Por mais que estivesse em um ambiente isolado de Asgard, e dos demais reinos, sentia o alvoroço que dominava seus habitantes. A guerra havia sido declarada, e apenas existiam suspeitas da participação de Loki. Recentemente, o deus ouvira boatos inclusive de que Heimdall vivia. Quando descobrira isso, não poupara risadas exageradas. Sua filha, Hel, realmente havia se esforçado para recriar o Ragnarok, não era? Perguntava-se então se Thor e os demais também surgiriam em meio à guerra, mas acreditava que não, caso contrário o resultado seria semelhante ao atual, ou mesmo pior.

    Ulric não suportava mais permanecer naquele local, queria voltar para o local onde vivia, para a cidade onde sua vida se encontrava, como se tudo aquilo não passasse de um sonho longo e louco. Dentro de sua própria mente, buscou conversar com Loki. Não podia simplesmente deixar aquele estranho comandar seu corpo em qualquer momento em que se sentia fraco.

    - Ainda insiste nisso, inseto?

    Como na maioria das vezes, Loki encontrava no centro do caos. Sempre de olhos fechados em profunda meditação. Ulric observou perplexo como o seu mundo interior tornava-se cada vez pior. Os prédios que antes teimavam em desabar com frequência, já se encontravam desfeitos. No céu, um estranho astro-rei vermelho pairava, parecendo cada dia mais próximo deles. Raios e chamas de fogo choviam do céu alaranjado. Corpos em decomposição, como após o apocalipse se encontravam atirados, aniquilados das mais distintas formas. A única coisa que permanecera igual desde a primeira vez que vira aquele local, era a torre com um imenso relógio, onde Loki permanecia.

    - Posso ser um inseto aos seus pés Loki, mas sou necessário para sua existência. Se não o fosse, teria permitido a minha morte no Canadá alguns meses atrás. Eu teria morrido congelado e você bem o sabe, mas seus poderes mantiveram este corpo aquecido apesar de tudo. – as palavras eram soltas com um sorriso de zombaria.

    - Maldita Hela, permite sua existência apenas para me importunar. – brandiu abrindo os olhos castanhos que queimavam como brasa. Ulric sorriu em resposta.

    - Kishibi já percebeu, eu já percebi e, portanto você também. Não temos muito tempo, dou quinze dias antes do inicio deste novo Ragnarok. Por isso, volto a insistir, permita que eu controle meu corpo por esses dias, estou farto, farto de fazer tudo de acordo com suas ordens. – houve uma pausa. E ele massageou as têmporas. – Escute. Compreendo a falta de atenção que dedica a mim, mas procure entender ao menos uma vez meu ponto de vista. Desde que nasci sou sua marionete, tudo que fiz foi agindo de acordo com suas ordens, que eu obedecia sem ter consciência. Mas a muito deixei de ser este objeto.

    Conforme Ulric falava, a bela face de Loki fechava-se em uma cara carrancuda. Afinal o que aquilo lhe importava? Quando sua filha lhe fizera a proposta, nunca imaginou que seria atormentado por um ser tão sentimental, inútil... E totalmente necessário para sua existência.

    - Quinze dias. Apenas isso para finalmente viver minha vida. Depois disso, ficarei quieto, deixarei você seguir em frente, seja lá o que planeje. Tudo terá fim, portanto deixe-me aproveitar, caso contrário farei o possível para transformar esses últimos dias em seu pequeno inferno particular. – os olhos azuis fuzilaram Loki. Não tinha poder para enfrentar Loki, muito menos era tão inteligente quanto ele, mas sabia que talvez daquela maneira, o deus cedesse.

    A face mostrava-se irritada, o rosto inclinou-se para a direita apoiando-se na mão. Ridículo, o que aquele ser inferior pretendia fazer? Ameaças? Realmente, sua filha, Hel não havia lhe dado um inútil para companhia, mas sim um bobo da corte.

    - Hel certa vez me disse que não é peça do meu jogo de xadrez, pelo contrário, é rainha de seu próprio jogo. Mas vejo que em troca ela me deu um peão cego e sem inteligência. – a voz era entediante e sonolenta. – Mas tudo bem. Nesses últimos meses não tive sossego. Rituais e treinamentos, um atrás do outro... Quinze dias.

    Os olhos de Ulric se acalmaram. Não confiava em Loki, muito menos gostava do sujeito, mas acreditava que deveria aceitar. Era tudo que lhe restava. Os dias passariam rápido, e iria se arrepender caso nada tentasse.

