A tribute to Nana

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    Capítulo 2

    Doce, doce Nanami.

    Segunda, 20 de agosto. 7:49 da manhã.

    Acordei normalmente. Não consegui dormir direito à noite então acho que não teve jeito. Enquanto eu pegava uma troca de roupa e minha escova de dentes, sem querer acabei acordando a Eri. Ela já tem 14 anos e estava bem preocupada com meus pais, mas por eu ser a mais velha, tentei não deixar que acordasse, afinal, os sonhos são o nosso único refúgio, e o sono nos permite esquecer tudo. Ao sairmos do quarto, minha prima do meio já tinha ido trabalhar, meu primo estava arrumando a gravata pra ir trabalhar e a minha prima mais velha ainda estava acordando.

    -Arisa-chin, que faz acordada a essa hora? Vai dormir, ta frio, aproveita que ta de férias. - disse com a voz calma e meio surpresa de nos ver acordadas.

    -Ahh, mas eu não consigo mais dormir, olha o dia lindo que está lá fora! - disse sorrindo, enquanto olhava pra janela do banheiro.

    -Eu hein, se eu fosse você voltava correndo pra cama. - disse rindo.

    Ao descer minha tia estava colocando as coisas na mesa.

    -Nossa, acordadas a essa hora? - disse espantada.

    -Haha, sim! Sabe como é, ainda estou acostumada a acordar cedo por causa da escola. - disse enquanto sentava-me à mesa.

    Depois do café-da-manhã, perguntei se tinha algo em que pudesse ajudar, já que eu não conseguia ficar parada, mas como eu suspeitava, "não tinha". Sendo assim, eu e Eri fomos pra entrada da sala, onde tinha um banco. Apesar de estar frio, o Sol estava batendo um pouco acima do banquinho, e logo atingiria o chão. Enquanto nós estávamos sentadas, eu olhando pro nada e Eri mexendo no celular, senti alguma coisa me lambendo.

    -Ah, é você Nana. - disse fazendo um carinho em sua cabeça. Nanami é uma labradora de 5 anos, ela é grande e tem uma pelagem clara, quase cor de creme.

    Não dei muita atenção à ela, tinha coisas mais a me preocupar. Otou-san poderia não sair do hospital tão cedo, dependendo da reavaliação do médico, e assim teríamos que ficar por lá mais um pouco. Eu não me importaria, sinceramente, mas não sob aquelas circunstâncias, como eu disse antes. E perdida assim em meus pensamentos e preocupações, Nana começou a ficar inquieta, implorando por atenção.

    -Nana, para. - ela estava empurrando as minhas pernas. Ignorando-a, voltei a pensar.

    -Nana, chega. - ela estava colocando minha mão em sua cabeça. Ignorando-a novamente e voltando aos meus pensamentos.

    -Nana, para! - ela já estava até lambendo a minha mão! Cortando a ligação entre eu e meu mundinho preocupado, percebi que os raios do Sol já estavam no chão e que havia uma rede lá.

    Sentada no chão, comecei a brincar com a cachorra, pra ver se ela parava de pedir tanta atenção.

    -Solta Nana! - disse tentando puxar o brinquedo dela. Incrível como ela tinha força!

    E com um olhar desafiador, ela fingiu que soltou, mas depois mordeu o brinquedo de novo. Nisso, ela começou a sacudir tão forte, que acabei perdendo o equilíbrio. A "vencedora" começou a comemorar, como que fazendo pirraça pra me provocar.

    -Aah é?! Então vamos lá, é melhor colocar suas patas pra se movimentarem hein! - e sim, deu certo a provocação.

    A folia era tão grande e animada, que até a Eri começou a brincar com ela também, e de vez em quando, a madrinha vinha pra entrar na folia também. Corríamos pra lá e pra cá com a Nana: ora correndo atrás dela, ora fugindo dela. Ela começou a brincar com a minha irmã mais do que comigo, e ela parecia estar começando a se soltar. Sem hesitar, sentei na sombra, afinal, já estava sentindo calor. Mas nisso, comecei a voltar a me preocupar novamente, como se fosse automático. O sorriso que estava no meu rosto começou a desaparecer e meu rosto sério tornou a surgir.

    -Eeeeeeeeeeeeeeeeeeeeca! - sem perceber, nana lambeu meu nariz.

    Quando eu estava abrindo a boca para reclamar, percebi que ela estava olhando nos meus olhos. Eu conseguia entender muito bem o que aqueles olhos castanhos e profundos queriam me dizer. Não era algo como "brinque comigo!" ou "o que faz ai parada?", e sim, "anime-se!", como se seu olhar estivesse me acariciando ao invés de ser o contrário. Eu tenho certeza que ela não sabia de nada que estava acontecendo, mas ela sabia também que algo estava errado, não só comigo, mas com nós duas. Ao lembrar da minha irmã, me virei para procurá-la, e a vi deitada na rede dormindo, com o braço esticado pra baixo como se estivesse fazendo carinho em Nana.

    -Estou imaginando coisas? - e sendo eu a ignorada desta vez, Nana voltou, pegou seu brinquedo e ofereceu a mim.

    Aceitando o pequeno "presente", ela apoiou a pata e deitou a cabeça em minha perna direita, enquanto deitava o resto do corpo. Ela sempre fez isso, mas antes, pelo menos pra mim, era claro que ela só queria carinho. Mas dessa vez as intenções eram diferentes. Ela estava do meu lado, sem pedir que eu a acaricie ou que jogasse o brinquedo para que pegasse, dizendo "estou aqui, não precisa se preocupar com nada". O peso que estava em meu coração começou a ficar cada vez mais leve, e só então percebi que Nana estava tentando nos acalmar desde o início: ora indo brincar com a Eri, ora vindo brincar comigo, sempre juntando as duas e nos tranqüilizando. Conforme as horas iam passando, oka-san já tinha ligado, dizendo que estava tudo bem, que o otou-san já podia ir pra casa e que passariam lá para nos buscar, mas eu meio que não queria ir. Queria ficar lá mais um pouco, fazendo carinho na barriga de Nana. Eu queria agradecê-la pelo pouco de paz que ela nos trouxe. Mas entendi que tudo que eu precisava fazer, era fornecer a minha perna inteira - que já estava formigando, mas isso não vem ao caso - para que servisse de seu travesseiro. E assim ficamos, Nana ao meu lado e eu fazendo carinho nela, até a hora de irmos embora.

    -Arigatou, Nana. - disse sorrindo e recebendo em troca, aquele olhar gentil que eu tinha certeza que dizia "não disse?".


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