A noite saia e dava lugar à madrugada de domingo, a luz havia acabado. Agora chovia desesperadamente. Relâmpagos iluminavam o ambiente. A sala da casa mostrava-se assustadora, cada objeto parecia ter vida própria. O coração do homem deitado no sofá batia, miseravelmente. Os trovões se tornavam mais ensurdecedores. O medo agora circulava por cada veia, cada artéria... Estava sozinho?Não, estava acompanhado. A mulher sentada na cadeira ao lado do sofá estava calma, chuvas não a assustavam.Só homens saindo de casulos poderiam começar a intimidá-la.
Ela se aproximou do homem, que febril estava de olhos abertos olhando para a escuridão que não reinava completamente por causa da pequena lanterna que iluminava o ambiente e pelos relâmpagos que chicoteavam o céu. O que pensava o homem?Talvez de como houvesse chegado ali? Não, ele já se lembrava como. O que pensava a mulher? Talvez de como o homem no sofá pudesse ter surgido de uma enorme crisálida? Não, isso ela já havia esquecido. A mulher tocou-lhe a face, o homem se sentiu incomodado no modo como ela o tocava. Era intimo demais. Mas era um gesto natural. Ela se afastou.
A chuva não parava de cair, a luz não retornava. O homem sentou-se no Sofá. A mulher aproximou-se passou as mãos em sua testa suada mais uma vez. Ele olhou para ela apesar da penumbra. Percebeu que estava fraco. Despido de roupas, palavras, sentimentos... E o que viu foi mais forte do que qualquer coisa que tinha acontecido com ele naqueles dias de desde que ele se lembre que nasceu até ali naquele momento antes de se sentar. Foi mais alem da sensação de morte, abandono, dor e desespero, raiva e ódio e vingança.
O que ele viu? Era assustador não pela forma, mas pela simbologia que representava. Mais também era reconfortante pelo modo como se aproximou e pelo modo como o tocava. Ele se sentia seguro. Vivo. Então ele se deitou fechou os olhos e se permitiu dormir, tranquilamente por que sabia que naquele momento estaria salvo.
A mulher o cobriu, levantou-se e foi até a janela espiar as gotas de chuva que caiam e os relâmpagos que iluminavam o céu, de forma sinistra revelando em cada esquina semblantes maliciosos que esperavam o momento certo para agir.