O céu estava encoberto pelas nuvens pesadas e escuras, que ameaçavam deixar cair a chuva que se formava a cima deles. O vento estava mais forte, fazendo os pequenos grãos de areia voar para todos os lados.
- Droga. Temos que achar um lugar pra ficar, nesse fim de mundo. - Tetsuo, olhava para os lados, enquanto Youji, se aproximava dele.
- Mas onde? Já viu onde estamos?! Tenho certeza de que Mita tem algo a ver com isso.
- Não sei... Fique aqui, vou ver se tem algum lugar por aqui. - O loiro, começou a correr a procura de alguém, ou algum lugar.
Sem perder tempo, Youji foi até o carro, retirando as malas do porta-malas, caso o loiro achasse um lugar para passarem a noite. ?A noite? suspirou ao pensar em tal coisa, só de pensar que passaria a noite com o homem que sempre desejara era mais que um sonho. Era surreal. Mas ele não devia pensar o mesmo, sempre fechado, sem demonstrar qualquer tipo de sentimento para com ele, ou para outra pessoa, nem para mulheres. Um pequeno sorriso surgiu em seus lábios, ao pensar em tal fato, ele era um enigma, mas precisava ser desvendado.
Poucos minutos se passaram, e Tetsuo estava acima do declive descendo na direção do moreno. Parecia que havia encontrado alguma coisa.
- Encontrei uma cabana, não é das melhores, mas não tem ninguém lá.
- Tem certeza de que não tem ninguém?
- Claro, eu verifiquei. - Foi descendo aos poucos, até ficar de frente ao moreno. - Agora pegue suas malas e vamos. Amanhã veremos o que vamos fazer. - Com um meio sorriso o moreno concordou.
Após terem pegado as malas, estavam a caminho da suposta cabana. Não era muito longe de onde haviam batido o carro, mas o lugar tinha um jeito estranho. Misterioso, digamos. O que não deixava de ser perfeito. Feita de madeira lembrava um pouco a casa de uma avó, a pequena área estava desgastada por causa do tempo, as janelas grossas de poeira não deixavam que qualquer pessoa olhasse através delas. Pararam na pequena área, tentando observar na janela o interior da cabana, mas sem sucesso.
- E agora?
- E agora o que? - Perguntou o loiro ao moreno.
- Como vamos entrar? Ou vai querer passar a noite aqui fora, com esse temporal se formando?
- Vou dar um jeito. - O loiro foi até a porta tentando abri-la mas sem sucesso. O dono do local parecia ter travado a porta com alguma coisa, mas o que? A casa já estava velha, e a fechadura enferrujada deveria ceder com facilidade.
- Quer ajuda? É só pedir. - Sorria levemente o moreno, se divertindo com a cena.
- Tsc. Eu consigo abrir.
- Tudo bem.
Ainda sorrindo, o moreno se encostou do lado da porta com os braços cruzados ao fitar o loiro, que tinha dificuldade em abrir a porta. Enquanto o vento ficava mais forte e as nuvens cada vez mais pesadas, deixando algumas gotas de chuva cair, eles se mantinham onde estavam. O loiro, forçando a porta sem sucesso, e o moreno ao seu lado se divertindo.
- Não quer mesmo ajuda?
- Não, já vai abrir... - Mais uma forçada e nada. - Porra de porta.
- Há, mas eu posso ajudar. - O moreno sorriu mais abertamente ao loiro, que o fuzilava com o olhar.
- Já disse que não preciso.
- Precisa sim, não seja teimoso cara.
- Já disse que... Ah ? O loiro ao apoiar o braço contra a porta, a mesma despencou levando-o junto ao chão. O moreno não agüentou, começou a rir daquela cena que presenciará.
- Você está bem? - Dizia o moreno contendo o riso.
- Cala a boca.
Ao se levantar, limpou as roupas bruscamente sujas pela poeira que estava a porta. Pegou sua mala, entrando na casa sem fitar o moreno que parava de rir aos poucos. Mal dava para enxergar o interior do local, o cheiro de mofo era forte, isso era a única coisa que dava para sentir além da escuridão predominante que os impedia de enxergar qualquer coisa ali dentro. Deixaram as malas em um canto qualquer, em busca de um interruptor ou uma vela para acender.
- Não enxergo nada aqui.
- Muito menos eu. Onde deixou a sua mala?
- Em algum lugar Tetsuo, e você?
- A mesma coisa. - O loiro havia esbarrado em alguma coisa, enquanto procurava alguma coisa.
- O que foi?
- Achei um negócio... Parece ser uma vela, mas sem isqueiro não tem como acender. - Antes que o loiro jogasse fora a vela, Youji estava com o isqueiro na mão, iluminando um pouco o lugar.
- De onde tirou esse isqueiro?
- Estava no bolso do meu casaco.
- Hum...
Foi a única coisa que Tetsuo disse. O moreno havia acendido a vela junto de outras onde o loiro havia esbarrado. Com a cabana iluminada internamente, não parecia tão ruim assim como do lado de fora. Uma cama se encontrava num canto qualquer junto de um criado mudo, uma mesa estava do outro lado, e uma porta meio aberta revelava o banheiro que tinha, não era grande e nem tão pequeno, mas demonstrava certo aconchego. Os dois resolveram arrumar um pouco o lugar antes de se ajeitarem por ali naquela noite, os pingos de chuva já eram ouvidos sobre a cabana. A porta que havia caído, foi colocada no lugar com um pedaço de madeira passado atrás dela, para não cair mais, a cama estava um pouco ajeitada com os improvisos que Youji havia feito. Agora ambos poderiam descansar, mas qual deles dormiria na cama.
- Youji, pode dormir na cama. Eu me ajeito no chão.
- Não, durma você na cama. Está merecendo mais do que eu. - O moreno estava sentado na cama, percebendo que o loiro não o fitava.
- Não. Você irá dormir e ponto.
-... Porque você é assim? - Youji abaixou a cabeça, apoiando os cotovelos no joelho.
- O que quer dizer Youji?
- Você é fechado, não se abre com as pessoas... Muito menos comigo. - Sussurrava.
- Não sabe do que está falando.
- Ah não sei?! - Havia se levantado, indo na direção do loiro que mantinha o olhar longe dele.
- É você Tetsuo que não consegue enxergar as coisas a sua volta. Pare de ser assim.
- É claro que eu enxergo. - Num movimento rápido, Tetsuo prensou Youji contra a parede, fitando-o com uma intensidade.
- Você não se abre... Não conta nada a ninguém... Me... Evita.
- Quero que me fale apenas uma coisa Youji. Você ama? - Surpreso com a pergunta, não teve coragem de fitar o loiro. - Me responda Youji, você ama? Me deseja como demonstra?
-... Sim. - Foi a única coisa dita por ele.
- Então você irá me conhecer agora.