A floresta
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Lá estava a criança albina. Seu vestido vermelho rodado contrastava muito bem com sua pele de um branco muito incomum.
Ela rodava e rodava. Os poucos raios de Sol que passavam pelas densas camadas formadas pela folhagem das árvores, davam a visão de um lindo cenário.
Era como se a magia habitasse aquele trecho da floresta.
A folhagem era a única proteção da jovenzinha. A única coisa que separavam os severos raios solares, da sua pele branquinha e frágil.
Ela cantarolava uma cantiga antiga, algo em uma língua estranha.
Mas como uma garotinha poderia cantar algo assim?
Parecia tão velha.
E era.
Ela parou de rodopiar e cantar. Ela olhou para o alto da árvore de tronco grosso a sua frente.
Era a árvore mais velha daquela floresta.
A garotinha estranha se aproximou da árvore e tocou em seu tronco com delicadeza.
Ela seguiu, com seus olhos verdes, até o topo da mesma.
Viu as poucas fendas que deixavam os poucos raios solares passarem.
Ela sorriu.
Seu sorriso era agonizante. Ele transmitia o mal que habitava o pequeno coração.
Ela balançou a cabeça lentamente de um lado para o outro, começou a cantarolar a melodia da cantiga que outrora cantava.
Fechou os olhos como se sentisse a melodia passar por cada célula de seu corpo.
Ela ainda detinha o sorriso maléfico.
Ela caminhou lentamente em volta do tronco da grande anciã daquela floresta.
Seu espirito parecia esperar algum acontecimento, o que não demorava.
E ela cantarolava.
Os fios de seu cabelo encaracolado eram vermelhos. Havia pequenas sardas em suas bochechas. A pequena não deveria ter mais de dez anos.
Mas, ainda assim, era má.
Ela sentiu os passos se tornando mais audíveis.
Seu sorriso aumentava.
? Lá vem o caçador... Pela floresta sombria... Vem salvar a pobre garotinha... ? Dizia ela de forma cantada.
A pequena se divertia com a situação que se formava.
Ela parou de caminhar.
Sua cabeça tombou de forma curiosa para o lado, olhava fixamente para a escuridão que se formava na parte mais densa da floresta.
O sorriso dela só aumentava à medida que os passos se aproximavam.
? La vem o caçador, pela floresta sombria, vem salvar a pobre garotinha. ? Disse ela num sussurro rápido e cantado.
E o homem apareceu.
Ele parecia assustado.
Olhou para a face da criança e chocou-se ao vê-la ali sozinha.
? Onde estão seus pais, jovenzinha? ? Perguntou ele demonstrando sua preocupação.
Ela não respondeu.
O sorriso se dissipou de sua face ao ouvir aquela pergunta. Ela olhou de forma desolada para o homem. Sua expressão foi se tornando abatida, frustrada, chocada... Agonizante.
Ela encarou o chão, parecia pensar nas palavras do homem.
? Meu pai me abandonou... ? Sussurrou ela lentamente.
O homem se aproximou.
Ela não o observava mais, apenas ouvia os sons das folhas secas, que se despedaçavam a medida que ele caminhava.
Ele detinha a respiração ofegante, o ar podia ser visto ao sair de sua boca.
Estava frio.
Mesmo com o Sol, o frio ainda podia ser sentido.
? Deves sentir frio, estou certo? ? Falou ele vendo que a pequena só usava um vestido vermelho e meias brancas.
A garotinha não respondeu.
O homem deu mais um passo em direção a ela.
? Estás bem? ? Perguntou ele preocupado.
Ela levantou o olhar lentamente.
Seus olhos verdes não demonstravam nada, eram vazios e apenas jaziam em sua face para proporciona-lhe visão.
? És tolo de caminhar sozinho por uma floresta como está, caçador. ? Disse ela apenas o fitando, sem expressar nada em sua face ou voz.
O homem surpreendeu-se ao notar que a pequena tinha conhecimento de sua função.
Mas como?
Sua arma não estava consigo, na verdade estava perdido naquela floresta, perdeu-se após escutar gritos e correr desesperadamente até estes.
Pobre homem.
? Uma menininha não pode falar assim com um adulto. ? Disse ele tentando parecer o mais amigável possível.
Ela demonstrou, então, seu sorriso maléfico.
O sorriso largo, mostrando seus dentes afiados.
Seus olhos adquiriram um brilho sádico, pela primeira vez mostrando algo além da frieza.
? Não sou uma menininha, caçador.
Ao terminar sua fala, pulou com destreza contra o caçador. Atacou, com seus dentes afiados, o pescoço do pobre homem.
O sangue jorrou e manchou a pele da albina. Seus fios ruivos e encaracolados se sujaram com o sangue.
O sorriso ainda era maléfico.
Ela viu a vida sumindo dos olhos azuis do homem.
? O caçador se foi e não salvou a menininha... ? Disse ela com a perversidade de um demônio.
O que de fato era.
Bebeu a quantidade de sangue que achou necessária.
Ao terminar levantou-se e andou em volta do corpo desfalecido.
Sua face suja pelo sangue, seus cabelos com algumas folhas secas presas, seus olhos com o brilho sádico.
Ela balançava a cabeça de um lado para o outro.
E voltou a cantarolar a cantiga em língua desconhecida.
Fechou os olhos, inalou o cheiro do sangue fresco.
Estava perfeito.
Ao terminar seu ritual bizarro, a jovem abriu os olhos novamente.
Agora já estavam sem vida, sem expressão.
Ela pôs-se a caminhar pela floresta, deixando o corpo do homem para trás, cantarolava calmamente.
Seus ouvidos agudos detectaram novos passos ao longe.
Ela sorriu maleficamente.
? AH! ? Gritou de forma amedrontada.
E ficou ali parada.
Seu sorriso maldoso estava presente.
Ela mataria de novo.
E o companheiro do caçador apareceu.
Viu a menina ali e assustou-se.
? Quem és tu garotinha? ? Perguntou ele compadecendo do estado lamentável da jovem.
Toda suja de sangue.
? Não sou uma garotinha. ? Ela disse fazendo uma expressão inocente. ? Sou um demônio. Estou com fome.
? Demônio? ? O homem falou assustado. ? Que tipo de demônio tu és?
Mas o demônio não respondeu. Avançou contra o homem e, mais uma vez naquele dia frio, ela matou e se alimentou.
Ao terminar seu ritual de caminhar em volta do corpo ela sorriu largamente, deixando todo o mal que existia em seu ser se mostrar.
? Sou o demônio desta floresta, o demônio sedento por sangue... Esperando a salvação de meu Pai... Chamo-me Lúcifer. ? E ela voltou a cantarolar.
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