? Shion-kun, não vai levar seu bento* hoje? Fiz um especial com ovos.
? Vou sim mãe, eu só vou terminar de me arrumar e já pego. ? Shion lembrou-se da ?briga? sem nexo que teve com Hinata por causa de um bento. Quis voltar no tempo e não ter dado comida para o senpai, mas era tarde de mais.
Depois de chegar à escola, Shion viu Hinata conversando com uma menina muito bonita, de cabelos roxos e olhos azuis. Pelo que Shion sabia, seu nome era Yamano Fuyumi do segundo ano. Ele esperou para ver se Hinata o veria e viu, mas nem sequer acenou, disse algo para a menina que sorriu e ficou vermelha.
Mais tarde na aula de matemática, Shion sentiu-se a pessoa mais solitária do mundo. Sem Hinata nada tinha graça, sem ter aquele menino para encher o saco dele com bilhetinhos nas aulas e zombar dos professores não tinha nada de empolgante.
Depois da escola, Shion saiu mais cedo do que Hinata. Ele havia decidido que iria falar com ele, mas tinha que ser longe de todas as pessoas. Shion sentia que havia um muro entre os dois, só não sabia como derrubá-lo, mas faria de tudo para destruir o muro que criava essa discordância e mantinha esse clima ruim entre eles.
Meia hora depois, Hinata saiu da escola acompanhado por Fuyumi aos risos. Chegando ao portão, Fuyumi e Hinata pararam, Hinata encarou Shion que permaneceu em silêncio.
? Fuyumi-chin, parece que hoje não poderemos fazer aquilo. Sinto muito, mas acho que o Shion tem algo para tratar comigo.
? Hinata-kun, faz tanto tempo que quero fazer isso com você...
? Eu sei, eu sei, mas prometo que faremos isso semana que vem. Eu prometo. ? Shion corou, ele não sabia do que se tratava, mas parecia algo pervertido da parte dos dois.
? Eu não quero atrapalhar vocês dois...
? Já atrapalhou né?! ? disse a menina em tom seco. Shion não soube o que falar.
? Não seja rude pequena. Vá para casa, amanhã nos falamos. ? a menina beijou a face de Hinata e virou para ir embora.
? Até mais Hinata-kun. ? disse ela acenando de costas para Hinata que sorria. Ao olhar para Shion o sorriso desapareceu por completo. Shion pensou se era tão repugnante ao ponto de deixar Hinata enjoado apenas de olhá-lo.
? Vai me acompanhar até em casa?
? Até a sua casa?
? Como sempre lerdo. Sim, até a minha casa, vamos. ? os dois começaram a andar Hinata na frente e Shion logo atrás, Hinata tinha de parar constantemente para esperar o outro menino. Shion estava totalmente encabulado, não conseguia parar de pensar no que Hinata e Fuyumi iriam fazer. Sentiu raiva de Fuyumi por ser tão atirada. Quatro quadras em silencio, sem nenhuma palavra. Enfim, chegaram à casa de Hinata. ? Você vai entrar?
? Eu não sei.
? Venha logo, ? disse Hinata abrindo o pequeno portão de metal e entrando. Ao chegar à porta, tirou a chave e abriu-a. ? não repare a bagunça, minha mãe e meu pai estão chegando só as dez. Fique a vontade. ? Os dois entraram e tiraram os sapatos. ? Estou em casa! ? Disse Hinata desaparecendo em uma porta. Shion ficou parado no mesmo lugar, olhou para o corredor a frente e viu porta-retratos pendurados na parede. Fotos de quando Hinata era criança com seus pais. Supostamente na Califórnia. Hinata reapareceu, percebendo Shion fitando os porta-retratos. Chamou-o com um aceno de mão. ? Pode entrar sabia? Venha cá. ? Shion foi até Hinata, ele apontava para um quadro. Hinata e duas menininhas estavam comendo sorvete na casquinha em frente a uma grande torre.
? Isso é a Califórnia? ? perguntou Shion.
? Não seu bobo, isso é Paris. França. Essas duas são minhas primas emprestadas. Eu as conheci no fundamental, no quarto ano eu acho. Essa foi uma viagem que fizemos com minha mãe.
? Ah! É mesmo, a torre Eiffel. ? disse Shion parecendo surpreso. ? Nunca saí do Japão. Meus pais não têm dinheiro para me pagar uma viagem, ainda mais que estão em... Desculpe-me estou falando de mais. Eu queria falar com você Hinata-san.
