- Ei, vocês ouviram algo? ? perguntei.
- Acho que sim, você também ouviu? ? Lúcia questionou.
- Eu ouvi também. ? Zidane concordou.
Assim que viramos os rostos, Lúcia gritou. Caída no chão, e envolvida por nada menos do que cobras, estava Unic. Seu rosto estava vermelho por algo que parecia febre, e estava desmaiada. Ela estava muito atrás de nós, tanto que poderia ter caído há minutos sem termos notado.
- Unic! - gritei correndo até ela junto com os outros. Assim que nos detectaram, as cobras fugiram para dentro da mata, largando-a. ? Ei ei, acorde! ? disse, me ajoelhando perto dela e dando tapinhas em seu rosto, o que não ofereceu reação.
- Se não estivéssemos tão distraídos... ? Zidane disse, batendo com raiva no chão, enquanto eu a ajeitava no colo e me levantava. ? Ukyo, olha se ela está quente ou é só impressão...
Coloquei a mão sobre a testa dela, e retirei quase imediatamente, pois estava muito quente. Observei que não havia nenhuma marca de mordida pelo seu corpo. Por um instante achei que ela havia desmaiado de susto, mas, aí, olhei para seu ombro direito. Alguma coisa a havia perfurado ali, atravessando o tecido da roupa, e fazendo um corte um pouco abaixo do ombro, errando por pouco o coração. O ferimento não parecia fundo, mas, além de sangue, um liquido prateado se encontrava em volta do ferimento. Notei que Lúcia olhava para o mesmo ponto do ombro que eu, e esta, passou a mão em volta do ferimento, e examinou o líquido em frente aos olhos.
- Eu sei o que é isso... É como um sonífero, mas, com alguns efeitos extras... Ele causa certa dor a vítima, e vai levar aproximadamente uma hora para que o efeito passe e esse corte comece a cicatrizar... Aliais, isso não foi nem de longe feito por uma cobra, é claramente uma espada. Acho que podemos limpar o machucado... Tem algum pano?
Assenti com a cabeça e lhe entreguei um pequeno pano que levava comigo. Esta o molhou e passou pelo ombro de Unic.
- Bom, acho que não adianta ficarmos por aqui, certo? ? Zidane disse, recuperando a calma. ? Vamos só achar esse garoto e ir embora daqui...
- Concordo... Ah, e Ukyo, quando ela acordar, é melhor que deixe-a no seu colo mesmo, ou pelo menos bem perto. Isso aconteceu porque ficamos separados demais, a partir de agora vamos andar todos juntos, tudo bem?
- Pode deixar, se você deixar eu posso até amarrar ela, por precaução. ? disse, tentando quebrar o gelo.
- Não queremos que se distancie ainda mais de nós, é melhor não. ? Lúcia rebateu, rindo de leve., mas, com um tom preocupado.
Assim, lá se fomos nós, uma maga amedrontada, um ladino com complexo de culpa, e eu, carregando uma garota de doze anos no colo por uma floresta podendo ser atacado a qualquer momento, a procura de um pirralho que está aparentemente vivo, depois de quatro anos preso. Fico um pouco sem jeito de admitir, mas, era realmente muito agradável carregar Unic por quarenta minutos. Se não estivesse acordada, era praticamente um anjinho corado (de febre no caso), eu tinha que me conter para não colocar um laço quando ela fazia barulhinhos de pessoa dormindo. Depois de algum tempo, resolvemos nos sentar em cima de uma caverna a qual achamos, já que em meio aquela mata fechada seríamos alvos mais fáceis. Quando subimos, Lúcia acendeu uma pequena fogueira, com um toque de magia para que não soltasse fumaça e atraísse outros animais. Me sentei com Unic ainda encostada em mim ? adormecida ? enquanto Zidane olhava continuamente um mapa que trouxera.
- Ei, esse mapa é realmente daqui? ? perguntei.
- Sim, mas, existe antes mesmo de prenderem o garoto nessa floresta. Acho que muitas coisas devem ter se tornado diferentes. ? ele disse, ainda examinando o mapa.
