In The End, Everything Worked Out

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    Capítulos:

    Capítulo 1

    Oneshot

    Heterossexualidade

    A garota caminhava lentamente pelos longos corredores escuros da mansão Kido. Seus cabelos negros esvoaçavam-se junto ao vento frio da noite que entrava tímido, pelas imensas janelas abertas. Sua face alva permanecia coberta pelas lágrimas doloridas... Lágrimas estas, que realçavam o brilho ferido de seus olhos.

    Havia perdido o sono, a tristeza e a desesperança dominavam o jovem coração... Já não conseguia respirar o ar pesado instalado em seu quarto.

    Querendo distrair-se, ela desce as escadas de degraus encobertos pelo fino e nobre tapete vermelho inglês, abre as imponentes portas principais e dirige-se ao jardim.

    _Por quê? Por que sou tão fraca?

    Perguntava-se impotente. Havia se apaixonado por seu melhor amigo, seu irmão de consideração, não pode evitar... E, para alguém como ela, isto era ser fraca, isto era não conseguir controlar seus sentimentos e emoções.

    Observava a lua em meio às lágrimas, admirando-a, imaginando como seria iluminar a mais profunda escuridão da noite... Em seu semblante triste, os lábios finos curvam-se em um pequeno sorriso; enquanto sentia a leve brisa do jardim florido de grama verde viva vir de encontro a sua pele. Olhando ao seu redor, busca pela velha árvore que lhe fazia companhia nos dias de solidão, caminhando em sua direção e sentando-se em sua base. Cobrindo as íris azuis celeste com as pálpebras. Definitivamente: Amava aquilo... De poder perder-se em seus devaneios, de poder pensar e repensar suas atitudes e feitos. Era magnífico. Era... Reconfortante.

    _Ruby. O que faz aqui neste frio?

    O sorriso de outrora desapareceu ao ouvir tal voz... Era ele, o dono de seus pensamentos... O dono de seu coração.

    ?Ruby?... Gostava de ouvir seu nome sair por entre os lábios dele. Agradava-lhe ouvir o som e o tom rouco de sua voz quando pronunciava o nome estrangeiro. Ria-se ao ouvir as tentativas da pronúncia certa... Era, vejamos... Encantador.

    Mas, agora, doía. Machucava. Magoava. Entristecia! E Ruby insultava-se mentalmente por tal: ?Pare com isso! Parece uma adolescente perdida em seu primeiro amor! Já é uma adulta, então, porte-se como uma! É tão difícil??.

    Era difícil, era muito complexo. Amor deveria ser um sentimento descartável, ela deveria desprezá-lo! Era apenas uma guardiã! Esse era seu trabalho: Guardiã do Templo de Athena. Aphrodite jamais deveria ter se metido em sua vida. Ruby deveria enxergar apenas uma coisa: A inteligência, seu intelecto. Nada mais.

    Despertando para a realidade, a garota boceja e vira seu rosto para o rapaz ao seu lado, mirando os orbes esmeralda.

    _Mu... Por que me segues? ? Questiona, simplesmente. Sequer exigiria ou esperava uma resposta de outrem. O ariano era assim: Preocupado demais. Preocupado com qualquer pessoa que considerasse importante para ele. E ela era importante... Ela era sua ?irmãzinha?, não era? Se pegasse uma gripe, ele era capaz de hospedar-se na mansão da vac... Quer dizer, da Senhorita Kido apenas para poder ficar de olho na guardiã.

    _Queria saber onde você encontrava-se, te procurei pela propriedade inteira e não a achei. - Respondeu ele num sussurro, aproximando-se a passos lentos.

    _Ah, claro... Entendo... Eu acho... ? Responde calmamente, sem demonstrar qualquer sentimento, assim como lhe foi ensinado durante esses dezoito anos: Sem sentimentos, sem problemas maiores.

    O belo rapaz de cabelos exóticos e face serena passa a observar o rosto inexpressivo da mulher a sua frente. Havia algo errado. Ela sempre fora mais animada e comunicativa com si. O que havia acontecido?