    - Durante as noites, treinaremos. Precisamos estar em coerência de ações e pensamentos para não haver gasto demasiado de minha energia. Agora vá, aproveite Pierrot.

    Ulric abriu os orbes azuis. Estava distante do caos que reinava em sua mente. Soltando um suspiro aliviado apreciou o ambiente ao seu redor pela primeira vez desde que chegara. Sentia-se como um viajante do tempo, cujo se encontrava em um Japão feudal habitado por criaturas fantásticas. Notou Mitsuki Chi, a pequenina raposa ao longe, sentada como sempre com seus enormes olhos dourados, quase negros, a fita-lo. Aproximou-se da pequena, que logo veio ao seu encontro, subindo por suas costas, pendurando-se então em sua cabeça, que tombou para frente pelo peso do animal. Incrivelmente, o rapaz estava de bom humor, ninguém jamais o reconheceria. Talvez Miraini Mori arregala-se os olhos para depois desferi-lo um soco no estômago enquanto perguntava quem era ele, e o que fizera com o Ulric verdadeiro. Com todos aqueles pensamentos, riu enquanto retirava Mitsuki Chi de sua cabeça para leva-la aos braços.

    Sentia saudades da amiga, e se perguntava se a jovem continua a realizar suas loucuras, como insistir no treinamento apesar do braço quebrado.

    - O que me diz de conhecer uma flor de merda, Mi?

    ...

    Ulric não queria permanecer mais naquele lugar, não via a hora de rever conhecidos, o que pareceu agradar Kishibi, que fragilizada, mandou chamar de imediato Lihn e Katsu, os dois filhos de Fenrir. Graças às habilidades de Hati, não seria problema retornar a dimensão de onde o rapaz partira. Porém, antes de irem, Ulric tinha uma dívida com o lobo branco, de imediato, aproveitando seus reflexos, e agora a incapacidade de ser parado facilmente, graças a Loki, não poupou forças para humilhar o ser arrogante.

    Fingindo um aperto de mão amigável, torceu o pulso deste com força, para depois enterrar uma joelha na boca do estômago deste. Ulric era rancoroso, isso sempre fora, e não era Loki quem colocara este sentimento dentro de si. Algo deveria vir dele, afinal.

    - Da próxima vez que tentar brincar comigo, farei pior, vaga-lume sem emprego. Aprenda seu lugar. – arguiu cuspindo as palavras.

    De todo modo não estava realmente irritado com o pobre ser, pois mesmo que tivesse sido enviado para o País de outra dimensão, não morrera e ainda fizera amizade. Mas tinha seu orgulho a zelar. Havia sido divertido ver o animal em forma humana ralhar palavrões ao sentir dor.

    Managarm, ou Itsuno para Kishibi, não se encontrava naquele mundo, mas sim na Terra que Ulric conhecia. As habilidades mentais e psíquicas do lobo negro permitia que este se passasse pelo próprio Ulric. Ninguém assim sentira a falta do arruaceiro.

    Tanta coisa havia acontecido nos últimos dias, mas o passado não interessava para o rapaz, ele procuraria viver o presente sem se preocupar com o futuro, e assim retornou ao Japão. Tudo estava aparentemente igual, ao que ele deixara. Quando desceu as escadas de seu quarto, pela primeira vez em muito tempo, deparou-se com seu pai chegando exausto do trabalho. Um rápido cumprimento, uma rápida despedida. Nunca haviam sido muito próximos, mas naquele dia, Ulric gostaria de ouvir o que Claude Knox tinha para lhe dizer sobre seu cansativo dia. A muito não faziam isso, e talvez a última vez que ele se dirigira ao pai fora para descobrir e argumentar contra a mudança para a cidade de Sapporo.

    Quando amanheceu, o rapaz caminhou sonolento, porém de bom humor até Usagi no Me, a escola a qual frequentava. As portas desta deparou-se com Managarm, trajando as mesmas roupas chamativas que o vira usando no terreno abandonado em sua luta contra a Chi o Koete. Ainda impressionava-se com o comportamento desligado do lobo.

    - Divertiu-se? – indagou avoado como sempre. A Ulric parecia que lhe perguntava apenas por educação, pois nem sequer parecia de fato interessado na resposta, mas talvez estivesse interessado na borboleta que acabara de passar a sua frente.

