Era inverno. Céu nublado, neve caindo e de manhã. As aulas tinham acabado há 3 dias, logo, era de se esperar que não houvesse nem um adolescente indo pra escola ou saindo de casa num dia desses. Não sei porquê sai de casa naquele dia frio e feio, só sei que ficar em casa me cansava.
-Mãe, você precisa buscar algo?
-Você vai sair Ayaka?
-Sim, você quer que eu pegue algo por você?
-Não, não precisa. Pegou o casaco?
-Peguei!
-Então tome cuidado no caminho e não demore.
-Certo, certo, estou indo!
Engraçado. Quando eu tinha 15 anos tudo parecia tão mais fácil e simples. Eu pensava que o amor bateria à minha porta num dia ensolarado, geralmente em um desses festivais que minha mãe sempre quis que eu fosse de yukata, se bem que eu ficava bem bonita usando um. Sem querer ser esnobe, mas eu era bem bonitinha sem ele também: pele macia e branca, olhos castanhos e brilhantes, cabelos longos e repicados, castanho um pouco avermelhado. A franja era sempre dividida no meio e também repicada, minhas unhas sempre estavam pintadas. Naquele dia, eu estava com uma calça jeans azul, um casaco um pouco longo e de cor rosa claro. Eu sempre odiei o rosa, mas quando era claro eu até que não me importava. E claro, num dia frio como aquele, uma bota que ia até o começo de meus joelhos. Nunca usei gorro, eu não gosto deles.
-Será que falta muito pras aulas começarem? ? e sim, eu não tinha noção de tempo ? Quero voltar logo... Hm, o que é isso?
Sim, foi exatamente neste momento que me encontrei com ele. Sentado em um dos balanços do parquinho, usando um casaco marrom, calça jeans azul e um tênis da Nike branco, com um cabelo preto repicado que era comprido. Olhos fixos no céu. Eram olhos pretos também, que tinham uma profundidade inebriante. [i]
-Vai pegar um resfriado se ficar sentado ai o dia todo sabia?
[i]E para variar, ele nem sequer tirou os olhos do céu por um instante sequer.
-Ooooooi! Eu estou falando com você! ? chegando casa vez mais perto.
-Gosta tanto assim do céu que não consegue tirar os olhos dele por um minuto sequer para pelo menos responder alguém que fala com você? ? falei isso colocando meu rosto perto ao dele. Claro que se assustou e se desequilibrou. Mas pra piorar, ele não se contentou em cair sozinho, tinha que me segurar e me derrubar também.
Sim sim, foi sem querer, mas às vezes me irritava.
-Aaaaah, isso doeu, e está gelado também!
-Mas é claro! Está nevando você não viu?
-Nevando? Aaaah, é mesmo. Erm... será que você poderia sair de cima de mim? ? como ele me deixava com vergonha!
-Ah desculpa, não reparei, desculpa! ? e eu sempre ficava vermelha, ele adorava isso.
-Hah, não se preocupe. E a propósito, você fica bonitinha quando está com vergonha. ? ele sorriu. Como eu gostava do seu sorriso. Os dentes brancos à mostra sendo contornados suavemente pelos seus lábios. Mesmo nevando e estando frio, ao ver aquele sorriso, que era tão quente, acabei esquecendo até de que era inverno.
Sem perceber, fiquei encarando ele. Era como se ele estivesse brilhando, e aquele sorriso me hipnotizou pela primeira vez. A sensação era de que o tempo havia parado. Eu queria poder ficar ali para sempre, olhando aquele belo sorriso que de certa forma, me confortava tanto.