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Desmond tratou de pegar uma lata de refrigerante e abriu com toda vontade que sua sede podia demonstrar, tomando o primeiro gole com uma satisfação quase pornográfica. Malika caminhou lentamente pela sala do apartamento, observando tudo com uma curiosidade caipiresca; e quando vislumbrou a visão da janela pra avenida principal, ficou impressionada. Desmond reparou, após um suspiro:
- Gostou da visão da janela?
- S-sim? -respondeu ela, com os olhos claros brilhando de fascinação. ? é uma cidade tão bonita a essa hora da noite? Parece mágica!
- Pois é? Parece mesmo mágica? E justamente é o que faz dela uma cidade bastante perigosa.
Malika olhou intrigada para Desmond, que olhava vagamente para a avenida, como se estivesse perdido em pensamentos. Aquele comentário deve ter despertado alguma coisa ruim; uma lembrança talvez. Mas Malika manteve o silêncio, tentando respeitar o espaço particular de Desmond, aquela área de autofuga que impede qualquer pessoa de se aproximar sem ser autorizado. Num repente, o rapaz de feições árabes acordou de seu devaneio, e com os olhos mais abertos do que nunca, como se tivesse se lembrado de algo:
- Ah! Antes que eu me esqueça! Tem espaço de sobra num lado do meu guarda-roupa; fica de boa pra colocar as suas roupas lá!
-Okay? - Malika ficou vermelha novamente com o súbito de Desmond.
- E tem toalha limpa lá também; acho que você não deve ter trazido toalha e tal? Se caso precisar de algo mais de garota, sabe que tem um mercadinho ?24 horas? do outro lado da avenida ali, ó! ?Desmond apontou pra janela, e Malika acompanhou com o olhar, conseguindo ver o tal mercadinho. ? Qualquer entrave, corre pra lá que deve ter o que você precisa!
- Obrigada pela gentileza?
Desmond ficou surpreso com o sorriso mais aberto de Malika. Dava a sensação de ser um sorriso mais sincero, mais espontâneo que os anteriores, tinha o peso de um verdadeiro sentimento de gratidão. Tal honestidade o deixou desconcertado, o que o fazia coçar a nuca. Após uma leve gaguejada, Desmond foi dando instruções quanto a roupas de cama limpa e onde ela iria dormir ? obviamente ele cedeu a própria cama para ela, sobrando-lhe o sofá. E enquanto ele preparava uma última refeição rápida (entenda como uma tigela cheia de cereal com leite), a surpresa: Malika saiu do banheiro evaporado exalando o mais doce perfume que uma garota conseguiria emanar de seu corpo esguio, apenas coberto por um par de meias grossas tipo loose, uma calcinha sport vermelha de beiradas amarelas com os inscritos ?San Francisco 49ers? no traseiro e um blusão de moletom branco liso com zíper e capuz. Tal visão deixou Desmond abobado e boquiaberto; não seria difícil deduzir que vê-la daquela forma o deixou levemente perturbado? Para sua sorte, a bancada da cozinha o salvou de um constrangimento ainda maior do que sua expressão estupidamente fascinada já estava lhe causando.
Com toda graciosidade que sua timidez podia criar naturalmente, Malika aproximou-se da sala em direção da bancada da cozinha, com a face corada e com a expressão aflita, como se não soubesse pra onde olhar. E com a voz baixa e fininha, ela se dirigiu a Desmond; ainda estava hipnotizado:
-? Desculpa os trajes que estou usando? É que a calça moletom que você emprestou é muito grande e não tem cordinha pra amarrar?
- Hã?? Heim, o que foi?!
- A calça? Não a vesti por que cabe duas de mim?
- Ah, a calça? ?Desmond parecia muito perdido. ? Ah, sem problema! Pelo menos você tá de calcinha!
Tal comentário deixou Malika extremamente vermelha, mas ela soltou um risinho malicioso. Desmond tentava manter a naturalidade o máximo que podia, enquanto se esforçava para não se empolgar novamente com a imagem de uma garota linda só de calcinha e blusão dentro do seu quarto. Que tentação era aquela?!
Uma brisa da madrugada escapou pela janela da sala, o que fez a jovem tremer um pouco de frio. Num ato puramente mecânico, Malika puxou o capuz do moletom e cobriu a cabeça, deixando apenas metade do rosto visível. Desmond engoliu em seco e arregalou os olhos. Ela parecia uma Hashashin.