    - Acho que sim. – respondeu dando de ombros. A reposta também não interessava ao rebelde. – Qual foi à imagem que deu de mim nesses últimos meses? – questionou apressado. Tinha tanta coisa a fazer em tão pouco tempo.

    - Normal. – agora parecia observar o cotidiano de um casal de João-de-Barro. – Skoll me pediu para apagar algumas memórias...

    - Quais? – quis saber de sobrancelha erguida.

    - Dos gangsteres. – respondeu simplesmente. – A tal Chi alguma coisa não se lembra de você, Loki, muito menos de sua gangue. E a sua, não se lembra deles.

    Managarm já não lhe dava atenção, seguia com os olhos o macho, do casal de passarinhos sair para buscar algo, sentia vontade de ir atrás, mas seria algo trabalhoso...

    Sem esperar por algo a mais, Ulric seguiu em frente para encarar os colegas, amigos e professores. Seres que em breve não existiram mais.

    ...

    Dez dias já haviam se passado, e durante este tempo, Ulric soube o que era uma vida normal, sequer visitava Black Rose, deixava para que Managarm fosse até o local e passasse a liderança do dia para Saguro. Sabia que se continuasse assim, seria capaz de seus súditos se revoltarem contra sua liderança, mas pouco ligava.

    Nos dias que seguiram, se via mais próximo de Miraini. A pequena Mitsuki Chi sempre o acompanhava, porém, estranhamente ninguém era capaz de vê-la, exceto Ulric e os lobos. Managarm, por sua vez, passava seus dias dormindo no alto de um galho qualquer de árvore com Mitsuki Chi a lhe fazer companhia, mas somente nas horas que o rapaz se encontrava ocupado. Recentemente, Miraini já não tinha mais tanto tempo para ele, e aquilo irritava Ulric sem ele mesmo saber o porquê de sua irritação. No passado, havia sido ele a não ter tempo para ela, apenas se falavam durante intervalos, ou quando se esbarravam, mas agora que ele procurava sua atenção, apenas escutava: “Desculpe lobo rei, tenho pressa.”. Mas tudo possuía uma explicação, ela havia arranjado um namorado.

    Não era algo sério de inicio, na verdade Ulric conhecia bem o sujeito, mas nunca acreditara que a jovem se interessaria por um idiota como aquele. O rapaz era bonito, verdade, participava do clube de literatura do colégio. A maneira como ele e Miraini se conheceram havia sido engraçado, mas para Ulric aquilo não importava, ele definitivamente odiava o rapaz. Não suportava mais ouvir da boca da amiga sequer o nome do sujeito. Aiko Inoue. Um nome ridículo, até ao som segundo o jovem Knox. Miraini certa vez o contara que os kanjis do primeiro nome do rapaz significam “Filho do Amor”. Ulric nessa hora fingiu vomitar de desgosto, e amiga lhe atirara um sapato sobre a cabeça de cabelos tingidos.

    Mesmo com tudo que acontecia, a relação dos dois parecia melhorar a cada dia, e o rapaz se via inquieto. Não suportava ver a jovem com o outro, e não compreendia o porquê daquilo. Já havia estado com tantas outras mais, ou menos bonitas que Miraini, e nunca sentira aquilo. Nunca havia se permitido sentir aquilo. E por mais que relutasse, no intimo já sabia a resposta, no entanto teimava em ignorar.

    - E então, vai me dizer o que deu em você hoje, caramba? – era a quarta ou quinta vez naquele dia em que Miraini lhe chamava a atenção. Ele parecia tão distante aquele dia, tão... Melancólico, que ela quase sentia vontade de espanca-lo, a fim de trazê-lo ao normal.

    Estavam sozinhos no dojo de kendo como na maioria das vezes. Era comum a jovem Mori ser a última a se retirar do clube, e por vezes o responsável pelo grupo de treino, permitia a jovem continuar no local. Ulric sempre ficava nos últimos dias, a fim de acompanha-la até metade do caminho, onde Aiko estaria esperando-a após sair do trabalho, ou algo do tipo.

    - Jura que não sabe? – indagou sarcástico erguendo a sobrancelha. Miraini assentiu voltando sua atenção aos movimentos do bokken. – Esqueça.

    Quase que imediatamente, ela parou seu treino. Já não se encontrava há muito tempo utilizando a armadura, apenas o keikogi – a parte superior da vestimenta - e o hakama – a parte inferior. Limpando o suor do rosto com uma toalha, sentou-se ao lado do amigo. Estava determinada a descobrir o que se passava com o amigo, e mesmo sendo contra a vontade do rapaz, ela insistia nas perguntas, até que ele finalmente explodiu.