- Falta pouco para que ela acorde... ? Lúcia disse de repente, indicando Unic. ? Sabem... ? ela disse, baixando a voz até que esta se transformasse em um sussurro. ? Antes das cobras saírem... Vocês viram um... Vulto?
Aquelas palavras tão baixas, não poderiam ter sido ditas em melhor momento, pois assim que os lábios de Lúcia se fecharam, Unic abriu os olhos, muito devagar, ainda os fechando um pouco antes de abrir de uma vez. Levou alguns segundos para notar aonde se encontravam e se sentou imediatamente, mas, quando estava prestes a levantar, eu a puxei de volta e a prendi com meus braços, mudando meu tom de voz para um divertido:
- Nada disso, senhorita indefesa. ? eu disse, meio cantarolando.
Ela não respondeu, e nem fez mais do que tentar se soltar com tão pouca força que foi o mesmo de ela nem ter tentado, e logo em seguida se aquietou.
- Que seja. ? esta respondeu num tom de voz vago como se estar sentada ali fosse o mínimo de seus problemas.
Lúcia parecia estar arrumando coragem para continuar a falar, porque, olhando diretamente para Unic, falou baixo e apressadamente:
- Você também viu, não foi? Você viu o vulto...
Unic apenas a encarou por breves segundos, e disse num tom morto:
- Não.
- Você viu sim! Ele estava bem atrás de você, não me faça de estúpida! Você viu! ? disse Lúcia, inesperadamente perdendo a calma e aumentando o tom de voz.
Unic apenas revirou os olhos, e respondeu, amargamente:
- Então mesmo que seja mentira te deixaria feliz ouvir-me concordar com sua ideia sem fundo? Então, pois bem, ??eu vi??. Feliz?
Lúcia não respondeu. Talvez chocada por Unic ainda guardar rancor da leitura de mente ou do ?passeio?? no dragão, ou simplesmente sem forças para reagir a tanta frieza, e com esse comentário infeliz, voltamos a andar, Unic, mesmo que contra sua vontade, perto de todos. Zidane e eu não conseguimos nos adaptar bem aquele clima tenso que se formara, por isso tentamos começar uma tímida conversa dragões, que foi amigavelmente interrompida quando avistamos novamente um ser vivo na floresta. Um corpo que se assemelhava ao de uma mulher, se encontrava no chão. A anatomia de suas pernas se assemelhava a de um pássaro nas coxas, para não falar de seus ??pés??,que eram garras. Algumas penas vermelho-cor-de-sangue cobriam certas áreas de seu corpo ( pernas, e uma parte da cintura ), e em vez de braços, asas vermelhas surgiram de seus ombros, sendo que na ponta destas, haviam mãos, com dedos tão finos e afiados que poderiam ser garras, isso se já não fossem. Seu rosto era quase humano, se não fosse por seus olhos, estranhamente vidrados e semelhantes aos de um gato ( vermelhos ). Seus cabelos mais pareciam chamas, e agora eu acabara de perceber, que nada cobria a região de seus seios, o que me fez virar o rosto, mas, logo voltei a olhá-la, ao ouvir o gemido de Lúcia. Escrito com um líquido dourado que eu acabara de ver, escorria da testa dela, estava uma mensagem que não podia ter deixado mais claro a nossa situação:
Estou esperando você, Alli. Por que demorou tanto? Não vou medir esforços... Então me desculpe, mas, vou ter que te machucar um pouquinho...
Zero.
E assim que meus olhos passaram pela assinatura do remetente, senti meu corpo sendo jogado contra o chão, e ligado a grama por correntes de raízes, e ao tentar mover o pescoço, vi que isso havia acontecido com todos, exceto por... Unic, que ainda estava em pé.
- O que está esperando? Aju... - Lúcia começou, mas, parou subitamente ao olhar de novo para Unic.
Sim, ela estava livre e de pé, todavia, tremia descontroladamente, enquanto olhava fixamente para a figura parada em sua frente.