    _Estava chorando. ? Não era uma pergunta. Ele sabia como as coisas funcionavam... Acreditava conhecê-la bem o bastante para poder realizar tal afirmação.

    Em resposta, Ruby desvia seu olhar para Mu, seus olhos azuis profundos e frios invadem os dele. Não precisava proferir palavras, sabia disso. Sem mais explicações, volta a contemplar o brilho branco resplandecente do Satélite Natural da Terra Mãe.

    Acompanhando os orbes da virginiana, mira a Lua. Elas eram muito parecidas. A Lua e Ruby. O lugar da garota não era junto a Athena, isso era simples de perceber. Seu lugar era ao lado de Ártemis.

    Mas o destino é duro com os pobres seres humanos.

    _Quem é ele? ? Questiona. Tinha medo da resposta. Sentia o quanto isso mexia consigo... O quanto o incomodava. Ele ignorava a resposta óbvia, ele ignorava o que já sabia.

    É, por essa, Ruby não esperava! Será que estava tão na cara? ? Ele quem? ? Indaga de volta, indiferente. Estava começando a imaginar onde isso iria parar...

    _O homem que te faz sofrer. ? Responde, simplesmente.

    _Sinto dizer, mas não entendi exatamente aonde você quer chegar, Mu.

    _Entendeu. Eu sei. Conheço-te bem o bastante para saber que você não é o tipo de pessoa que chora por nada. Só algo muito sério é capaz de lhe fazer derramar lágrimas. ? Rebateu o ariano.

    _Ninguém... ? Diz com frieza e distanciamento. Não se sentia pronta para declarar-se. Para ser sincera consigo mesma, seu objetivo era enterrar esse sentimento. Mas não... O universo conspirava contra suas vontades. Sempre foi assim, por que iria mudar agora?

    _Se é ninguém... Como pode ligar tanto para essa pessoa? Como pode chorar por ela se é ninguém? ? Questiona, novamente, virando-se para encará-la. ? Vai mesmo mentir para mim, Ruby? Sabe que pode confiar em mim, para qualquer coisa.

    Sem ver mais saídas, saídas essas que a virginiana orava para ter, a guardiã responde hesitante: - Eu realmente sei em quem eu posso confiar, Mu. E a última coisa que desejo fazer é mentir para um amigo como você, mas... É mais complexo do que aparenta ser. Você sabe como sentimentos são complicados para mim. ? Sentia-se desconfortável revelando tantas coisas com palavras, nunca precisou usar palavras para tal. ? Mas como insiste... Acho que posso dizer que é apenas uma pessoa especial para mim, sabe? Mas, infelizmente, foi a única pessoa incapaz de sequer suspeitar dos meus sentimentos por ele.

    Mu sente seu estômago se remexer. Tinha medo de saber, mas sua curiosidade aumentava cada vez mais. ? Qual seu nome?

    Ela sabia: Já estava na hora! Quanto mais antes viesse a rejeição, mais rapidamente poderia cumprir seu trabalho e missão. Mas, mesmo não querendo, se contradizia. Ela queria ver-se livre daquele sentimento, mas não queria estar longe de Mu, não queria ouvir uma rejeição saindo de sua boca. ?Tem um modo de fazer isso sem ser direta demais... Mas é tão...? ? Reflete. ? Escute bem, pois só direi uma vez. Não irei dizer-lhe o nome, darei uma dica, já que insiste. ? Suspira, teria mesmo de fazê-lo. ? O nome em português¹ do primeiro número natural com valor escrito de trás para frente. Em português. Com valor. De trás para frente. ? Frisa.

    Não queria continuar ali para ver a reação dele. Estava sendo uma covarde, fugindo dos próprios sentimentos esse tempo todo e fugindo dele agora. A moça levanta-se de onde estava e usa sua tele cinese para poder sair daquele local o mais rápido possível, sua saúde poderia até estar debilitada, mas usar os poderes psicológicos adquiridos com seu árduo treinamento não era problema nenhum para a virginiana.