    - Está certo, quer descobrir o motivo do meu estado?! Estou com cíumes, Miraini, é isso! Não suporto ver você com aquele imbecil! – grunhiu em inglês. Estava irritado demais para perceber que falava em sua língua nativa. – Era isso que queria ouvir? – a essa altura, Ulric Knox praticamente gritava.

    O inglês da jovem por sua vez, não era dos melhores, sempre pedia ajuda a Ulric nesta matéria, mas havia entendido o suficiente para ficar calada. Os olhos fixos no chão de madeira.

    - Acho que você já está passando dos limites. Sei que somos como irmãos, mas não acha que está insultando demais o Inoue ultimamente?! – agora era ela quem se mostrava irritada. Não conseguia entender como a cabeça de Ulric funcionava nos últimos dias, e isso a fazia pensar que talvez nunca tivesse entendido.

    - Mas que raios! – esbravejou novamente, ainda em inglês. – Irmãos, irmãos, irmãos... É só isso que sabe dizer?! Estou farto disso, aprenda uma coisa, não sou seu irmão... – a voz aos poucos foi acalmando-se, e logo já se via novamente ao japonês. – Até porque se fossemos... – Houve uma pausa.

    Confusa, cansada e principalmente irritada com tudo aquilo, Miraini levantou-se com a intenção de ir embora. Conversaria com o amigo no dia seguinte.

    - Olha, esquece. A culpa é minha. De qualquer forma, Inoue já deve estar me esperando.

    Mas ela não foi. Não sabia quando, muito menos como, mas encontrava-se deitada no chão de madeira, o rosto queimava pela proximidade com Ulric. Os olhos azuis a miravam com tanta intensidade, de uma maneira completamente diferente. A respiração do rapaz beijava seus  lábios, e a cada instante, Miraini apenas ficava mais encabulada. Não sabia como agir.

    - Até porque se fossemos irmãos... – insistiu. A voz baixa, os olhos fixos nos delas como se estivesse em transe. – Eu não teria suportado, e já teria cometido incesto. – Ulric notou o rubor das bochechas da jovem. Mas ela nada dizia, ou sequer fazia além de retribuir o olhar. – Escute. Você me conhece bem, sabe o tipo de cara que sou, sabe das minhas intenções neste momento. Se pensar em fugir, pode ir. Garanto que não vou mais te perturbar, te deixarei ir e ficar com o Aiko. Mas saiba que eu te amo, maldita flor de merda. - Um pequeno sorriso, sincero, surgiu nos lábios de Ulric. Ele suplicava com o olhar para que ela retribuísse seus sentimentos. Esta por sua vez, não tinha reação, simplesmente não sabia o que devia fazer. Gostava do rapaz, era verdade, mas havia ouvido da boca dele tantas e tantas vezes sobre incontáveis garotas a quem levara para a cama, que desistira do que sentia por ele, preferindo dizer a si mesma, que aquilo não passava de amor de irmãos. Não queria ser apenas mais uma.

    - Eu não devia... – começou ela finalmente. Os olhos nervosos fixos nos azuis de Ulric.

    Bastou aquilo para entristecer o jovem. Estava certo em sempre reprimir sentimentos, deveria ter continuado como sempre. Conseguindo o que queria pela força, e afastando-se antes de se apegar ao objeto. Mais por que não conseguira fazer diferente com ela? Sentia-se arrasado, e aos poucos foi levantando-se para permitir que a jovem partisse, mas em vez disto, ele sentiu os braços da menina enlaçando o seu pescoço, impedindo que este a deixasse. Estava surpreso.

    - Eu não devia. – tornou a repetir. – Mas por você, seu lobo idiota, faço qualquer coisa.

    O que se deu a seguir ocorrera tão rápido como a queda de Miraini ao chão. Em um momento encontravam-se deitados no piso de madeira, e no outro, trancados na sala de limpeza do dojo aos beijos.

    A sala era originalmente uma sauna particular para o clube, mas graças à falta de dinheiro, aquele local tornara-se o deposito do grupo, e apesar disto, encontrava-se constantemente limpo graças ao responsável pelo kendo. Um verdadeiro maníaco por limpeza. Nos dias que Miraini ficava depois do tempo previsto para continuar seu treinamento, ela ficava com as chaves a fim de trancar tudo depois que saísse. Sabendo disto, Ulric não havia perdido seu tempo ao arrastar e tranca-los naquele local, onde sabia que ninguém os perturbaria.