? Eu sei por isso te trouxe até aqui. Não quero que ninguém nos atrapalhe.
? Sim. Eu quero perguntar o que você aquis dizer com ?eu não agüentaria ver você apaixonado por outra pessoa.? Isso está me remoendo, eu não consigo parar de pensar no sentido dessa frase. Há tantos.
? Sabe Shion-kun, as coisas às vezes não são o que parecem, mas às vezes são.
? E o que isso parece?
? Isso? Isso quer dizer isso. ? Hinata empurrou Shion contra a parede de madeira, os pés dos meninos se entrelaçaram fazendo com que eles perdessem o equilíbrio, mas ao bater com as costas na parede, Shion sentiu o corpo de Hinata colar no seu. O menino, três cm mais alto que Shion, entrelaçou seus dedos nos de Shion enquanto se curvada para alcançar os lábios do menino. Ao sentir o toque dos lábios de Hinata, Shion enrubesceu na hora, manteve os lábios rígidos, nunca esperava aquilo. Pensou que Hinata estivesse zoando ele, pensou que ele devia saber de tudo e estava tentando dar o troco e fazer Shion se iludir com falsas possibilidades. Hinata afastou-se um pouco. ? Está começando a entender agora? ? Shion apenas olhou para Hinata, segurando as lágrimas.
? Por que você está fazendo isso comigo? Não quero me machucar mais ainda. Por favor, Hinata-san, não brinque com os meus sentimentos. ? Hinata pareceu não ouvir, sorriu e avançou para beijar Shion novamente que não conseguia se controlar. Aquele sentimento dentro dele parecia que explodiria. Ele não conseguia empurrar Hinata e dizer firmemente para ele parar com aquilo, por que não era isso o que Shion queria. Shion queria beijá-lo, queria aproveitar e deixar os sentimentos saírem, nem que fosse apenas por alguns momentos. Hinata intensificou o beijo tocando o rosto de Shion com as pontas dos dedos. O toque foi tão carinhoso que Shion sorriu ao senti-lo. A língua de Hinata parecia explorar a boca de Shion e aquilo parecia de verdade. Shion sentia que era de verdade, que os dois tinham sentimentos, mas ao mesmo tempo desconfiava de tudo.
Hinata desceu as mãos para os botões da camisa de Shion, abrindo os dois primeiros, alisou o peito nu do garoto com os dedos. Shion arrepiou-se. Hinata o deixava excitado e o fazia pensar em coisas pervertidas.
? Hinata-san...
? Shhhhhh ? Hinata cobriu os lábios de Shion com o indicador, partindo para outro beijo. A mão esquerda de Hinata deslizou para dentro da calça de Shion que se encolheu ao sentir a mão quente do garoto alisar seu membro por cima da cueca. ?Estamos indo longe de mais?. Pensou Shion. Deveria estar mais vermelho do que um pimentão. Com o membro enrijecido por baixo da cueca, Shion fechou os olhos. Nunca ninguém tinha o tocado daquele jeito e era tão bom...
? Não! ? gritou Shion fazendo Hinata recuar.
? O que foi Shion-kun? Pensei que estivesse gostando.
? E eu estou, mas você é um imbecil.
? O que?! ? Hinata estava confuso. Não entendia o que o menino queria dizer com aquilo.
? Sim. Você está brincando comigo, me fazendo ter sentimentos por você e depois vai rir de mim. Não vou deixar você me usar assim Hinata-san, você só quer... ? Hinata fechou a mão e acertou um soco na bochecha direita de Shion que cambaleou para o lado. Levando a mão até a bochecha, viu Hinata com os olhos cheios de lágrimas. Sua visão embaçou com lágrimas e ele viu, naquele momento, que todas as indiretas eram para ele. O que ele quis dizer com ?eu não agüentaria ver você apaixonado por outra pessoa.? Ele não agüentaria, por que estava apaixonado por Shion. Até que ponto ele podia ser tão idiota?
? Saia daqui agora Shion! ? Hinata correu e desapareceu da vista de Shion.
Desnorteado, Shion dirigiu-se até a saída e pegou a pasta. Calçando os sapatos, olhou novamente para o corredor. Pensou em Hinata com os olhos cheios de lágrimas, pensou que nunca se perdoaria por aquilo. Então saiu porta a fora e não olhou mais para trás.