    Enquanto observava-a desaparecer em sua frente, divagava. ?Certo, eu entendo... Talvez seja alguém que eu conheça, por isso não quis ser direta.?, concluí, ?Na língua portuguesa... Lembro-me de ter aprendido o básico com Aldebaran...?, raciocina, lembrando-se dos breves ?ensinamentos? do amigo brasileiro. ?O primeiro número natural com valor... O zero não pode ser, é um número, praticamente, nulo... Então seria o n° um... Mas um na escrita portuguesa... Ao contrário...? ? Dessa vez, o pobre Cavaleiro de Áries foi pego de surpresa. Não esperava por aquilo. Realmente, não esperava.

    A brisa local remexia as mechas de cabelo lilases que caiam soltas pela face espantada. Sentia seu coração bater forte contra o peito. Tudo que ele havia negado para si mesmo nesses últimos anos voltavam à tona. Aquele sentimento agridoce. Aquela sensação esquisita que fazia parecer haver borboletas aprontando em seu estômago. Não precisava mais negar a verdade... Não precisava mais negar o óbvio.

    Isso era bom, muito bom.

    _Eu preciso falar com ela! Eu não devia ter negado isso para mim mesmo por tanto tempo... Não preciso mais sentir medo... Mas, provavelmente, o mesmo medo que eu sentia, ela sente. Não posso deixa-la sentindo algo tão desconfortável! ? Diz para si mesmo. ? Onde ela teria ido?... Será que... Mas é claro! A floresta!

    M&R

    Na floresta...

    Ruby se encontrava num beco, aquele era o local preferido da jovem, costumava brincar ali quando pequena, nas raras vezes em que podia sair do treinamento. Sempre amou aquele lugar... Árvores grandes, belas e frondosas. Flores que possuíam cores vivas e diversificadas enfeitavam o tapete natural e, à noite, o local ganhava um brilho especial, como se fragmentos de estrelas abençoassem a floresta enquanto flutuavam em meio às árvores.

    Com os olhos cerrados, era capaz de sentir o ar naturalmente frio noturno lhe acariciar a pele. Estar ali era uma das poucas coisas que poderiam fazê-la sorrir.

    Mas, enquanto permanecia distraída, ruídos incômodos começaram a ser reproduzidos em um local não muito distante de onde a própria encontrava-se.

    _Quem está ai? - Ruby interroga, abrindo os olhos e dirigindo seu olhar a uma moita. Da pequena árvore rasteira sai apenas uma pequena lebre. ? Ah! ? Se direcionou até o pequeno roedor e começou a acariciar seu macio pelo branco. ? Olhe só para mim, quase ataco uma lebre... Se minha mestra estivesse aqui agora, levaria um sermão, com certeza. ? Riu-se, afinal, aquilo era um fato.

    Mas a calmaria não dura por muito tempo, mais algo surpreende a garota. Ouve-se um estalo ecoar, provavelmente era um galho sendo partido ao meio. Uma pequena e leve lebre não seria capaz disso.

    Virando-se rápido para a direção de onde veio o som, Ruby coloca-se em posição de ataque. Mas antes de qualquer movimento, uma cosmo energia conhecida pôde ser sentida.

    _Mu! ? Exclama a jovem.

    À sua frente, entre os vários galhos d?árvores surge um vulto negro que, à medida que se aproximava da garota, as curvas do corpo e as cores iam-se se tornando mais nítidas para os olhos da virginiana.

    Ao ficar de frente-a-frente com o garoto, Ruby desfaz sua posição de ataque, colocando os braços ao lado do corpo e desviado os orbes para o gramado que, nesse momento, parecia muito mais atrativo que qualquer outra coisa para a garota.

    Um tanto quanto sem jeito, Um sente que deveria começar o diálogo. Com certeza, a guardiã não tomaria a iniciativa.

    _Ruby. ? Inicia hesitante. ? Eu queria dizer que...