    O rapaz sentara-se em um banco de parede, algo comum naquela sala, com a jovem em seu colo. As mãos experientes de Ulric tocavam gentilmente cada parte do corpo feminino, preparando-a. Apesar do namoro, sabia que sua amiga nunca tivera intimidade com Aiko, e caso tivesse, o Knox seria o primeiro a saber. A essa altura, Ulric já havia arrancado o keikogi da menina, deixando somente um top à mostra. Top este, que as mãos masculinas adorariam arrancar do busto da jovem.

    As mãos de Miraini, por sua vez acariciavam a costas nuas do rapaz, para depois passar pelo peitoral. Não havia cicatriz, ou qualquer sinal de ferimento. Apenas um homem forte que a segurava nos braços, um lugar do qual jamais gostaria de sair.

    Com rapidez, Ulric retirou as suas, e o que restava das roupas da amante. Infelizmente, pensou o rapaz, não poderiam demorar muito. Aiko sentiria a falta da namorada, o colégio em breve seria fechado, mas mentalmente o rebelde mandou tudo àquilo para os infernos. E por que deveria se importar? O mundo acabaria dentro de cinco supostos dias.

    Antes de prosseguir, roubando a virgindade da jovem, Ulric procurou pelo olhar da amada. Fitaram-se por poucos segundos, até ela por fim sorrir encabulada. Não acreditava que tivessem chegado aquele ponto. Ele passou as mãos sobre os cabelos soltos de Miraini, que segurou esta, e retribuindo o olhar assentiu para ele, dando permissão para seguir em frente.

    Amaram-se pelo tempo que lhes foi permitido, nem mesmo em seus sonhos mais quentes, a jovem Mori se veria em uma situação como aquela. Sentia-se ridícula por alguma vez ter pensado em desistir do rapaz, e agora que estava finalmente ao seu lado, não como irmã, mas sim como mulher, Miraini sentia que derretia a cada toque do amante. Queria que continuassem assim para sempre.

    Por fim, não havia se arrependido de dizer o que sentia. Talvez se tivesse dado conta de seus sentimentos mais cedo, poderia ter aproveitado melhor a companhia de Miraini.

    Mais tarde, seguiram para casa de Mori. Aiko não a esperava no local de sempre, também pudera, haviam se atrasado mais do que esperavam. Mas a surpresa desagradável veio a seguir, onde Aiko Inoue esperava por sua namorada na entrada de casa. Miraini encolheu os olhos, sentindo-se culpada. Ulric conhecia a jovem o suficiente para saber que sozinha, ela jamais teria coragem para dispensar o pobre coitado, ah, mas Ulric era diferente, ele sentiria prazer ao ver aquele ser ir embora de cabeça baixa, e rabo entre as pernas. Não precisaria de palavras complicadas, ou explicações extensas. Apenas o fato de Aiko avistar ambos de mãos dadas já havia o machucado.

    - Por que estão assim? Mori, por que demorou tanto? – os olhos negros do rapaz iam dela, para seu companheiro. Parecia confuso, em um misto de raiva.

    - Ulric, por favor, deixe-me conversar a sós com ele. – ela pediu soltando-se das mãos do amante.

    Relutante, ele aceitou. Continuaria a espreita, já que não confiava em Aiko, e tinha seus motivos para isso. Era um rapaz boa pinta e inteligente, verdade, mas havia boatos de que ele entrara para Yakuza alguns meses atrás. Não duvidaria disto, levando em consideração que as gangues participantes deste regime convidavam constantemente estudantes, já que eles não eram obrigados a saber lutar ou mesmo possuir tatuagens, marca registrada da Yakuza. Ulric mesmo, certa vez havia sido convidado a fazer parte através de um colega de classe, cujo era membro, mas havia recusado. Na época, ele não queria ser um peão sem valor, mas sim o rei. E de certa forma, ainda pensava assim, mesmo sabendo que jamais poderia ser de fato o comandante de sua partida.

    A conversa parecia correr normalmente, exceto pela face raivosa de Aiko. E enquanto observava ele por fim se afastar, Ulric sentiu algo estranho dentro de si. Algo que o deixou abalado e temeroso pela vida de Miraini. Quando ele não foi mais visto, Ulric foi ao encontro da jovem, a qual abraçou com força, temendo que aquela pudesse ser a última vez que o faria.

