Era uma vez um dia que começou de maneira perfeita.
Era uma vez uma princesa que estava apaixonada por um príncipe e o príncipe por ela.
Mal sabiam o que iria acontecer.
Victorique encarava o jovem príncipe a sua frente. O cabelo escuro e revolto caía sobre sua testa; ele tinha um sorriso um tanto quanto idiota nos lábios, mas em seus olhos dourados havia o olhar de um predador que brinca com a sua presa. Velkhan vestia uma calça preta, uma camisa branca por baixo do colete e do casaco. Botas altas e escuras iam até os joelhos. Ele a agarrava pela cintura, enquanto ela ria.
Victorique parecia tão mais bonita quando sorria. Velkhan acabou sorrindo também, e ele tinha certeza de que parecia um completo idiota, encarando a garota em seus braços. A pele dela era clara, como se fosse uma boneca, contrastando com a sua, mais bronzeada; os cabelos eram castanho-escuros, quase pretos, e seus olhos verdes mostravam divertimento.
? Certo, Velkhan, me solte. ? ela pediu.
? Mas qual é a minha recompensa? Eu ganhei o jogo, você sabe. ? ele perguntou, sua expressão parecia um tanto desapontada. Então ele sorriu ? Me dê um beijo.
Victorique considerou. Ela ficou na ponta dos pés e deu um beijo na testa dele.
? Satisfeito? Agora me solte, você está amassando o meu vestido ? ela disse, tirando a mão dele de suas costas. O vestido de Victorique era branco, o decote era quadrado e a saia se estendia até pouco acima dos joelhos, de onde, então, começava a cair em cauda. Calçava uma espécie de sapatilha, com meias que iam até seus joelhos.
Velkhan soltou-a, mas ainda parecia um pouco triste.
? Certo, então ? Victorique suspirou. Ela levantou a mão e retirou um anel do dedo indicador. Ela abriu a mão de Velkhan e deu-lhe o anel. Velkhan encarou o aro fino e dourado, adornado com uma safira.
? Mas... Esse é o seu anel favorito. Eu nunca o vi sem ele. ? Ele sentou-se aos pés da grande árvore atrás da qual Victorique havia se escondido na sua brincadeira de ?esconde-esconde? nos jardins de seu castelo ? Victorique, eu não posso aceitar isso. ? Ele ergueu o olhar para encarar a jovem princesa.
? Sim, isso mesmo. Esse anel é meu. E eu quero que você o guarde; digamos que ele vai ser um lembrete. Para que você nunca se esqueça de mim! ? ela sorriu.
? Eu nunca esqueceria. ? Velkhan olhou melancólico para o anel. ? Por que você acha que eu esqueceria a única garota que eu realmente amei?
O sorriso de Victorique despareceu e ela se ajoelhou na frente de Velkhan. Ela o abraçou e encostou a cabeça em seu peito.
? Nem sempre podemos fazer o que queremos... Talvez você acabe tendo que se casar com outra princesa, tudo em nome do seu reino. ? Ela desviou o olhar.
Velkhan riu.
? Mas eu nunca te trocaria.
Victorique ia responder quando foi interrompida pelo som de sinos. Pouco depois um servo do castelo chegou.
? Princesa Victorique! Princesa!
Velkhan se levantou e ajudou a princesa a fazer o mesmo. Victorique ficou de pé e virou-se para o servo.
? O que foi Amadeus?
? Princesa, o seu pai.
? Papai? É a doença dele?
? Que doença? ? Velkhan interrompeu. Ele não sabia nada sobre a saúde do rei Florent estar frágil; ele sempre parecera tão saudável sempre que Velkhan o via: em caçadas com seu pai, em festas de gala, mesmo quando o via quando visitava Victorique.
-Papai tem tido uma tosse forte e nenhum dos médicos conseguiu achar uma cura ainda. ?ela se virou para Amadeus ? Um de nossos médicos achou a cura e por isso os sinos foram soados? Comemoração? ?ela perguntou-lhe com animação na voz.
O servo balançou a cabeça.
-Temo que não. A situação do rei está cada vez pior. Ele pediu que a senhorita comparecesse nos aposentos dele.