    _Não precisa dizer nada, Mu... Não irei julgá-lo ou obrigá-lo a sentir os mesmos sentimentos que eu sinto... Também não quero que se sinta na obrigação de falar sobre isso comigo... Na verdade, acho que seria mais simples ignorar. Desculpe-me por isso. ? Interrompe a virginiana. Ela não conseguia enxergar a possibilidade de uma resposta afirmativa vinda dele. Não conseguia ou simplesmente não queria.

    _Não há porque você pedir-me desculpas... Sabia? ? Pronuncia-se, novamente, o rapaz de cabelos exóticos.

    _Mas... ? Tenta dizer a garota, mas logo em seguida é interrompida.

    _Nem mais uma palavra! ? Diz pondo autoridade em suas falas. Queria deixar claro que não havia motivos para ela continuar escondendo-se em baixo de uma casca. ? Por que nunca me contou sobre seus sentimentos? ? Questionou voltando ao seu típico tom sereno.

    A situação havia se invertido agora, quem sempre se sentiu acuada era a pessoa com quem Ruby conversava. Mas quem estava com medo agora era ela própria. Não queria que Mu a visse ou a tratasse de forma diferente, mas, ao mesmo tempo, queria ser amada. Queria sentir-se amada.

    Tomando um pouco de coragem, a garota responde: - Eu tinha... ? Falha. Já era de se esperar, podia sentir as lágrimas teimosas já escorregando pela face. -... Medo.

    _Medo? ? Perguntou. ? De que exatamente você tinha medo? ? Ele sentia necessidade de entendê-la, de saber se o medo que ela sentia era o mesmo que ele carregava.

    _Medo... Medo de você não sentir o mesmo que eu sinto. Medo de você acabar me tratando de modo diferente do qual você sempre me tratou. ? Respondeu desviando o olhar para a sua direita.

    Então, realmente, ela sentia o mesmo medo que ele... Aquela coisa desconfortável que te impede de respirar e aperta seu peito. Ele não precisaria mais mentir para si mesmo, dizendo que não era nada daquilo que ele estava pensando, que era apenas uma impressão boba sua.

    _E se eu disser que eu a amo... Que estou perdidamente apaixonado por você. Acreditaria em mim? ? Indagou novamente levado pela curiosidade e ansiedade.

    Aquela frase havia pegado Ruby em cheio. Ela pode sentir seus batimentos cardíacos acelerarem, suas bochechas esquentarem e seus olhos arderem. Estava mesmo escutando aquilo? Precisava tirar essa dúvida: - E isso seria verdade? Que você me ama e está perdidamente apaixonado por mim?

    _A mais pura verdade. - Concluiu o ariano.

    Mais nenhuma dúvida precisava ser tirada, estava tudo resolvido, tudo esclarecido. Não precisavam mais temer. Não se deve temer o amor, não se deve temer a dor. Deve-se ter coragem! Coragem e fé para sempre poder seguir em frente, sem medo do que você vai encontrar no caminho. Por mais que você sinta receio, lembre-se: Você não precisa aguentar isso sozinho.

    Lentamente, Mu aproximou-se de Ruby. Calmamente, levantou seu rosto pelo queixo e enxugou suas lágrimas com as pontas dos dedos. Odiava vê-la chorar, gostava de sentir o calor de seu sorriso.

    _Nunca... Nunca mais desapareça deste modo de novo, me ouviu bem? ? O rapaz envolve a jovem com seus braços, protegendo-a. Não queria que ela sofresse. Aproximando os lábios do ouvido da virginiana, ele sussurra: - Te amo... Não se esqueça disso.

    Ela estava emocionada. Nunca deveria ter sido tão pessimista... Mu sempre estaria do seu lado, não precisava ter medo.

    Retribuindo o abraço, a guardiã sussurra de volta: - Também te amo...

    Duvida da luz dos astros,

    De que o sol tenha calor,

    Duvida até da verdade,

    Mas confia em meu amor.²


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