    ...

    Faltavam dois dias para seu sonho ter fim. Mas parecia que já havia se esquecido deste fato, se não fosse por Loki, cujo todas as noites exigia um treinamento, que na maioria das vezes deixava sempre o rapaz exausto, mas não o suficiente para não aproveitar a companhia de Miraini. Graças à ausência do pai, e mais recentemente do pai da garota que se encontrava em uma viagem de negócios, a jovem passava os dias e as noites na casa do namorado, Ulric.

    De noite, enquanto assistiam o jornal antes de irem para o quarto, uma notícia sobre um assassinato em série preocupou o rapaz. Ainda estava com a sensação de que algo de ruim aconteceria a qualquer momento com sua pequena.

    - Está vendo isso? É por isso que sou protetor, não posso te deixar andar por ai sozinha enquanto esse tipo de coisa acontece. – praguejou com a cabeça apoiada no ombro esquerdo da jovem que estava sentada em seu colo. Ela por sua vez riu.

    - Relaxa, pai. Ou você acha que eu treino kendo só para campeonatos? Sei me defender muito bem. – brincou virando-se para ele, a fim de deitar-se sobre Ulric. Ele sorriu enquanto buscava os lábios rosados da jovem.

    - Sabe se defender é? Vamos ver se consegue fazer isso contra um lobo faminto!

    Aquela seria a última vez que Ulric Knox ouvira o riso de Miraini.

    ...

    Estavam todos ocupados organizando tudo para o festival escolar. Naquele dia, ninguém havia tido tempo para algo mais do que trabalho, e Ulric não era exceção. Por mais que odiasse aquilo, e pensasse que era algo inútil, não conseguia se ver livre do trabalho. O mesmo acontecia com Miraini, cujo clube preparava algo especial para o dia do festival.

    Em algum momento, o Knox lembrou-se que seu tempo para visitar Black Rose estava no fim. Amanhã seria seu último dia, e após seu expediente, ouviu de Miraini que ela sairia do colégio apenas por volta das oito da noite. Seria tempo mais do que suficiente para ir e voltar. Pediu para Managarm e Mitsuki Chi fazerem companhia para a jovem. Ambos permaneciam, como sempre, em uma árvore qualquer apenas a observar.

    Ulric procurou relaxar, ela estava bem protegida, e nada deveria acontecer, certo? Mas aquele sentimento ruim ainda o perseguia. Apesar disso, seguiu em frente, planejando voltar o mais rápido possível. Caminhos complicados, troca de roupa, mais caminhos complicados, e lá estava ele no galpão da Black Rose. Não que aquilo fosse preciso, mas era seu costume. Deparou-se com Saguro na entrada. O grandalhão sorriu, estendendo a ele um maço com pó branco.

    - Há quanto tempo rapaz. Pensei que estivesse morto. – Riu ingerindo um pouco de cerveja. – Os homens lá embaixo tem esse mesmo pensamento. Sempre que aparecia aqui, apenas passava o comando do dia pra mim, o que foi? Alguma vadia na parada? – gargalhou.

    Ulric lançou um olhar para latas vazias de cervejas atiradas ao chão, pelo hálito, além de bêbado estava drogado.

    - Sabe que não uso essas porcarias, use essa porra longe de mim, Saguro. – suspirou irritado. Nada havia mudado. – É, é... Tem mulher sim... – admitiu por fim, arrancado à lata de cerveja do amigo. – Mas não a chame de vadia novamente. Vou te dar um desconto somente desta vez por estar bêbado, mas considere-se avisado. Ofenda-a, e te arranco os dois olhos.

    Saguro era um bom lutador, talvez fosse uma batalha complicada de se vencer antes, mas agora, não havia mais competição de força entre eles, mas talvez nunca houvesse. Loki jamais deixaria que Ulric morresse, não enquanto ele dependesse daquele corpo.

    - Okay, okay, já entendi. Nosso chefe tá apaixonado. – gargalhou procurando por uma agulha a fim de injetar um pouco de droga.

    - Vai acabar se matando assim, você sabe, não é? – ergueu a sobrancelha enquanto tomava o resto da cerveja na latinha. – Mas faça o que quiser.