Victorique pareceu perdida. Ela virou-se para Velkhan, em seguida para o servo e depois para Velkhan novamente. Ela se apoiou no peito dele, que a segurou e a ergueu, pronto para leva-la onde fosse preciso.
-Eu... Velkhan, eu acho que você vai ter de ir - ela disse para ele. Virou-se para o servo - Amadeus prepare o que for preciso para a partida de Velkhan e sua escolta.
-Victorique... ?Velkhan puxou a mão dela. Ele parecia desolado, os olhos demostravam a preocupação e a tristeza.
-Sinto muito, mas não acho bom que você fique aqui- ela disse. Velkhan a puxou para um abraço. Ele a libertou e deixou-a correr para dentro do castelo.
-Venha, príncipe Velkhan. Farei como a princesa disse. Reunirei sua escolta e os mandarei de volta ao seu reino.
-Mas eu acabei de chegar.
-Sinto muito, majestade. É o pedido da futura rainha. Para mim, é uma ordem.
?????
Victorique correu. Correu mais do que jamais havia corrido. Passou por servos, cavaleiros e nobres, sem entender porque todos a olhavam com um olhar de pena.
?Ora, ele piorou.? Victorique pensou. ?Isso não significa que está morto, não é? Não é??.
Ela abriu a porta dos aposentos de seus pais com mais força do que era necessário. O rei Florent estava deitado sozinho na cama gigantesca.
O rei olhou para a filha, e então sorriu. Ele olhou para o lugar vazio ao seu lado na cama. Sua esposa, a mãe de Victorique, morrera alguns anos atrás. Ele indicou o espaço para que sua filha se sentasse. Ela caminhou e deitou-se ao lado do pai.
Florent tinha os cabelos escuros, jogados para a direita, como sempre. Os olhos verdes que a filha herdara e a barba que parecia ter sido desenhada, de tão perfeita que ficava em seu rosto. O rei mantinha a aparência jovial; tinha apenas 41 anos, mas parecia muito abatido.
Sob os olhos, olheiras escuras; seu cabelo parecia muito bagunçado e sua pele de aparência saudável estava pálida, mas, mesmo assim sorriu ao ver a filha.
-O que aconteceu, papai? ?ela perguntou.
-Minha filha, eu sinto ter de interromper a sua diversão. ?ele disse ? mas isso é importante. Eu não queria ter de lhe deixar sozinha, depois de você ter perdido sua mãe... Pouco tempo depois perder o pai. Isso não parece nada bom. ?Ele suspirou, mas o esforço fez com que tossisse.
-Papai, não se esforce.
-Ah, filha. Tanto faz ou não o meu esforço; eu vou morrer de qualquer jeito, então...
-Não diga isso! ?Victorique interrompeu. Florent olhou para ela e notou que ela ia chorar. Ele passou a mão no contorno do rosto da filha, enxugando uma lágrima com o polegar.
-Victorique, essa é a verdade. Não há nada que eu possa fazer para mudá-la. Sinto muito por ter de deixa-la tão abruptamente. Eu sei que você sabe o que vai acontecer, mas não quer aceitar.
Ela olhou para ele e o abraçou.
-Filha... Eu não queria ter de lhe pedir isso agora, mas creio que não terei outra oportunidade... ?Victorique pressentiu que era o pedido que ela mais temia ? Por favor, entenda. Pelo bem do reino, como futura rainha... Para nos fortalecermos... Por favor, case-se com o príncipe Maxmillian III. Ele é o príncipe do reino vizinho... Eu... Não podia deixar que você acabasse se envolvendo em uma guerra... É mais pressão do que uma jovem rainha precisa.
Victorique entendeu. Ela abraçou o pai, com lágrimas nos olhos.
-Sim, pai. Como futura rainha no reino, eu aceito o seu pedido.
Florent sorriu.
-Eu sabia que você aceitaria com o uma rainha; sempre em busca do melhor para o seu povo. Obrigado minha filha...
Então ele parou. Ela soube o que havia acontecido. Por estar com a cabeça no peito do pai, ela notou que o peito não mais subia e descia: movimento característico da respiração; ela nem ouvia mais os batimentos do coração.
Era o fim do reinado de Florent Méline Saint Croix.
Era o início do reinado de Victorique Loconte Saint Croix.