    Ignorando o rapaz, seguiu em frente, abrindo as portas que o separava dos demais. Todos pareciam ocupados, mas estranhamente o pátio estava mais vazio do que o normal. Disfarçado, caminhou entre eles. Reparou pela primeira vez como aqueles eram seres desgraçados, mas cada um escolhe ter a vida que leva, pensou bocejando de sono.

    Haviam diversos problemas para serem resolvidos, como a conta da revenda de drogas que não batia, alguns membros da gangue estavam quase se matando, onde um acusava o outro por ter roubado o que faltava. Saguro, não estava em condição de fazer algo decente, por tanto Ulric lá ficou. Saiu sete e meia, se corresse, conseguiria chegar a tempo, mas não conseguiu. O caminho mais rápido seria pegando metro ou quem sabe um ônibus, mas por algum motivo tudo estava parado. Não havia movimento, e portanto ele temeu o pior. Seguiu em frente, correndo. Onde quer que fosse, observava que o caos do novo Ragnarok já ganhara inicio. Prédios desabando, acidentes de carro, construções em chamas e dezenas de pessoas mortas.

    - Maldição. – praguejou correndo o mais rápido que era possível. – Loki imbecil, se ao menos me permitisse usar magia...

    Ao chegar, deparou-se com seu colégio aos pedaços. Pessoas desconhecidas vagavam pelo ambiente, mas Ulric reconheceu a maneira de falar, ou mesmo agir. Eram membros de uma gangue qualquer. Caminhava tentando parecer despercebido, tinha presa, e se fosse visto entraria em uma batalha, cujo não podia perder seu tempo. No meio da confusão, apesar de tudo, avistou alguns membros da Black Rose, e da Chi o Koete. Alguns espancavam garotos, outros violentavam garotas. Mas para seu alivio e temor, Miraini não estava no meio. Continuo seguindo em frente, e após vasculhar o colégio, relaxou. Ela deveria estar segura em sua própria casa, ou mesmo esperando por ele em sua casa com a companhia de Mitsuki Chi e Managarm.

    - Procurando por algo, Loki?

    Era uma voz desconhecida aos ouvidos de Ulric, mas bastante familiar ao próprio deus do fogo. Fúria cresceu no interior do rapaz, e nesse momento Loki quase assumiu o comando do corpo, porém o dono deste relutou. Não permitiu, e ao virar-se avistou um homem forte, barbado e de cara carrancuda. Em seu ombro, jazia uma espada pesada de duas mãos, o cabo parecia ser de ouro, e a lâmina de material resistente. Como todas as armas, e maioria de objetos, aquela havia sido forjada pelos anões, uma verdadeira arma de deuses.

    - Heimdall. – sussurrou Loki aos ouvidos de Ulric.

    - Managarm e aquela raposa tentaram ajudar. – gargalhou o grandalhão. Os olhos azuis se arregalaram, e uma ira tomou conta dele.

    - O que fez a ela? – berrou. Arrependia-se somente de não possuir uma arma para perfurar o estômago do idiota neste momento.

    - Eu? – riu novamente. A voz parecia ser capaz de rachar o pouco de teto e parede que se mantinham de pé. – Ah, rapaz. Eu nada, apenas impedi que seus amigos ajudassem. Agora eles... – A pesada espada apontou para um pequeno grupo de homens a metros de distância, eles pareciam ocupados com algo. Era um local afastado do terreno do colégio, mas era possível avista-los. – Bem, digamos que foi divertido assistir sua garota sendo violentada, asfixiada, e queimada. – sorriu.

    Foi impossível não irritar-se, enquanto tentava investir com um golpe na face do maldito, mas não teve efeito. Um deus contra um humano? Tolice. Heimdall, permitiu que ele atacasse, tentasse desferir diversos golpes, até que um, fez efeito ao atingir a cabeça do grandalhão. Em resposta, Heimdall o segurou pela garganta atirando-o longe. Estava agora mais próximo do local onde o corpo queimado de Miraini estava. Pode distingui-la nua, com o corpo destroçado. Tudo culpa sua. Se tivesse continuado ao lado dela como fizera nos últimos dias, ainda estaria viva.

    - Vejam só o que temos aqui! – Começou um rapaz qualquer que se aproximava.

    - Deve ser um garotinho qualquer dessa escola. Mas vai entender... O mundo tá de pernas pro ar, Himaru. – gargalhou um segundo que estava ao lado do corpo de Miraini.

    Ulric ergue-se, os olhos sentidos fixos no que já havia sido sua amada. O primeiro observou, e riu debochado.

    - Era sua namorada, paspalho? – riu. – Ei, Kairo, não você quem estuprou ela primeiro? – O companheiro riu de volta.

    - Não. - Confessou. – Mas acho que o primeiro foi o Aiko. Ele fez isso tantas vezes com ela, quase sinto pena. - passou as mãos sujas pelos cabelos negros.

    - Onde está o Aiko? – Ulric murmurou, tentando processar tudo o que ocorria.

    - O que é? É idiota, é? – Himaru indagou com a intenção de socar a face do rapaz. Porém, Ulric segurou o pulso, torcendo-o, até quebra-lo. Kairo foi o próximo a atacar, o rapaz bloqueou seu golpe com o cotovelo, e depois um chute no pescoço do depravado.

    - Eu perguntei onde está Aiko?! – vociferou.

    Não muito longe, Inoue assistia alguns companheiros abusando de jovens, algumas inclusive nem estudantes eram, eram mulheres feitas que se envolveram na confusão, ou mesmo homens de bela aparência. Alguns inclusive já se encontravam mortos.

    Sem avisar, Ulric avançou sobre o rapaz, dando-lhe diversos socos no rosto, enquanto praguejava. Um brutamontes veio, e retirou Ulric de cima, dando tempo de Aiko se recompor. Heimdall de longe, tudo assistia. Sabia que Loki não deixaria que aquele corpo fosse seriamente machucado, em breve ele despertaria, e assim ele teria sua vingança.

    Enquanto Aiko levantava-se, Knox deu uma cabeçada no grandalhão, libertando-se para socar a face do desgraçado.

    - Você não a amava, filho da puta?! Não a amava?! – berrava enquanto deformava o rosto do jovem. – Então por que fez aquilo?! Por que?! – As lágrimas já escorriam pelo rosto do jovem. Era um misto de tristeza, raiva, rancor. Estava confuso, magoado e queria vingança, queria Miraini novamente ao seu lado.

    Tentaram para-lo, mas foi inútil. Irritado, o rapaz parecia estar mais forte, e utilizando os punhos, ou objetos encontrados no chão, deu fim à vida de todos que tentaram impedi-lo. Mesmo com Aiko morto, ele continuava a esmurrar o corpo sem vida.

    Por dentro, Loki dava gargalhas.

    - Vocês humanos realmente sabem me divertir!

    Ulric viu-se então em sua mente. Lá estava, no centro de outro caos, que parecia ter piorado recentemente. Um rio de lava agora vagava abaixado, derretendo inclusive a única torre de pé, o local onde Loki permanecia.

    - Está vendo o por quê não me preocupo com vocês? São criaturas que destroem a si mesmas, não pensam em seus iguais. – sorriu.

    - Como se você fosse diferente. – resmungo de cabeça baixa. A imagem do cadáver da amada não lhe saia à mente.

    - Como será que ela morreu, hein? Bem que poderíamos ter assistido. – gargalhou novamente. A mão elevada ao topo da testa.

    A raiva foi tomando conta de Ulric novamente, os punhos se fecharam, e avançou sobre o deus que ria as suas custas.

    - Não ouse prosseguir, verme. – O rosto endureceu, as palavras saiam como ferroadas, e quando o golpe se aproximou. Loki levantou-se mais rápido do Ulric conseguia ver, e quando deu por si, seu pescoço era esmagado por uma das mãos do ser. – Poderia te matar agora, inseto. – um sorriso surgiu enquanto assistia Knox debater-se. – Mas não irei fazer. – admitiu desmanchando a larga curva de alegria em sua face. Soltou-o e virou as costas.

    Humilhado, Ulric ergueu-se com dificuldade e seguiu em frente, não podia desistir. Mas este foi seu erro. Loki, lançou-o contra uma parede invisível através de uma forte corrente de ar. O mar de fogo abaixo deles pareceu se agitar, e o rapaz sentia que algo tentava esmaga-lo enquanto era pressionado.

    - Pirralho. Estou farto de você. A vontade que tenho é de atira-lo de volta para Hel, mas... – Houve uma pausa. A voz antes recheada de veneno tranquilizou-se com um sorriso cruel que a serpente em forma humana mostrava. – Por que não tenta conversar com minha filha? Ela costuma ser bondosa em alguns casos. A alma de Miraini está lá, Ulric. E enquanto você se ocupa com isto, irei me encarregar de assumir meu trono.

    Fim Aposta VI


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